Lista envolve ainda suspeitas de corrupção e disputa por
terreno com o Teatro Oficina, em São Paulo
Apresentador e empresário fez fortuna mantendo proximidade
com o poder - Alan Santos/Presidência da República
O ano era 2020. Com a primeira fase da pandemia de covid-19
ainda em curso - sequer havia vacinas para os idosos -, o então presidente da
República Jair Bolsonaro (PL) compareceu com pompa ao aniversário de 90 anos de
Silvio Santos, dono do SBT, morto neste sábado (17).
As afinidades entre Silvio e o ex-presidente eram óbvias. O
genro de Silvio Santos, Fábio Faria, foi ministro das Comunicações de Bolsonaro
entre 2020 e 2022.
Além disso, nomes proeminentes do SBT, como o apresentador
Ratinho e o próprio Silvio Santos, prestavam apoio ao ex-presidente, agora
inelegível, e usavam seus programas como palanque da família Bolsonaro desde,
pelo menos, sua eleição. As verbas governamentais também fizeram diferença: o
governo Bolsonaro fez cair a diferença entre as verbas repassadas à Globo e ao
SBT.
Na ocasião, o Brasil de Fato listou motivos
para que um presidente evitasse homenagens ao empresário e apresentador. Desde
então, a lista aumentou, com a disputa por um terreno na região central de São
Paulo com o Teatro Oficina. Confira as controvérsias:
Na época, quem governava o Mato Grosso era o pecuarista José
Fragelli, da Arena, partido de sustentação do regime. Segundo o portal De Olho nos Ruralistas, ele costumava
facilitar a venda de terras para empresas e pessoas "simpáticas ao
regime".
2 - Apoiador da ditadura
Para manter a concessão, contrapor o domínio da Globo e
equilibrar o acesso a verbas de publicidade, Silvio Santos fazia manifestações
explícitas de apoio aos presidentes militares e seus ministros. O SBT era
conhecido por programas "popularescos" e representava, aos olhos dos
militares, um canal direto de comunicação com a classe trabalhadora.
Em fevereiro de 2020, durante o governo Bolsonaro, Silvio
Santos decidiu recriar o programa "A Semana do
Presidente", exibido durante a ditadura com detalhes sobre a
rotina dos militares que governavam o país. A ideia foi suspensa após críticas
por seu caráter "bajulatório".
Episódio semelhante já havia ocorrido em 2018, no contexto
da eleição de Bolsonaro, quando o SBT passou a exibir vinhetas com as cores da
bandeira brasileira nos intervalos comerciais da sua programação.
A vinheta causou indignação e foi retirada do ar no mesmo
dia.
3 - Afeito à censura
No dia 23 de maio de 2020, o assunto mais buscado nas redes
sociais e debatido em todo o país foi o vídeo da reunião ministerial de Bolsonaro, que
revelou o caráter autoritário e a falta de pudor da equipe de governo federal.
Frases reveladoras, como “passar a boiada” e "botar os vagabundos do STF na cadeia" foram
ditadas naquela reunião pelos ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e
Abraham Weintraub, então responsável pela pasta da Educação.
"O episódio é mais um de uma série de intervenções no
jornalismo do 'dono' do SBT, Sílvio Santos, que solenemente ignora o fato de
que se trata de uma concessão pública, o que, legalmente, o obrigaria a cumprir
uma série de requisitos impedindo que a TV fosse usada em benefício de
interesses políticos particulares", conclui a nota do FNDC.
4 - "Sexo, poder ou dinheiro?"
Essa pergunta foi feita em 2016 por Silvio Santos, durante
um programa do SBT, a uma criança de cinco anos.
O caso foi alvo de um inquérito do Ministério Público
Federal (MPF). "A criança e o adolescente têm direito ao respeito e à
dignidade como pessoas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de
direitos civis, direito ao respeito que compreende a inviolabilidade da
integridade psíquica, abrangendo preservação da imagem", diz o texto da
Procuradoria Regional em São Paulo.
Ainda segundo o MPF, a livre manifestação do pensamento não
é direito absoluto, sendo assegurado o "direito de resposta, proporcional
ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem".
Sobre aquele episódio, o SBT informou que "a genitora
da menor ajuizou ação de indenização contra a radiodifusora em defesa dos
interesses individuais e personalíssimos", e que "não ocorreu nenhum
tipo de solapamento difuso dos direitos imanentes às crianças".
O quadro "Miss Infantil", exibido à época sob a batuta de
Silvio Santos, também tem sido criticado por especialistas. Meninas de sete a
dez anos de idade desfilam, muitas vezes com roupas de banho, e recebem elogios
dos apresentadores e jurados.
5 - Acusação de racismo
Silvio Santos foi acusado de racismo em dezembro de 2019 ao
tirar um prêmio musical de uma candidata negra, contrariando a escolha do
auditório, durante o quadro Quem você tira?.
"Estou vendo daqui que você engordou um
pouquinho", disse à assistente de palco Helen Ganzarolli durante o
programa Jogo dos Pontinhos. "Me faça um favor: não engorde,
porque você é a única musa que eu tenho."
São comuns ainda declarações como "depois que o Luciano
Huck casou com a Angélica, deu um trato nela e ela ficou linda", assim
como "brincadeiras" sobre a roupa das mulheres no palco.
A postura sexista desperta críticas até da própria família.
A filha e também apresentadora Patrícia Abravanel chegou a dizer no ar:
"Não gosto de ver meu pai fazendo a pegada de velho taradão, falando de
sexo. Vem qualquer mulher bonita e ele fica comendo com os olhos, não
precisa".
Em 10 de novembro de 2018, durante o programa Teleton,
Silvio Santos disse ao vivo que preferia não abraçar a cantora Cláudia Leitte
pois ficaria "excitado".
No Teleton de 2016, o apresentador já havia se recusado a
dançar com a cantora Anitta com o mesmo "argumento", em tom de piada.
"Senti-me constrangida, sim", disse a
cantora nas redes sociais. "Quando passamos por
episódios desse tipo, vemos em exemplificação, o que acontece com muitas
mulheres todos os dias, em muitos lugares. Isso é desenfreado, cruel, nos fere
e nos dá medo. A provocação vem disfarçada de piada, e as pessoas riem, porque
acostumaram-se, parece-nos normal".
Silvio Santos se recusou a pedir desculpas sobre o caso.
9 - Silvio Santos x Teatro Oficina
Ao lado do Teatro Oficina, na região central de São Paulo,
existe um terreno que é alvo de disputa entre o grupo do
apresentador de TV e a companhia, que deseja transformar o local em um parque
público. Já Silvio Santos tinha outros planos: a construção de torres de
apartamentos. A batalha jurídica pelo local já dura mais de 40 anos.
A disputa envolve a preservação do prédio do Oficina, que é
tombado, e os planos de investimento que eram tocados pelo Grupo Silvio Santos
(GSS).
