Após manifestações golpistas, o Jornal Nacional, da Globo,
detonou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após discurso e ataques à
democracia.
Foto: Reprodução
Durante pronunciamento na Avenida Paulista (SP), o presidente
voltou a atacar STF. Ele declarou que não respeitará “qualquer decisão” do
ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro também xingou o magistrado de “canalha”
e pediu sua saída diante de milhares de apoiadores.
O “Jornal Nacional” foi direto ao ponto. “O desrespeito à
democracia com as cores da nossa bandeira. Em diversas brasileiras,
bolsonaristas insuflados pelo presidente da República usam o verde e amarelo,
mas atacam pilares da Constituição. Em tom golpista o presidente discursa em
Brasília e em São Paulo. Diz que respeita a Constituição, mas na mesma frase
volta a ameaçar o STF.”
"Amigos me desculpem, mas o fim do PSDB será abraçar
esse impeachment do Presidente Bolsonaro. Quero adiantar eu jamais votarei uma
aberração dessa natureza. Sou 100 % Bolsonaro!", disse um parlamentar em
um grupo de mensagens
Deputado federal Aécio Neves (Foto: Pablo Valadares/Câmara
dos Deputados)
247 - Articulador do golpe contra a presidenta
Dilma, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) não gostou do anúncio de uma reunião da
executiva do PSDB para debater o impeachment de Jair Bolsonaro.
Segundo o colunista Lauro Jardim, do O Globo, além de Aécio Neves, os deputados
Geovania de Sá e Paulo Abi-Ackel reagiram à iniciativa demonstrando
contrariedade com a decisão do presidente da legenda, Bruno Araújo, de marcar a
reunião nesta quarta-feira (8).
Sem citar os nome, Lauro Jardim cita conversa de grupo de
mensagem da bancada em que os parlamentares tucanos consideraram
"inoportuno" tornar o assunto público.
"Me pareceu precipitado falar OFICIALMENTE em impeachment no calor de manifestações que estão ocorrendo em ambiente de paz . De qualquer forma vamos manter a serenidade e amanhã em ambiente democrático como é nosso jeito de ser e de fazer política, vamos nos posicionar", escreveu um deles.
Aécio Neves teria encaminhado para o grupo a pergunta de um repórter sobre a sua posição na tentativa de mostrar que já estava sendo cobrado a se manifestar sobre o tema.
"É nossa obrigação que defendemos a democracia,
discutirmos mais sobre isso, nosso posicionamento diante das graves ameaças
democráticas! Temos grande responsabilidade com nosso país! Não podemos
subestimar o que está acontecendo, sob risco de omissão!", rebateu outro
parlamentar.
Mas houve quem tenha escancarado sua adesão ao governo.
"Amigos me desculpem, mas o fim do PSDB será abraçar esse impeachment do
Presidente Bolsonaro. Quero adiantar eu jamais votarei uma aberração dessa
natureza. Sou 100 % Bolsonaro!".
O líder do partido na Câmara, Rodrigo de Castro, convocou
uma reunião da bancada para essa quarta-feira.
Marcando cinco anos do golpe que culminou na saída de Dilma
Rousseff da Presidência do Brasil, o fundador de Opera Mundi, Breno Altman,
conversa com a ex-presidente nesta terça-feira (31/08), às 11h, com o tema: Por
que o golpe de 2016 foi vitorioso?
Trabalhadores que receberam dinheiro, no interior de SP, dizem que o pagamento era feito por uma grande empresa de equipamentos agrícolas, que nega. No entanto, deputado bolsonarista mostrou carreata organizada pela companhia
Imagem: Redes sociais
Um grupo de trabalhadores aparece em um vídeo que circula
pelas redes sociais recebendo dinheiro de um homem vestido com uma camiseta dos
atos golpistas promovidos por Jair Bolsonaro nesta terça-feira (7). Nas
imagens, gravadas dentro de um ônibus, eles comentam sobre quem seria o
responsável pelos pagamentos e pela iniciativa da excursão à Avenida Paulista,
parodiando uma música do programa Sílvio Santos, famoso por distribuir
dinheiro.
