Enquanto o Rio Grande do Sul ainda não conseguiu nem sequer contar seus mortos na pior tempestade já registrada no estado, no resto Brasil quem faz estragos é o fogo: o número de queimadas no país de janeiro a 1o de maio de 2024 – 17.421 focos – já é o maior da história desde o início das medições do Inpe, em 1998. Na Amazônia, a alta é de 148%; no Pantanal, bioma que ainda não se recuperou da devastação de 2020, a elevação é de quase 1.000%.
As duas tragédias carregam a impressão digital da crise do
clima e reforçam a urgência de falar sério sobre adaptação no país. Ao mesmo
tempo, o governo federal precisa correr para tomar medidas que impeçam que a
situação se agrave ainda mais – socorro aos gaúchos e o fim da greve do Ibama.
As chuvas extremas no sul da América do Sul, que inclui toda
a bacia do Prata, são há décadas uma previsão recorrente dos modelos
climáticos, informação ignorada por sucessivos governos estaduais. “Enquanto
não se entender a relevância da adaptação, essas tragédias vão continuar
acontecendo, cada vez piores e mais frequentes”, diz Suely Araújo, coordenadora
de políticas públicas do Observatório do Clima.
Segundo ela, é preciso pensar em recursos vultosos a fundo
perdido. “Municípios não vão sair pedindo dinheiro emprestado para ações de
adaptação. Elas requerem um mecanismo específico, nos moldes do Fundo
Amazônia.”
Fogo
A disparada das queimadas neste semestre preocupa, uma vez
que a estação seca na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal está apenas começando.
Ela sugere que os impactos da seca extraordinária de 2023 ainda perduram e que
a estação chuvosa de 2023/2024 não foi suficiente para umedecer o solo e
impedir o fogo.
“As queimadas estão batendo recordes mesmo com os alertas de
desmatamento em queda no Cerrado e na Amazônia nos primeiros cinco meses do
ano, o que sugere influência do clima. Se o governo não tomar medidas amplas de
prevenção e controle, teremos uma catástrofe nos próximos meses”, diz Marcio
Astrini, secretário-executivo do OC.
“Precisamos de uma ampla mobilização da União e dos
governos estaduais, além de resolver a greve hoje instalada em órgãos
ambientais, como o Ibama. Mas, infelizmente, o quadro que se desenha é de uma
prorrogação indefinida da greve, já que o atual governo preferiu dar aumento à
corporação que tentou impedir sua eleição do que aos servidores que entregam um
dos seus principais resultados.
Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 107 integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática (oc.eco.br). Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil (seeg.eco.br).
Estamos em uma crise climática mundial. Modelos previam
aumento da precipitação na região Sul há uma década, mas falta de ações de
adaptação e retrocesso na legislação ambiental deixaram o Rio Grande do Sul
ainda mais vulnerável aos eventos extremos. #SOSRS #PacotedaDestruição
Estamos em uma crise climática mundial. Modelos previam aumento da precipitação na região Sul há uma década, mas falta de ações de adaptação e retrocesso na legislação ambiental deixaram o Rio Grande do Sul ainda mais vulnerável aos eventos extremos. #SOSRS #PacotedaDestruição pic.twitter.com/p9ZYOwoWSP
— Observatório do Clima (@obsclima) May 7, 2024
Enquanto o Congresso ri do povo brasileiro, destruindo nossa legislação ambiental, nos deparamos com tragédias como a do Rio Grande do Sul, que estão diretamente ligadas às mudanças climáticas. @MarcioAstrini
Enquanto o Congresso ri do povo brasileiro, destruindo nossa legislação ambiental, nos deparamos com tragédias como a do Rio Grande do Sul, que estão diretamente ligadas às mudanças climáticas. @MarcioAstrini 👇 pic.twitter.com/khz1gW9iLG
— Observatório do Clima (@obsclima) May 7, 2024
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Fonte: Observatório do Clima