À época, a companhia de teatro informou que se deparou com o
fechamento dos arcos do imóvel, o que configuraria "um ato ilegal" e
"violência simbólica e concreta contra patrimônio material e imaterial
tombado nas três instâncias de proteção (municipal, estadual e federal)".
Mais de dois anos após a independência do Brasil do Reino
Unido de Portugal, os Estados Unidos reconheciam o país como uma nação
soberana, em 1824, e eram inaugurados os laços políticos, econômicos e
culturais que completam dois séculos neste domingo (26). Porém, as relações nem
sempre foram marcadas por amistosidade e parceria.
Segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás
da China, e terceiro maior parceiro econômico, os Estados Unidos e o Brasil
comemoram 200 anos de relações diplomáticas neste 26 de maio de 2024.
Em comemoração à data, os países vão elaborar um mapeamento inédito sobre
comércio bilateral e investimentos que envolvem as duas maiores economias das
Américas. Ao ultrapassar o produto interno bruto (PIB) do Canadá no ano passado,
o Brasil retomou a segunda posição na região.
Durante o século XIX, com predomínio do período imperial brasileiro, até 1889 a política externa
dos dois países foi marcada mais por divergências do que por
aproximações. Enquanto os Estados Unidos adotavam um sistema republicano, o
Brasil manteve a monarquia e, com isso, era mais próximo da Europa.
Mesmo assim, Washington já se envolvia diretamente
em revoltas republicanas no país, como a Farroupilha e a Balaiada, com o
objetivo de implantar seus ideais na jovem nação. Mas foram justamente as
questões econômicas que viraram a chave da parceria. Depois que o território
brasileiro se tornou o maior produtor de café do mundo, houve uma forte
aproximação, que se manteve firme até 1865, no fim da guerra civil
norte-americana, quando o Brasil perdia seu principal aliado escravocrata no
continente.
Passados os primeiros anos após o fim da monarquia
brasileira, a jovem república, sob a figura do então ministro das Relações
Exteriores José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco,
uma nova política externa brasileira foi estabelecida. Apesar
de não se configurar como um "alinhamento automático" com os EUA, o
país passou a ser visto na América do Sul como um guardião da Doutrina Monroe.
Já na Era Vargas, em que o mundo vivia os impactos do colapso da Bolsa de Nova York em 1929 e a Grande
Depressão, houve uma tentativa brasileira de independência econômica e busca
pelo maior desenvolvimento social, o que gerou afastamento dos EUA até anos
antes do início da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, a política
externa brasileira ficou conhecida como "jogo duplo".
Por que os Estados Unidos apoiaram a ditadura no Brasil?
Em um contexto de Guerra Fria entre EUA e União Soviética, a
interferência norte-americana no Brasil chegou a tal ponto que Washington foi
responsável por um dos períodos mais turbulentos da história recente: o golpe
que levou à ditadura militar brasileira.
No fim da década de 1950, o governo americano contribuiu com
o financiamento do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), entidade
anticomunista, ligada à Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em
inglês), que ajudou a consolidar uma bancada de deputados conservadores.
Paralelamente à atuação norte-americana, as políticas do
então presidente João Goulart (1961–1964) — voltadas para a nacionalização da
indústria de petróleo, reforma agrária e reforma trabalhista, colocadas pela
elite brasileira como um caminho inicial para "implantar o comunismo no
país" — foram usadas como massa de manobra para grandes manifestações
tomarem conta das ruas, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que
em março de 1964 reuniu entre 300 mil e 500 mil pessoas em São Paulo.
Tudo levava a um cenário ideal para a tomada do poder pelos militares apoiados
pelos EUA, golpe que se concretizou no final daquele mesmo mês.
Até 1976 houve apoio quase incondicional dos
norte-americanos a Brasília, quando o então governo do general Ernesto Geisel
tentou buscar maior autonomia em relação aos EUA. Foi justamente
nessa época que o Brasil estabeleceu relações diplomáticas com a China e até iniciou
negociações com o Iraque de Saddam Hussein para o desenvolvimento conjunto de
armas atômicas, o que levou a um quase rompimento diplomático.
Pouco anos depois, em 1984, acabava a ditadura militar.
Já na década de 1990, com o novo rumo democrático do
Brasil, telegramas confidenciais do Itamaraty mostraram o boicote dos
Estados Unidos ao programa espacial brasileiro, com a realização de embargos
tecnológicos que impediram o país a comprar equipamentos essenciais para
conduzir o projeto. Um dos efeitos foi o atraso na entrega do Veículo Lançador
de Satélites (VLS), que deveria ter ficado pronto em 1989 e só fez o
primeiro teste em 1997.
Parte da comunicação entre a diplomacia dos dois países na
época, em que o Brasil demonstrava "estranheza e preocupação" com os
constantes boicotes, foi divulgada pelo WikiLeaks já em 2010, revelando
manobras norte-americanas para afetar o programa espacial brasileiro até 2009.
EUA pressionaram por saída de brasileiro na OPAQ para
conseguir atacar o Iraque
Começava um novo século e, junto com ele, nos anos 2000, o
interesse do então governo do republicano George W. Bush de iniciar uma
guerra contra o Iraque, presidido por Saddam Hussein. Na época, a
justificativa para a ação militar era a suposta presença de armas de destruição
em massa que poderiam ser usadas por grupos terroristas. Porém, havia uma forte
rejeição da teoria justamente por um brasileiro: o embaixador José Maurício Bustani, que dirigia a Organização
para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), principal órgão internacional
destinado a evitar a proliferação de armas nucleares, químicas, bacteriológicas
e mísseis.
Sob o diretor brasileiro, entre 1997 e 2002, a entidade
ganhou força, reduziu em 15% a quantidade de armas químicas,
realizou cerca de 1,1 mil inspeções e fez o número de membros saltar de 87 para
145. Pouco antes da tentativa de os Estados Unidos invadirem o Iraque, Bustani
estava prestes a fechar a adesão de Bagdá à OPAQ. Com isso, o país seria inspecionado
e a justificativa do presidente Bush para a guerra cairia por terra.
Foi nisso que veio a reação da diplomacia norte-americana,
que pressionou o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso
(1995–2022) a fazer Bustani renunciar ao cargo. Passados mais de 20 anos, o
ex-embaixador disse sofrer por não ter evitado a guerra, que nunca levou ao
encontro das alegadas armas químicas, e confirmou que foi demitido do cargo
após intenso lobby norte-americano.
Grampo contra a ex-presidente Dilma
Outra revelação do site WikiLeaks foi a espionagem realizada
pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) no período em que
a ex-presidente Dilma Rousseff (2011–2016) esteve no
poder. Ao todo, 29 telefonemas da própria presidente, além de ministros,
diplomatas e assessores, foram grampeados pelos Estados Unidos.