“Grupo Jacto vem aí… Nishimura vem aí… Olha isso, cara. Eu
achei que era brincadeira. Uma camiseta para cada um, mais o ônibus, mais R$
100 para alimentação. Esse é o nosso grupo Jacto de Pompeia. Deus abençoe.
Heróis, mano”, cantam, enquanto o homem que detém os valores entrega uma nota
de para cada participante da caravana.
O nome de origem japonesa a quem se referem os envolvidos no
vídeo seria o do empresário Jorge Nishimura, presidente da empresa Jacto, que
produz equipamentos agrícolas, além de atuar em vários outros segmentos,
segundo o site da companhia, sediada em Pompeia (SP).
Horas depois, na página da Jacto na internet, um comunicado
negava a organização da caravana, sob a justificativa de que a empresa não se
envolve em assuntos políticos.
“O Grupo Jacto informa que não patrocinou o envio de
manifestantes para eventos de 7 de setembro. A empresa não apoia candidatos ou
partidos políticos de nenhuma corrente doutrinária, seja na esfera federal,
estadual ou municipal”, diz a nota.
No entanto, uma publicação do deputado estadual paulista
Frederico d’Ávila (PSL), de maio deste ano, mostra que a família Nishimura e a
Máquinas Agrícolas Jacto S/A realizou uma carreata em Pompeia em defesa de Jair
Bolsonaro, contrariando a versão oficial divulgada nesta tarde.
Siga o dinheiro. Em vídeo que circula hoje gravado dentro de um ônibus rumo à manifestação é possível ver homens distribuindo camisas e R$ 100,00 para quem fosse participar dos atos em defesa do presidente. Quem financiou esses atos?#ForaBolsonaro#7SForaBolsonaropic.twitter.com/P4eBiRdUks
Em São Paulo uma caminhonete estacionou na entrada destinada às autoridades e distribuiu placas prontas. Até as manifestações do bolsonarismo são fakes!
Enquanto esteve na orla, foi tietado por apoiadores
do governo federal que pediram por fotos e registros do encontro com o Fabrício
- apontado pelo Ministério Público como operador de um esquema de desvio de
dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Junto ao bolsonarista estava o deputado federal Otoni de
Paula (PSL-RJ) - que recentemente foi alvo de buscas expedido pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), investigado por incitar atos violentos e
antidemocráticos.
Bandido de estimação Fabrício Queiroz, apontado pelo MP como operador do esquema de "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro, hoje foi tietado por bolsonaristas no Rio de Janeiro.#ForaBolsonaropic.twitter.com/Auz2pD9V8w
Patriotas abraçam e festejam Queiroz, o homem no centro do escândalo do peculato da Família Bolsonaro. Do esconderijo em Atibaia para os braços dos homens de bem. pic.twitter.com/OFuLZejKHd
Ministério da Saúde deixou vencer a validade de um estoque de testes de diagnóstico, imunizantes, medicamentos e outros itens. Deputado vai entrar com representação junto à PGR pedindo apuração
Bolsonaro ostenta caixa de hidroxicloroquina
São Paulo – Em meio à pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde deixou vencer a
validade de um estoque de testes de diagnóstico, imunizantes, remédios e outros
itens avaliados em mais de R$ 240 milhões. No total, são 3,7 milhões de itens
que começaram a perder o prazo de validade há mais de três anos, a maioria
durante a gestão de Jair Bolsonaro, e estão no cemitério de insumos do Sistema
Único de Saúde (SUS), em Guarulhos. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Ainda que a lista do estoque seja mantida em sigilo pelo
ministério, o jornal teve acesso a tabelas da pasta com dados sobre itens, data
de validade e valor pago. Entre os produtos vencidos estão 820 mil canetas de
insulina, totalizando R$ 10 milhões.
Entre os produtos vencidos estariam também itens destinados
a pacientes do SUS com doenças como hepatite C, câncer, Parkinson, Alzheimer,
tuberculose, doenças raras, esquizofrenia, artrite reumatoide, transplantados e
problemas renais. Também foi perdido um lote inteiro de frascos para aplicação
de 12 milhões de vacinas para gripe, BCG, hepatite B e outras doenças, avaliado
em R$ 50 milhões.