Um dos números telefônicos monitorados foi o usado a bordo
do avião presidencial, em que Dilma se comunicava durante as viagens
internacionais. Inclusive o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), general José Elito Siqueira, que era responsável pela
segurança presidencial, foi um dos monitorados pelo governo de Barack
Obama (2009–2017). Ainda foram instalados grampos em embaixadas,
residências de diplomatas e até no Banco Central.
Os documentos sigilosos foram vazados pelo ex-servidor da NSA Edward Snowden e também apontam que
e-mails de Dilma Rousseff foram interceptados. Anos depois, a ex-presidente
sofreu um processo de impeachment e acabou sendo afastada do cargo, época que
também levou o Brasil a uma grave crise econômica.
Quase na mesma época da revelação dos grampos contra o
governo Dilma, começava no Brasil a operação Lava Jato, que tinha o objetivo de
investigar esquemas de corrupção entre políticos, empreiteiras e a maior
empresa do país, a Petrobras. Ao longo de 79 fases e quase sete anos,
a Lava Jato realizou o cumprimento de mais de mil mandados de busca e
apreensão, além de ordens de prisão temporária, prisão preventiva e condução
coercitiva, e colocou um ex-presidente atrás das grades: Luiz Inácio Lula da Silva, que posteriormente teve a
condenação revertida e foi constatada a parcialidade do então juiz Sergio Moro
no processo judicial. Somado a isso, o Brasil também viu a rota de crescimento
inverter, quando o PIB chegou a cair 3,5% ao longo de dois anos.
Com isso, o país viveu uma recessão, saindo de 6ª
para a 15ª economia do mundo, e viu ruir as maiores empresas brasileiras
que até então se consolidavam mundo afora. E foi justamente o Departamento de
Justiça dos Estados Unidos que se articulou diretamente com juízes e agentes do
sistema judiciário do Paraná, com denúncias de que inclusive teriam sido instruídos
pelo órgão norte-americano na época.
Recuo após apoio público na OCDE
Nos anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que em grande parte
coincidiu com a gestão de Donald Trump nos EUA, os dois países estiveram
próximos, pelo menos em afagos públicos entre os dois líderes. Durante a visita
de Bolsonaro ao país em 2019, Trump chegou a declarar apoio à tentativa
do governo brasileiro de ingressar na Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado clube dos países ricos. Em troca do
aval norte-americano, Brasília inclusive abriu mão do status de país em
desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC), que garantia
melhores condições na entidade.
Bastaram alguns meses para o governo Trump mudar de
posicionamento: em agosto do mesmo ano, o então secretário de Estado dos EUA,
Michael Pompeo, disse que o país endossava as candidaturas à OCDE
apenas da Argentina e Romênia, um balde de água fria às intenções
brasileiras.
'Vítima de bloqueio tecnológico'
Já em abril deste ano, o secretário executivo do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luis Manuel Rebelo Fernandes, chegou a
avaliar à Sputnik Brasil que os Estados Unidos têm impedido o Brasil de se desenvolver tecnologicamente.
"Talvez o caso mais exemplar seja o programa de
enriquecimento do urânio, o nosso programa nuclear, que por pressão dos Estados
Unidos foi bloqueada uma transferência de tecnologia da Alemanha",
declarou à época.
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!
Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos
no nosso canal no Telegram.
Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui
você consegue baixar o
nosso aplicativo para celular (somente para Android).
Também estamos nas redes sociais X (Twitter)
e TikTok.
Os programas sensacionalistas educaram o brasileiro no ódio
ao bandido e parecem ter alcançado de forma particular o coração dos
fundamentalistas.
Foto: Suamy Beydoun/AGIF via AP
É UMA LUTA que provavelmente as gerações mais
jovens não conhecem. A guerra da televisão. Nos tempos de TV CRT de 30
quilos, anos 1990, era comum ter uma só em casa. Então, um
controle-remoto dava um poder desproporcional a quem dele se apossava.
Na minha casa, quem detinha o poder era o pastor. Meu avô.
Como um toque de recolher, minha liberdade de escolher o que ver na TV
terminava todo dia às 4h da tarde. Era quando começava a maratona de programas
favoritos dele. O primeiro era Carlos Alborghetti, o furioso
apresentador que virou um meme. Depois o “Aqui Agora”, um ambicioso e
bem financiado projeto de jornalismo sensacionalista, que duraria até 1997.
Terminava com o Telejornal Brasil, de Boris Casoy. O primeiro de uma afiliada
da TV Gazeta em Curitiba, os demais, por uma do SBT de Sílvio Santos. No total,
a tirania do pastor sobre a TV durava cinco horas.
Talvez o velho estivesse se esbaldando com um novo vício.
Ser pastor da Assembleia de Deus era guiar uma igreja na qual o
consenso era que crente nem sequer devia ter TV em casa. Não chegava a ser
proibido, mas passava a impressão que o dono da TV não tinha compromisso com o
modo de vida cristão e permitia às tentações do mundo entrarem em casa pela
antena. E, dentro do espaço possível na Assembleia na década de 90, meu avô era
até moderno: não tinha nada contra calças para mulher ou cortar o cabelo. Dizia
que essas coisas eram só costumes, não doutrina (isto é, são coisas não
bíblicas, só hábitos da igreja). Mas TV mesmo, ele só foi ter depois de
aposentado.
Mas quando teve uma, esbaldava-se em programas pinga-sangue.
Hoje ou 30 anos atrás, quem viu a cobertura jornalística de um programa
pinga-sangue, viu todas. “Travesti injeta silicone industrial e pede ajuda para
não morrer” – apresentador chama de imbecil, mas ajuda. “Esposa queima marido
com álcool”. “Marido esfaqueia esposa e joga no riacho”. Alguém faz sexo com
animais. Crimes menos espetaculares. Gente pobre. Sempre o bandido tentando
esconder a cara da câmera, o policial forçando. Alguns vítimas terminando tão
humilhadas como seus abusadores.
Jacinto Figueira Júnior, ‘O Homem do Sapato Branco’, foi um
dos pioneiros no show de miséria nos anos 80. Foto: Reprodução/Youtube - SBT
Crias da ditadura
Sempre odiei esses programas, mas até pouco tempo atrás
nunca havia pensado na ideologia que eles transmitem. Quando eu vi o
documentário “Bandidos na TV”, na Netflix, me deu o estalo. Programas
pinga-sangue estão entre os maiores eleitores de Bolsonaro: eles influenciaram
os crentes a odiar não só o pecado, mas o pecador.
O pinga-sangue educou o brasileiro no ódio ao “bandido” –
ódio também ao “amigo do bandido” e seus “direitos humanos”. Por diversas
razões, parece ter falado de forma particular ao coração dos fundamentalistas,
ajudando-os a desabrochar nas figuras agressivamente políticas do presente.
Um pouco de história: programas pinga-sangue têm origem nos
tempos da ditadura. “Um dos pioneiros nesta linha foi Jacinto Figueira Júnior,
que estreou, em 1966, o programa ‘O Homem do Sapato Branco‘ e
permaneceu no ar com seu show de misérias por vários anos”, escreveu o filósofo
e teólogo padre Jaime Carlos Patias, em “O telejornal sensacionalista, a
violência e o sagrado”. “Seu programa foi veiculado pela Bandeirantes, Globo,
SBT e até mesmo pela TV Cultura, emissora teoricamente mais preocupada com o
padrão de qualidade da sua programação.”