O diretor do Departamento de Logística (Dlog) do Ministério
da Saúde, general da reserva Ridauto Fernandes, justificou o desperdício à
publicação afirmando que a perda de validade de produtos “é sempre
indesejável”, mas ocorre “em quase todos os ramos da atividade humana”. “Em
supermercados, todos os dias, há descarte de material por essa razão”, afirmou
o general.
‘Projeto de morte’
As revelações sobre os produtos vencidos causaram reações no
mundo político. “A falta de medicamento nos postos pode parecer falta de
recursos ou incompetência, mas sempre fez parte do projeto de morte de
Bolsonaro”, postou no Twitter a ex-deputada federal Manuela d’Ávila.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) afirmou, também
na rede social, que vai tomar providências junto à Procuradoria-Geral da
República (PGR) para apurar o caso.
“Darei entrada hoje na PGR com representação solicitando
investigação de crime de improbidade administrativa do presidente e ministro da
saúde pelo vencimento de R$ 243 milhões em vacinas, testes e remédios em plena
pandemia. O SUS TRABALHA e Bolsonaro atrapalha”, postou o parlamentar.
Em plena crise sanitária, o governo Bolsonaro deixou VENCER R$ 243 milhões em vacinas, remédios e outros produtos do SUS! Os produtos serão queimados nos próximos dias.
Um governo marcado pela incompetência e descaso com a saúde do povo. #ForaBolsonaro
Bots são usados para disseminar notícias e fake news nas
redes sociais
Os “Robôs de Bolsonaro” voltam ao centro das atenções na
véspera dos atos antidemocráticos de 7 de
setembro a favor do presidente. As manifestações em defesa de Jair Bolsonaro foram
impulsionadas por perfis com alta chance de serem “bots”.
Para afirmar a possibilidade dos bots estarem auxiliando
Bolsonaro, dois relatórios produzidos pelo Pegabot, projeto desenvolvido pelo
ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio), indicam o uso contínuo
dessa ferramenta para impulsionar os protestos antidemocráticos, o que vai
contra as regras do Twitter.
Há também informações que revelam o número de bots
publicando hashtags em apoio às manifestações com crescimento exponencial de
14% conforme a data dos protestos se aproximava.
Perfis automatizados defenderam as manifestações do dia 7
publicando 81 mil posts sobre esse tema, o que representa 23% de todo o
conteúdo analisado pelo Pegabot nesse período. Isso dá cerca de um a cada
quatro tweets. Foi identificado também que, em 78,3% dos casos, o tuíte era um
compartilhamento, conhecido como RT no Twitter, feito por outra pessoa ou bot.
Os bots estão compartilhando tanto notícias quanto fake
news, instigando os bolsonaristas a darem RT sem distinção do que é realidade e
do que falso.
“A existência de contas automatizadas não significa que não exista um movimento orgânico de apoio a essa hashtag. Mas as contas automatizadas, pelo movimento coordenado de postar repetidamente milhares de mensagens, fazem com que a rede seja mergulhada nesse tema, incentivando o movimento orgânico”, explica Thayane Guimarães, pesquisadora em Democracia e Tecnologia do ITS Rio.
“Os bots dão a fagulha e mantêm a energia para a roda girar.”
Assuntos mais comentados no Twiter na véspera do atos de 7 de setembro
Estão entre os assuntos mais comentados no Twitter cinco temas em prol do bolsonarismo neste momento:
•Em quarto lugar está #quemmandoumatarbolsonaro com número total de tweets oculto
•Em nono está #CarecaFDP em referência ao ministro do STF, Alexandre de Moraes com mais de 21 mil tweets
•Em 10° está #Dia07vaiserGIGANTESCO, em convocação aos atos antidemocráticos, com mais de 38 mil tweets
•Em 15° está Alexandre de Moraes com mais de 60 mil tweets, sendo os mais recentes com críticas e xingamentos ao ministro
•24° está Gestapo, comparando o STF a polícia secreta do nazismo
Metodologia de estudo
Os relatórios do Pegabot analisaram mais de 508 mil posts publicados no Twitter que mencionaram ao menos uma das seguintes hashtags:
•#Dia07VaiSerGigante
•#Dia7VaiSerGigante
•#Dia07VaiSerMaior
•#Dia7VaiSerMaior
Foram verificados 29 mil perfis no primeiro levantamento e 48,5 mil, no segundo.