Jacinto começou na TV e depois foi também para o rádio.
Várias outras figuras pioneiras, como Gil Gomes, Afanásio Jazadji e Carlos
Alborghetti, começaram como radialistas de noticiário policial antes do fim do
regime. Em 1968, Gil Gomes descobriu que um crime sexual havia ocorrido no
mesmo prédio de sua rádio e resolveu, pela primeira vez, cobrir ao vivo,
andando com o microfone, inaugurando seu estilo dramático.
Nessa época, a ditadura e os sensacionalistas estavam mais
ou menos em lados opostos. Jacinto, eleito em 1966 deputado estadual em SP pelo
MDB, a oposição permitida pela ditadura, perdeu o mandato (por “atentado contra a moral e bons
costumes”), em 1969, após o AI-5, e foi tirado do ar até 1979. Gil Gomes
relatou que foi preso 30 vezes no período.
A era de ouro do sensacionalismo viria na democracia. No
momento em que a censura foi banida, com a Constituição de 88. Foi uma época em
que as TVs partiram para testar os limites. Fausto Silva falando palavrão no
meio da tarde – parece difícil de acreditar hoje, mas babaca e pentelho já
foram palavrões. No SBT, surgia um programa baseado em mostrar seios,
“Cocktail”. A banheira do Gugu. Em 1991, o já citado noticiário pinga-sangue
“Aqui Agora” (que o Sílvio Santos, aliás, pretende trazer de volta).
É um paradoxo. A ditadura não se entendia com o
pinga-sangue, mas no final das contas o pinga-sangue acabou por abraçar,
reproduzir e divulgar talvez a mais duradoura herança da guerra suja, do porão
da ditadura. A cultura da brutalidade policial, da ilegalidade, do grupo de
extermínio.
Isso porque, nesse ramo, de certa forma, o papel do
jornalista não é só ser simpático ao policial. Ele se confunde com o próprio
policial. Em entrevista ao Intercept, o jornalista Danilo
Angrimani, autor de “Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa”,
traz um exemplo antigo. “Essa ‘promiscuidade’ entre o repórter policial e a
polícia não é nova. Lembro de Nelson Gatto, que prendeu, pessoalmente, um
bandido e rendeu a manchete ‘Promessinha preso’, em letras garrafais no Última
Hora, em 1958. Ou seja, ele não se limitava a informar. Ele mesmo ‘criava’ a
notícia”.
Ritual na TV
Os dois estudiosos descrevem o papel do
apresentador-sensacionalista como um agente da notícia. “O sensacionalismo
opera em uma espécie de balança, atuando, às vezes, como transgressor e, em
outros momentos, como ‘instrumento’ de punição”, afirma Angrimani. “O veículo
sensacionalista, em alguns momentos, alardeia a quebra da ordem e, em outros,
glorifica o restaurador da moralidade.”
O filósofo e teólogo Jaime Patias faz uma análise sob a
ótica religiosa dos programas sensacionalistas. Com base no trabalho do
filósofo francês René Girard, estabelece uma distinção entre violência sagrada
e profana, suja e limpa, pecaminosa ou purificadora. Como funciona: as vítimas
em um programa policial, lesadas pela violência profana, são resgatadas pela
violência sagrada. “Quando um sistema ou instituição se coloca acima das demais
instituições, ao combater a violência, o faz como violência purificadora”,
afirma. “A sua atuação se dá numa dimensão religiosa, transcendental.”
Isto é a polícia, acima das leis, ocupando uma função
sagrada, e o apresentador cumprindo um papel de sacerdote, numa espécie de
ritual de expiação do pecado. “No apresentador [José Luiz] Datena, do Brasil
Urgente, percebe-se traços característicos de mediador religioso que se
pretende purificador ante a violência comum”, define.
O jornalista e radialista Gil Gomes do “Aqui e Agora”,
levado ao ar pelo SBT. Ari Vicentini/AGE via Estadão Conteúdo
E aqui retornamos ao meu avô. Patias defende que essa
relação do espectador com o apresentador é uma substituta da religião. “De
certa forma, a mídia é, ao mesmo tempo, produtora da notícia e detentora das
grandes verdades e soluções. Dessa forma, ocupa o lugar que outrora foi de
Deus, como a verdadeira religião a quem a pessoa recorre.”
Não consigo imaginar meu avô pastor realmente trocando Deus
por Datena. Acredito que é algo que corre em paralelo. Uma espécie de
sincretismo, digamos assim.
Quando a gente brigava pelo controle da TV, eu achava que o
entusiasmo do meu avô por programas policialescos era mero mau gosto, falta de
estudo – apesar de, por causa de sua profissão, o pastor ser o único na família
a ter uma biblioteca não era decorativa.
Mas a relação era mais profunda. Bíblica. A TV
sensacionalista traz uma visão do mundo externo que condiz com o que os
evangélicos fundamentalistas pensam. É um mundo caído, em pecado, onde a falta
de Jesus no coração leva a todo tipo de abominação, de desgraça, de vergonha. A
violência profana da qual fala o professor Patias, que domina o mundo fora da
igreja. Ou simplesmente “O Mundo”, como gostam de falar.
Basicamente tudo na vida de um crente fundamentalista se
divide entre O Mundo e a Graça, a vida em pecado e em comunhão com Cristo.
Coisas d’O Mundo são ruins: música, filmes, ciência que contradiz a Bíblia,
bebida, drogas, sexo, tudo o que pode levar o crente a se perder. Um filme ou
música profana são a porta de entrada do Diabo na vida de alguém. O objetivo da
vida de um evangélico fundamentalista é viver ao máximo segregado d’O Mundo.
Essa era a razão para os crentes antigos rejeitarem a televisão.
“O pastor, ao falar para seus fiéis, cita o Diabo como
responsável por todas as transgressões”, afirma Danilo Angrimani. O crente
precisa se afastar do Diabo, para não pecar mais, para não transgredir.” Os
pinga-sangues mostram a vida profana, o mundo do Diabo, exatamente como os
crentes o imaginam.
Do lado oposto, eles já trazem uma visão que se parece com a
do policial encarnado em anjo vingador por esses programas. Uma cultura de
autoridade, de leis duras, de tradições pétreas e de guerra – uma guerra
constante com o Mundo, o pecado, como é a “guerra” contra o crime do policial
militar brasileiro. Uma cultura na qual o bandido está do lado do diabo, em que
é basicamente um possesso. E uma cultura policialesca na qual aqueles que se
opõem às ações da polícia são como pedras no caminho desse trabalho sagrado.