Essas informações servem como base para que o Pegabot classifique as contas usando quatro critérios:
Temporal, usuário, rede e sentimento. Tais elementos indicam a probabilidade de comportamento automatizado de uma conta, dentro de uma pontuação de 0 a 100.
Em nota, o Twitter fez um pronunciamento sobre o tema: “não teve acesso ao levantamento e tampouco teve tempo de investigar o assunto de forma apropriada”, e, portanto, não iria comentar. “Ainda assim, nosso time está analisando as conversas em torno das hashtags e, caso encontremos alguma conta em violação às regras, tomaremos as medidas cabíveis”.
Acho que o eleitor bolsonarista está diante de uma escolha difícil. Como são misóginos e homofóbicos parecem não saber o que fazer. Os robôs, idem. #Bolsonaropic.twitter.com/JSFPPeuOl5
O cerco vai se fechando aos poucos sobre a família Bolsonaro. Alguns desconfiam que a ameaça de golpe e a busca por reeleição seria um subterfúgio do capitão para não ser preso ao sair do Planalto - Ueslei Marcelino
Brasil de Fato
Olá! Às vésperas do 7 de setembro e da hora de colocarem as
cartas e algemas na mesa, a história de amor entre o capitão e o mercado vive
um momento de turbulências.
.Filhos da contravenção. O cerco vai se fechando
aos poucos sobre a família Bolsonaro. Alguns desconfiam que a ameaça de golpe e
a busca por reeleição seria um subterfúgio do capitão para não ser preso assim que
deixar o Planalto. Especialmente porque ele segue produzindo provas
contra si mesmo. A PGR investiga reuniões preparatórias para o dia 7 de
setembro em que participaram membros do governo e lideranças que
reivindicaram o fechamento do STF em atos anteriores. Mas se a hipótese de
Bolsonaro ir fazer companhia para Roberto Jefferson ainda parece distante, o
mesmo não vale para seus filhos. Carluxo está na mira do Ministério Público do
Rio de Janeiro por seus rolos na Câmara de Vereadores e teve o sigilo bancário quebrado, juntamente com o de sete
empresas ligadas a ele e da ex-esposa de Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira
Valle, que na época tinha seis parentes empregados no gabinete do enteado. Além
disso, nesta quinta (02), um ex-empregado de Ana Cristina denunciou que
entregou para a família 80% de tudo o que recebeu como assessor de Flávio na
Assembleia do Rio por quase quatro anos, cerca de R$ 340 mil. Já o mais novo dos metralhas,
Jair Renan, aparece envolvido com Marconny Faria, o lobista foragido ligado à Precisa Medicamentos
e que está sendo investigado pela CPI da Covid. Na mesma rede de contatos encontra-se a advogada da família Bolsonaro, Karina Kufa,
que teria organizado um jantar para apresentar Marconny a Ricardo Santana, uma
espécie de consultor informal do Ministério da Saúde. Ou seja, a Comissão
começou a desenrolar um fio que pode implicar diretamente a família Bolsonaro
no esquema de superfaturamento e compra ilegal de vacinas da Precisa
Medicamentos. E os gordos rendimentos do deputado governista Ricardo Barros também
levantaram suspeitas do Coaf e foram parar na CPI. Com tudo isso e mais a incrível história de um motoboy vinculado à VTCLog,
que fazia saques milionários no banco e visitava com frequência o Ministério da
Saúde, a CPI, que já se encaminhava para o fim, ganhou sobrevida e deve durar
até meados de outubro.