Defender os direitos humanos dos encarcerados e dos alvos da polícia é estar do
errado da guerra santa contra o crime. Os que fazem isso costumam ser os mesmos
que defendem aborto, religiões afro e “gayzismo”. A esquerda, assim, passa a
ter algo de satânico.
Em um programa de 2010, José Luiz Datena demonstrou, de
forma transparente, essa relação. Atribuiu a execução de uma criança de dois
anos à “ausência de Deus”, num nietzschianismo vulgar.
“Esse é o exemplo típico de um sujeito que não acredita
em Deus. Matou um menino de dois anos de idade. Essa gente é quem mata, enterra
pessoas vivas, quem estupra, quem violenta nossas mulheres. (…) É por isso que
o mundo está essa porcaria, guerra, peste, fome e tudo mais. São os caras do
mal. (…) Quem não acredita em Deus não tem limite. Quem não acredita em Deus
não respeita limite porque se acha o próprio Deus”.
O insulto mobilizou os descrentes do Brasil. Datena acabou
perdendo judicialmente contra a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, a
Atea. Mas o resultado foi, segundo o presidente da entidade, “vinhetas bem aguadas e genéricas sobre tolerância religiosa”.
Da minha parte, na época, soou uma coisa óbvia a alguém como
Datena dizer. Um insulto no topo de uma montanha. Datena – e pouco importa o
que pense ou diga sobre Bolsonaro em si – representa uma faceta central desse
bolsonarismo ancestral no qual eu fui criado.
Mas poderia ter sido diferente. Eu mesmo nunca imaginei que
um dia haveria um presidente “deles”. Quem sabe os crentes fundamentalistas – e
o Brasil – tivessem ficado melhor se continuassem sem televisão.
Vídeo baseado no texto "O Poder Hoje Está na
Mídia", de Marcos Alexandre e Renata Fernandes, tendo como propósito
mostrar técnicas que a mídia utiliza para manipular as informações de acordo
com seus interesses.
Trabalho apresentado na disciplina de Sociologia da
Comunicação - Comunicação Social - 2º Período - UFAL | Abril de 2016.
Programas sensacionalistas como os de @sikerajr e @brasilurgente educaram o brasileiro no ódio e parecem ter alcançado de forma particular o coração dos fundamentalistas.
Entre risos, ele afirmou: “Dizem que a Dilma foi torturada e
fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo”
A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) respondeu ao presidente
Jair Bolsonaro (Sem Partido) em nota
à imprensa, nesta segunda-feira (28), que fez piadas com o fato dela ter
sido torturada. Dilma afirmou que o presidente é “um sociopata, que não se
sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do
povo brasileiro”.
Bolsonaro voltou a desrespeitar as vítimas da ditadura
militar no Brasil e escolheu para atacar Dilma Rousseff. O presidente, além de
ironizar, duvidou que a ex-presidente, que ficou presa durante três anos, tenha
sido torturada.
Dilma disse ainda que “Bolsonaro não respeita a vida, é
defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante da morte e da
doença, como tem demonstrado em face dos quase 200 mil mortos causados pela
Covid-19 que, aliás, se recusa a combater”
Entre risos, Bolsonaro provocou: “Dizem que a Dilma foi
torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo
ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X”,
declarou, em encontro com apoiadores na manhã desta segunda-feira (28).
Leia a resposta de Dilma na íntegra abaixo:
Jair Bolsonaro promoveu mais uma de suas conhecidas
sessões de infâmia e torpeza, falando a um pequeno grupo de apoiadores, nesta
segunda-feira, 28 de dezembro.
Como não respeita nenhum limite imposto pela educação e
pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um
presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa. Mostra-se
indigno ao tratar com desrespeito e com deboche o fato de eu ter sido presa
ilegalmente e torturada pela ditadura militar. Queria provocar risos e reagiu
com sórdidas gargalhadas às suas mentiras e agressões.
A cada manifestação pública como esta, Bolsonaro se
revela exatamente como é: um indivíduo que não sente qualquer empatia por seres
humanos, a não ser aqueles que utiliza para seus propósitos. Bolsonaro não
respeita a vida, é defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante
da morte e da doença, como tem demonstrado em face dos quase 200 mil mortos
causados pela Covid-19 que, aliás, se recusa a combater. A visão de mundo
fascista está evidente na celebração da violência, na defesa da ditadura
militar e da destruição dos que a ela se opuseram.
É triste, mas o ocupante do Palácio do Planalto se
comporta como um fascista. E, no poder, tem agido exatamente como um fascista.
Ele revela, com a torpeza do deboche e as gargalhadas de escárnio, a índole
própria de um torturador. Ao desrespeitar quem foi torturado quando estava sob
a custódia do Estado, escolhe ser cúmplice da tortura e da morte.
Bolsonaro não insulta apenas a mim, mas a milhares de
vítimas da ditadura militar, torturadas e mortas, assim como aos seus parentes,
muitos dos quais sequer tiveram o direito de enterrar seus entes
queridos.
Um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de
outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro.
Revista Fórum Esta edição do Fórum Onze e Meia comenta a declaração de Jair Bolsonaro sobre Dilma Rousseff, a repercussão da fala, o julgamento da suspeição de Sergio Moro, o fim do auxílio emergencial, entre outras notícias do dia. Com comentários de Renato Rovai e apresentação de Dri Delorenzo.
Bolsonaro insulta vítimas da ditadura ÍNDOLE DE TORTURADOR Quem não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro./ Leia a íntegra da nota no linkhttps://t.co/W3Hu1NVA3Rpic.twitter.com/1b3EQI1nhp
Fala de Bolsonaro sobre tortura sofrida por Dilma é coisa de quem só não foi torturador por falta de oportunidade, não de vontade. A propósito: tortura q ñ deixa sequela física é o q? Falas assim têm de ser criminalizadas. Não sao liberdade de expressão, mas apologia da tortura.
O Brasil perde um pouco de sua humanidade a cada vez que Jair Bolsonaro abre a boca. Minha solidariedade a presidenta @dilmabr, mulher detentora de uma coragem que Bolsonaro, um homem sem valor, jamais conhecerá.
O livro de Temer recém-lançado é uma tentativa de lavar sua
biografia de golpista.
A coisa se chama “A Escolha: Como um Presidente Conseguiu
Superar Grave Crise e Apresentar Uma Agenda Para o Brasil”.
Se Judas tivesse escrito as memórias dele, seria mais ou
menos nessa linha (“Como Salvei o Mundo Entregando o Nazareno”).
O professor de filosofia Denis Lerrer Rosenfield colecionou
o depoimento do sujeito a quente, enquanto ele conspirava.
Uma das revelações é o contato mantido com os chefes
militares desde 2015.
Havia um desgaste com o PT por causa da Comissão Nacional da
Verdade, do receio de que Dilma tentasse mudar a Lei da Anistia e de outros
temas que constavam do Programa Nacional de Direitos Humanos-3, de 2009.
Temer, o canalha, soube retribuir.
Após o impeachment, Villas Boas foi mantido no cargo e
Sérgio Etchegoyen nomeado ministro do novo Gabinete de Segurança Institucional
(GSI), recriado para acomodar os cúmplices.
Desde a redemocratização, o governo dele foi o primeiro a
colocar um militar, o general Joaquim Silva e Luna, no comando do Ministério da
Defesa, criado em 1999.
Foi também o primeiro a colocar um estado, o Rio de Janeiro,
sob intervenção federal.
Também era um militar o Secretário Nacional de Segurança
Pública, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, e a Funai chegou a ser
chefiada por outro, o general Franklimberg Ribeiro Freitas.
Temer assentou o terreno para o capitão Bolsonaro invadir a
democracia com tudo.
É uma figura desprezível, cujo maior temor hoje é o de
voltar para a prisão.
A obra ainda vem com uma piada de Delfim Netto de brinde.
“Não tenho a menor dúvida de que, quando chegar o julgamento
– sem ideologia e sem oportunismo -, Temer será classificado como um presidente
inovador e reformista”, escreve o signatário do AI-5 no prefácio.
Delfim e Temer estão no lixo da história, e não serão os
militares que os tirarão de lá.
Temer e militares, ao assumirem complô contra a presidenta
da república, em um "#estado#democrático
de #direito",
estariam assumindo um crime, mas a finalidade vai muito além
Militares mantinham contatos com o vice-presidente logo depois da reeleição de 2014, supostamente inconformados com o relatório da Comissão Nacional da Verdade. É o que o operador do PMDB confessa em livro.https://t.co/oeImq2rL30
Segundo Temer no seu livro, os militares sabiam que estava em andamento um golpe que interessava a uma potência estrangeira!!! Fica claro que os militares agiram como "quinta coluna"!!! Canalhas, são pagos e armados para defender o país de interferências estrangeiras!! Traidores! pic.twitter.com/QlJLvduSr2
Para pesquisador da ditadura chilena, críticas ao modelo
neoliberal motivaram os protestos, que explodiram depois de reação autoritária
de Piñera
Apesar de origem semelhante às jornadas de junho, contexto
político difere do brasileiro
Sem traumas, nova geração desafia toque de recolher e
militares nas ruas
Família Piñera é herdeira de pinochetismo e enriqueceu na
ditadura
No Chile, foram os estudantes, uma vez mais, que deram a
partida para as manifestações de rua. Após o aumento das passagens de metrô e
ônibus no início de outubro, foram eles que começaram a pular as catracas para
não pagar as tarifas, as chamadas evasiones masivas. A resposta do presidente
Sebastián Piñera foi uma: repressão. Com cada vez mais policiais nas estações
de metrô reprimindo os jovens, o “pulão de catraca” cresceu até explodir para
manifestações que pararam Santiago e se espalharam o o resto do país.
Na avaliação do historiador Luan Vasconcelos Fernandes, da
Universidade de São Paulo (USP), que pesquisa em seu doutorado a relação entre
a ditadura militar e as universidades chilenas, a repressão comandada por
Piñera, sobretudo na imposição de um toque de recolher, fez soar nos ouvidos
chilenos o autoritarismo da ditadura de Pinochet, mas encontrou a resistência
de uma geração de jovens “que não possui o trauma de seus pais e avós em
relação ao autoritário toque de recolher da ditadura”.
Apesar de semelhante às manifestações do Brasil de 2013 —
inclusive pelo estopim ser o aumento das passagens de transporte público — o
pesquisador acredita que os protestos chilenos são mais direcionados e críticos
ao modelo neoliberal. Por outro lado, ele reforça que assim como no Brasil, no
Chile há também um discurso de negação da política, “bastante perigoso e pode
dar margem para que figuras ainda mais autoritárias cheguem ao poder”.
É essa a grande incógnita dos protestos chilenos: será que,
após os protestos, o país irá efetivamente adotar políticas que mudem uma das
sociedades mais desiguais da América Latina? Ou, assim como no Brasil, o
descontentamento irá abrir uma brecha para populistas que repitam as violações
cometidas pelos governos autoritários, sobretudo frente aos mais
marginalizados, como os indígenas Mapuche? “O que os manifestantes das grandes
cidades estão sofrendo com a violência estatal é o que os indígenas Mapuches
sempre sofreram”, ressalta Luan.
O historiador Luan Vasconcelos
Fernandes pesquisa a relação
entre a ditadura militar e as
universidades chilenas
As manifestações no Chile tiveram como estopim o aumento nas
passagens de transporte público, o que tem levado a comparações com as Jornadas
de Junho no Brasil, em 2013. O que os protestos no Chile têm de semelhante com
os brasileiros?
De fato, os protestos no Chile começaram devido a uma alta
de 30 pesos no valor da passagem do metrô de Santiago, que já era considerado
caro (por volta de R$ 4,60 antes do aumento), justificado pelo governo como uma
consequência do aumento do valor do petróleo e do dólar. E, assim como no
Brasil, os protestos em torno do preço do transporte público se expandiram para
outras reivindicações, que há bastante tempo já estavam gerando insatisfações e
manifestações de menor porte. Outra semelhança que eu vejo, com preocupação, é
em relação ao surgimento, ainda que em menor escala, de um discurso apolítico,
de negação da política, colocando todos os partidos e espectros políticos no
mesmo balaio. Algumas pichações e manifestações nas redes sociais apontam para
este caminho.
E quanto às diferenças?
Acredito que as semelhanças acabam por aí. O governo de
direita neoliberal de Sebastian Piñera e o próprio sistema econômico chileno
são distintos do governo de Dilma Rousseff e do sistema brasileiro. O Chile é
um país marcadamente neoliberal desde as reformas implantadas de forma
autoritária pela ditadura de Pinochet. Tudo no país é uma mercadoria, incluindo
a própria água, e nem os governos de centro-esquerda que se seguiram após a
redemocratização conseguiram mudar isso, apesar de vários remendos feitos na
Constituição de 1980. Dessa forma, as manifestações aqui revelam um profundo
descontentamento com as políticas neoliberais como um todo. As manifestações
vão todas nesse sentido, sem pautas conservadoras ou liberais na economia e sem
pedidos de retorno dos militares, como também se viu, ainda que em 2013 mais
timidamente, no Brasil. As manifestações aqui no Chile me parecem muito mais
bem direcionadas e críticas ao modelo neoliberal. No Brasil, as jornadas de
junho se encaminharam para uma miscelânea difusa de reivindicações. O contexto
internacional mundial e latino-americano também é outro e parece haver uma
contra-ofensiva de forças progressistas em vários países do mundo, com
resultados favoráveis para partidos de esquerda nas eleições da Espanha e
Portugal, o enfraquecimento do primeiro ministro conservador de Israel, a
abertura do processo de impeachment de Trump, a evidente derrota de Macri na
Argentina, os protestos contra as políticas neoliberais no Equador, dentre
tantos outros exemplos. Esses movimentos também impactam as manifestações no
Chile. Obviamente que a extrema-direita ainda permanece forte, mas parece ter
começado a perder fôlego mais cedo do que se imaginava. De todo modo, ainda é
cedo para tirar conclusões, mas a mudança de tom no discurso de Piñera nesta
terça parece apontar para um recuo do governo em suas políticas neoliberais.