.Sofrência. Em 2018, não foi uma escolha difícil
para o mercado embarcar, ainda no primeiro turno, na candidatura Bolsonaro. E,
ano passado, enquanto Jair passeava a cavalo na frente do Planalto ou tratava a
pandemia como gripezinha, não se ouvia nada na Faria Lima. Ao contrário. Abílio
Diniz, os donos do Madeiro, SmartFit e outros se somaram à ideia de derrubar
logo as restrições sanitárias. Nunca foi a democracia, nem a pandemia. Mas algo
se quebrou em 2021 entre Bolsonaro e o topo do PIB. Como resume Vinicius Torres Freire, o descontentamento
que gerou o polêmico manifesto empresarial tem a ver com a administração
incompetente, o risco do “fura teto” e a incapacidade de entregar as reformas
liberais. E, acrescenta Thomas Traumann, há um fastio do setor
empresarial com a instabilidade política provocada por Bolsonaro e a impressão
de que este governo “não tem mais nada a entregar” e só se concentra na própria
reeleição. A operação capitaneada por Arthur Lira para fazer água no manifesto foi bem sucedida,
entre outras coisas, porque não há unidade entre os empresários, nem desejo
real de desembarcar do governo, como alerta o economista Guilherme Mello. É o que se
vê no caso do agronegócio, em que uma associação lançou seu manifesto solo, enquanto
as outras financiam os atos bolsonaristas de 7 de setembro.
Mas há fissuras e descontentamento, em especial nos setores mais financeirizados e internacionalizados que veem
o investimento externo fugindo de Bolsonaro e do Brasil. O movimento anima João
Dória, já que o manifesto é sinal de que o mercado prefere uma “terceira via”
ao capitão, mas o recuo também significa que se a alternativa não for
competitiva, o mercado prefere ficar onde está do que apostar
em Lula.
.Terra Brasilis. O acampamento dos povos
indígenas em Brasília já dura mais de uma semana e não tem data para acabar.
Mais uma vez a decisão do STF sobre o marco temporal foi adiada e deve ser
retomada na próxima quarta-feira (8). O cenário aumenta os riscos de um embate no dia 7 de setembro, quando
grupos bolsonaristas farão manifestação em Brasília. Bolsonaro tem utilizado o tema para inflar seus seguidores,
inclusive os militares, a exemplo do general Augusto Heleno, para quem as
reservas indígenas ameaçam a integridade do território nacional. A atitude dos
militares justifica o desabafo de Valdelice Veron, liderança Guarani Kaiowá que
está acampada em frente ao STF: “Somos vistos como estrangeiros no nosso próprio país”.
Mas mais do que preocupação com a integridade territorial, os militares agem
como força de sustentação dos interesses da mineração e do agronegócio. De 1985
até 2020, a área de exploração de minérios no Brasil cresceu seis vezes e a
atividade ilegal ganhou maior impulso depois da crise mundial de 2008, quando
se intensificou a busca por recursos estratégicos nos países periféricos.
Assim, na última década, o garimpo em terras indígenas aumentou
quase cinco vezes. O agronegócio é outro interessado no tema. Mesmo que
o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) diga em tv aberta
que o setor “não precisa invadir terra indígena para crescer”,
os representantes Sociedade Rural Brasileira (SRB) e da Associação Brasileira
dos Produtores de Soja (Aprosoja) desmentem seu colega ao posicionaram-se contra a revisão do marco temporal.
A discussão é fundamental para a sobrevivência dos povos indígenas, mas os
interesses e pressões são enormes. Bolsonaro já escolheu seu lado. Aguardemos
para ver qual será o lado do STF.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.Faltam só 66. A Piauí foi até
Manaus, um dos cenários da tragédia da pandemia, para acompanhar a volta às
aulas presenciais na Escola Paulo Freire.
.A nova década perdida. O PIB brasileiro hoje é menor
do que era em 2014. Na Jacobin, Edemilson Paraná explica porque
tivemos mais uma década sem crescimento econômico no país.
Obrigado por nos acompanhar. O Ponto é uma das iniciativas
do Brasil de Fato para compreendermos melhor a conjuntura.
Acompanhe também os debates políticos no Tempero da Notícia, no podcast 3 x 4 e diariamente na Central do Brasil. Você pode assinar o Ponto e os
outros boletins do Brasil de Fatoneste link aqui.
Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
El portal @metropoles revela audio de un exempleado de la familia Bolsonaro que confiesa haber sido obligado a devolver 80% de su salario en el gabinete legislativo de uno de los hijos del presidente. La exesposa de Bolsonaro comandaba el esquema. pic.twitter.com/Dxe2pdlzfI
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viralizaram ao errar o nome do chefe do executivo em uma tag levantada no Twitter nesta sexta-feira (27). A #TôContigoBoldonado tornou-se meme e alvo de críticas de internautas, que citam robôs, fakenews e disparo de correntes virtuais em grupos.
O erro no nome de Jair foi ironizado por muitos internautas.
“Os eleitores do Bolsonaro são tão idiotas que nem conferem uma tag”, escreveu
um usuário do Twitter. Uma segunda pessoa aproveitou a ocasião para cutucar o
segundo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro. “O
Carluxo programou o boot errado?”, questionou.
As críticas sobre o possível uso de robôs são baseadas na
hipótese de que o governo Bolsonaro utilizaria esse mecanismo para disparo de
notícias falsas contra opositores e de valorização da atual gestão.
Confira algumas reações:
Cara, eleitores do Bolsonaro são tão idiotas que nem conferem uma tag. #ToContigoBoldonaro
Grupos com milhares de usuários compartilham registros de
animais mortos ilegalmente, venda de armas e piadas com a fiscalização do Ibama
Grupo com quase 60 mil membros tem dicas de caça ilegal de
animais ameaçados de extinção
Vendedores de artigos de caça administram comunidades que
incentivam crimes
Regras do Facebook proíbem venda de armas ou caça ilegal –
mas grupos seguem ativos e crescendo
“Aqui se reuni [sic] os verdadeiros HOMEM DA MATA” diz a
descrição do grupo de Facebook “Homem da Mata Original”. Lá, mais de 66 mil
usuários compartilham dicas e experiências em caças ilegais, inclusive de
animais ameaçados de extinção. A prática não viola somente a lei brasileira,
mas também as diretrizes da plataforma.
As postagens incluem majoritariamente imagens e vídeos de
animais abatidos, entre eles pacas, capivaras, tatus, jacarés e javalis — o
último é o único animal cuja caça de controle sem crueldade é permitida, por se
tratar de espécie nociva e invasora. Os membros do grupo ainda compartilham
dicas para obtenção do registro de caçador, que permite o acesso às armas, além
de trocar experiências e receitas para o preparo dos animais. Piadas com a
possibilidade de fiscalização pelo Ibama são comuns.
“Você está filmando o flagrante e divulgando em uma rede
social”, resume a advogada Erika Bechara, professora de direito ambiental na
PUC-SP. “Eles estão chamando pessoas para ilegalidade com eles”, diz.
Imagem de capa do maior grupo de caça no Facebook
A Pública encontrou outros 13 grupos do mesmo tipo na rede
social. Todos voltados para caçadores e com postagens de caça ilegal. Em parte
deles, a reportagem identificou também postagens de venda de armas de fogo
entre usuários — outra violação da lei e das regras do Facebook, que proíbe
conteúdo que “tente comprar, vender, trocar, doar, presentear ou solicitar
armas de fogo, peças de armas, munição, explosivos ou substâncias letais entre
pessoas físicas, a menos que tal seja publicado por uma loja física real, um
site legítimo, uma marca ou uma agência do governo”.
Em retorno à reportagem, o Ibama afirmou que notificou o
Facebook em 13 de julho deste ano para que, em até sete dias, a rede
“suspendesse a divulgação de anúncios relativos à venda de animais silvestres,
partes ou produtos/subprodutos oriundos destes, quando não adequados à legislação
ambiental brasileira”. A rede respondeu e o processo está sendo analisado. O
órgão também afirmou que “em 2020, foram aplicados 58 autos de infração por
caça ilegal, totalizando multas no valor de R$1.138.500,00. Já em 2021, foram
14 autos de infração [até então], totalizando R$506.000,00”. O órgão não
comentou se considera que a publicização da caça ilegal pode estimular a
prática.
“99% dos que postam aqui neste grupo é caça ilegal”, diz
usuário de comunidade com quase 60 mil membros
No dia 7 de agosto de 2020, um dos membros do grupo “Caça e
Pesca Brasil”, com mais de 6,9 mil participantes, compartilhou uma imagem de um
tatu morto em cima de uma balança. “A maioria vê crime, mas alguns veem
farofa”, dizia a legenda.