Logo após o início dos protestos em Santiago, o presidente
Piñera decretou o toque de recolher. Civis foram impedidos de andar nas ruas
após as 20h, inicialmente em Santiago, depois em várias cidades do país. Os
carabineros tomaram as ruas e utilizaram armas letais, gás lacrimogêneo e balas
de borracha para dispersar manifestantes. E o governo anunciou utilizar a Lei de
Segurança Nacional da ditadura de Pinochet contra manifestantes. Como a
população recebeu essas medidas? Isso dispersou ou mais acendeu as
manifestações?
Na verdade, no primeiro dia, sábado, o toque de recolher foi
marcado para às 22h em Santiago. Nos outros dias, houve uma variação dos
horários na capital e nas diferentes regiões. A população recebeu estas medidas
com indignação. Não se via uma medida dessas desde 1987, na ditadura
pinochetista. Além disso, a nova geração de chilenos, que são os principais
manifestantes, não possui o trauma de seus pais e avós em relação ao
autoritário toque de recolher da ditadura. Dessa forma, há um clima de desafio
ao chamado “toque de queda” no Chile, com pessoas ficando muitas horas após o
horário estabelecido pelo toque nas ruas. Com certeza foi uma medida que
acendeu ainda mais as manifestações.
LEIA TAMBÉM
Apoio de Bolsonaro à ditadura militar é aberração e ameaça à
democracia, diz Garzón
A resposta do governo Piñera aos protestos resgatou de
alguma forma a memória dos chilenos da ditadura de Pinochet?
Sem dúvidas. A resposta do governo foi autoritária,
colocando militares nas ruas, algo que não ocorria desde a ditadura. Pesa ainda
o fato da família de Piñera ser uma das famílias de políticos herdeira do
período pinochetista. Seu irmão, José Piñera, foi ministro do ditador. Sua
família também enriqueceu muito durante a ditadura de Pinochet. As comparações
estão sendo frequentes. O Chile é um país que ainda não resolveu diversas
questões relacionadas ao período e as disputas de memória aqui sobre o período
estão sempre colocadas no debate nacional. A resposta do governo chileno só fez
colocar mais fogo no debate e fortaleceu as críticas ao seu governo e aos
críticos da ditadura.
Por falar em ditadura, como é a relação da população chilena
com a ditadura hoje? Ela é influenciada por recortes como a classe social, raça
ou religião?
Sim. A sociedade chilena é muito dividida. Não só
socialmente, como geograficamente. A província de Santiago é uma prova viva
disso. Quanto mais perto da Cordilheira e das comunas ricas, maior a chance de
encontrar apoiadores contundentes da ditadura de Pinochet e de seus herdeiros.
Há também grupos de católicos e evangélicos conservadores fortes e atuantes no
Chile, que pendem para um apoio ao período ditatorial. No que se refere às
questões raciais, o conflito mais evidente no Chile é em relação aos Mapuches.
Eles foram duramente reprimidos e perseguidos durante a ditadura de Pinochet e
ainda lutam por seus direitos. A morte de Camilo Catrillanca, neto de um líder
mapuche, no ano passado, por policiais reacendeu bruscamente os debates em
torno dos Mapuches. O ministro do Interior e Segurança Pública, Andrés
Chadwick, primo do presidente, é constantemente responsabilizado pela morte do
jovem e o pedido de sua renúncia também ecoa pelas ruas.
A sociedade chilena é dividida em relação à ditadura: grupos de católicos e evangélicos conservadores estão entre os apoiadores do período ditatorial
Há uma tentativa de revisionismo da ditadura chilena assim
como ocorre no Brasil, pela ação de grupos de extrema-direita?
Sempre houve um impasse nas disputas memorialísticas em
torno do tema. Apesar do Informe Rettig [documento que expôs sobre violações de
direitos humanos durante a Ditadura, comparável ao que a Comissão da Verdade
produziu no Brasil] ter sido publicado logo após o fim da ditadura, só em 1998,
com a prisão do general Pinochet em Londres a mando do juiz espanhol Baltasar
Garzón, é que houve um substancial aumento de condenações de diversos agentes
estatais violadores dos direitos humanos. A prisão do ditador foi considerada
um ponto de inflexão na jurisdição universal sobre o tema. Pinochet, no
entanto, nunca chegou a ser condenado no Chile pelos crimes cometidos, mas
chegou perto de ser condenado por fraude tributária e mau uso de dinheiro
público, o que não ocorreu por conta de sua morte. Todas as investigações e
condenações que se seguiram após a prisão de Pinochet em Londres fizeram com
que vários aliados se afastassem do ditador e defendessem uma memória de
conciliação sobre o período ditatorial. Se, por um lado, houve o que a direita
chama de “excessos” por parte dos militares, por outro, a ditadura modernizou o
país. Nesta linha de pensamento, o melhor a se fazer seria esquecer os crimes
cometidos no período e conciliar o país. É uma das memórias emblemáticas do
Chile, que Steve Stern, historiador estadunidense, chama de “memória da caixa
fechada”, uma memória construída desde o início da década de 1980 e que
permanece forte até hoje. Diferentemente do Brasil, a direita chilena que
defende o período parece que sempre esteve fora do armário, mesmo que com
distintas interpretações sobre o período. Então, seria mais um revisionismo
continuado, o que é diferente do Brasil onde houve um “boom”, nos últimos anos,
de publicações e de figuras públicas defendendo o período ditatorial.
O próprio presidente Piñera havia criticado Bolsonaro por
elogios à ditadura brasileira. Qual é a postura do presidente chileno em
relação à ditadura chilena?
Acredito que seja como eu disse anteriormente. Uma espécie
de memória da caixa fechada, na qual as recordações devem ser mantidas
guardadas. Ainda que ele condene publicamente as violações aos direitos humanos
cometidas naquela época, ele defende as reformas efetuadas. Sem falar que toda
sua família e seus aliados políticos são herdeiros diretos da ditadura de
Pinochet. É impossível não associá-lo ao período. A solução autoritária que o
seu governo encontrou para a crise no Chile acentua ainda mais esta relação.
A imagem dos carabineros no Chile pode ser comparada à
imagem do exército no Brasil? O que é parecido e o que é diferente?
Não. Os carabineros podem ser comparados aos policiais
militares no Brasil. O que talvez gere confusão é que durante a ditadura, o
comandante dos carabineros, que no Chile tem o posto de general, fazia parte da
Junta Militar. O posto continua sendo o mesmo e ele participa do Conselho de
Segurança Nacional do Chile.
Após os protestos de 2013 no Brasil, se tornaram recorrentes
manifestações pedindo a volta da ditadura militar, ainda que bem menores. De
alguma forma, as falas seguem até hoje, com protestos pedindo fechamento do STF
pelos militares, por exemplo. Você consegue ver uma possibilidade disso também
ocorrer no Chile?
Tenho a sensação que, após 2013, esses pedidos, no Brasil,
só foram aumentando. Culminou com a eleição de um defensor de um dos mais
notórios torturadores brasileiros. Mas como eu disse, acredito que no Chile as
manifestações têm uma pauta mais definida e contra as políticas neoliberais.
Por outro lado, há também um discurso de negação da política, o que é bastante
perigoso e pode dar margem para que figuras ainda mais autoritárias, como José
Kast, cheguem ao poder. Ele é um político alinhado com pautas econômicas neoliberais
e conservadorismo nos costumes, algo semelhante a Bolsonaro, anti-LGBT, contra
aborto e com declarações misóginas. No entanto, como as manifestações são
contra os principais herdeiros da ditadura e estamos em outro contexto,
acredito que isso não vá acontecer. Tudo vai depender também de quais figuras
os principais partidos chilenos vão indicar para as próximas eleições
nacionais. Ano que vem são as eleições municipais no Chile. Elas também
servirão como termômetro para a disputa de poder no âmbito nacional.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, herdeiro de uma família de políticos ligada à ditadura de Pinochet, é acusado de evasão fiscal
As manifestações de hoje no Chile têm invocado pautas de
manifestações anteriores, como a dos estudantes. Qual o papel dos estudantes
nos protestos de agora?
Como disse uma funcionária da limpeza aqui de Santiago: “os
estudantes valem ouro”. São um dos principais atores dos protestos, se não o
principal. O mais interessante é que as pautas não são estritamente do âmbito
educacional e sim ligadas às questões que afetam os trabalhadores, seus pais e
avós. A tarifa do metrô não aumentou para os estudantes, porém foram eles os
primeiros a efetuarem as evasiones, os popularmente chamados “pulões de
catraca”. Outra importante reivindicação se refere às AFP (as administradoras
de fundos de pensões) que, atualmente, são sete, sendo que cinco são de
multinacionais estrangeiras (MetLife, Prudential Financial, BTG Pactual, Grupo
Sura y Principal Financial Group). Grande parte dos aposentados recebe menos de
um salário mínimo aqui no Chile, sendo que as AFP registram lucros recordes com
o rendimento do dinheiro dos trabalhadores.
Como ficou o sistema de educação chileno após os protestos
dos estudantes? Algo mudou?
Sim. A Lei Orgânica Constitucional de Ensino (LOCE) da época
da ditadura foi substituída pela Lei Geral de Educação, de 2009, do governo de
Michelle Bachelet. É uma lei com uma abordagem mais plural e inclusiva e que
visa fiscalizar os estabelecimentos educacionais do ensino básico e médio, que
antes lucravam com o dinheiro público nas escolas subvencionadas.
Se a utilização da Lei de Segurança Nacional é “novidade” no
contexto dos protestos de rua, ela já foi invocada para lidar com os protestos
de indígenas Mapuche, inclusive no início deste ano, após protestos pela morte
de mais um indígena pela ação da polícia. Como está essa questão hoje?
É como me contou uma amiga sobre o discurso dos Mapuche
neste momento: o que os manifestantes das grandes cidades estão sofrendo com a violência
estatal é o que os Mapuche sempre sofreram. A questão Mapuche sempre foi um
tema nacional em voga, mas que varia em sua abrangência no seio da opinião
pública. Não vejo nas manifestações que tenho acompanhado como uma das
principais pautas da população. O que tem acontecido é que os Mapuche e as
pessoas ligadas aos movimentos sociais Mapuche têm aproveitado o momento para
também se manifestar e pressionar o governo.
Para o historiador, a resposta repressiva do governo fez com que os protestos tomassem uma proporção maior
Quais são as principais reivindicações dos Mapuche?
A principal reivindicação dos Mapuche é a terra — eles buscam acabar com o uso da sua terra por grandes empresas e pelo Estado. A relação dos Mapuche com os governos chilenos nunca foi pacífica, até porque eles consideram o seu território como território invadido. Eles não se consideram chilenos, mas Mapuche. Isso vem desde a formação do Estado Nacional Chileno, no século XIX, não foi tranquila mesmo durante o governo popular de Salvador Allende, mas se tornou especialmente tensa na ditadura. Na época, foi criada uma lei que acabou com a função social da propriedade da terra, que passou a ser apenas propriedade privada, sob a lógica do neoliberalismo. A ditadura acabou operando uma “reforma agrária”, por assim dizer, que separou as terras indígenas em pequenas propriedades individuais. Isso resultou praticamente na destruição da cultura Mapuche, que é totalmente conectada à questão da terra, muito diferente da nossa ou de uma visão capitalista neoliberal. E a relação dos indígenas com o Estado também segue tensa com Piñera, principalmente com o assassinato do jovem Camilo Catrillanca, neto de uma liderança indígena [ele foi assassinado com um tiro na cabeça em uma operação dos Carabineros no final de 2018]. O ministro do Interior e Segurança Pública, Andrés Chadwick, primo de Piñera e principal ministro do governo, é responsabilizado pelos indígenas, que o chamam de assassino.
Qual a percepção da população sobre a questão Mapuche? Há apoio massivo ou apenas de determinados grupos?
São grupos mais específicos que apoiam com mais ênfase a causa mapuche. Isto não significa que não haja uma simpatia à causa por parte dos manifestantes. Há muitos temas candentes e alguns aparecem com mais destaque, como o custo de vida e as administradoras de pensão.
Curiosamente, as manifestações começaram com as evasiones no metrô, a mesma palavra usada para descrever não pagamento de impostos, uma acusação que pesa sobre o próprio presidente Piñera, correto?
Evadir é deixar de pagar algo, por exemplo, burlando leis ou obtendo vantagens. A palavra evasiones serve para tudo que se enquadre nisso. No caso do metrô, pular a catraca ficou conhecido como evasiones masivas porque eram vários jovens começaram a fazê-lo deixando de pagar a passagem. O presidente Piñera é acusado de ter realizado várias sonegações de impostos a partir de suas empresas e propriedades privadas ao longo da década de 1990 e dos anos 2000, comprando empresas que estavam em falência e, depois, fechando acordos para não pagar impostos que essas empresas deviam, inclusive vendendo algumas delas em seguida. Isso também foi chamado de evasiones. Com as manifestações, os jovens começaram a ironizar o fato de o presidente criminalizar as evasiones do metrô, sendo que ele é acusado de ter roubado dinheiro do Estado — uma soma muito maior que o prejuízo causado pelos pulos de catraca. Em vários pontos de Santiago há pichações onde se lê “evade como Piñera”, ou seja, siga o exemplo de Piñera. Na crítica dos manifestantes, ele teria sido primeiro a dar o exemplo.