Postagens desse tipo são comuns. Em outro grupo, intitulado
“Rota Caça e Pesca”, este com mais de 57 mil membros, um caçador postou foto de
um jacaré que levou um tiro na cabeça com a legenda “só pra quem gosta”.
“99% dos que postam aqui neste grupo é caça ilegal”, diz
usuário de comunidade com quase 60 mil membros
No dia 7 de agosto de 2020, um dos membros do grupo “Caça e Pesca Brasil”, com mais de 6,9 mil participantes, compartilhou uma imagem de um tatu morto em cima de uma balança. “A maioria vê crime, mas alguns veem farofa”, dizia a legenda.
Postagens desse tipo são comuns. Em outro grupo, intitulado “Rota Caça e Pesca”, este com mais de 57 mil membros, um caçador postou foto de um jacaré que levou um tiro na cabeça com a legenda “só pra quem gosta”.
Caçadores ironizam o abate ilegal de animais em grupos de
Facebook
Em ambos os casos, essas caças são ilegais — assim como na
maioria das postagens nos grupos analisados. “Quando a pessoa se registra como
caçador, ela só poderia estar caçando javalis. Qualquer outro abate de animal é
considerado crime”, explica Paulo Pizzi, biólogo e presidente do Mater Natura –Instituto de Estudos Ambientais.
Há exceções para casos de abate de animais que ameaçam
lavouras ou rebanhos, mas é necessária uma autorização do Ibama para cada caso
e indivíduo. Ainda é permitido abater animais em estado de necessidade, para
saciar a fome do agente ou de sua família, mas Pizzi afirma: “Isso é uma
possibilidade que não está bem regulamentada. Você tem muita controvérsia
nisso”.
Erika Bechara acrescenta que “a caça de subsistência é
daquela pessoa que não tem acesso a outras fontes de proteína animal, porque
mora muito longe, porque não tem nenhuma condição financeira. Então ela caça
para se manter, para atender às suas necessidades básicas e elementares. Você
não pode dizer que uma pessoa que vive em uma cidade, que pode comprar um
frango super barato, caça por estado de necessidade. Há aí um desvirtuamento da
norma”, explica.
Apesar de os caçadores compartilharem receitas de preparo de
suas caçadas para alimentação, não se trata de “estado de necessidade”, como
define a lei. O biólogo explica que nesses casos os animais são caçados “por
terem uma carne mais apreciada, como iguaria”, não como subsistência.
Os membros dos grupos de Facebook têm consciência de que
estão cometendo ilegalidades, mas se aproveitam da falta de fiscalização para
continuar com as práticas. Em 6 de maio de 2020, um novo integrante do grupo
“Rota e Caça” perguntou aos colegas: “Aqui no Brasil pode caçar o que
legalmente? O que é preciso para tal prática?”. Em resposta, um caçador
alertou: “Na verdade mesmo não pode caçar nada. Um ou outro porco com licença.
Muito difícil conseguir”, comentou. “99% dos que postam aqui neste grupo é caça
ilegal”, admitiu outro.
Membros dos grupos reconhecem que caça é ilegal no Brasil
A pena para a caça ilegal é de detenção de seis meses a um
ano, e multa, conforme a lei 9.605/98, mas há agravantes, por exemplo para a
caça noturna, prática comum nos grupos analisados. “Quando a lua está clara o
jeito é ir no jaca [jacaré]”, postou usuário no grupo “Aventuras de Caça e
Pesca” no dia 18 de agosto.
Há ainda postagens que exibem o uso de armadilhas e de cães
para a caça, o que pode ser considerado maus-tratos e aumentar a pena do crime.
No grupo “Amigos da Caça, Pesca e Armas”, usuários compartilharam vídeos com
instruções para fazer armadilhas para caça de animais menores como paca, tatu e
cutia.
O agravante dos maus-tratos não se aplica somente a esses
casos. Alguns usuários compartilham também vídeos que mostram os animais
caçados sendo torturados, como uma piada. “Grupo de caça só quem gosta
entende”, escreve um caçador ao postar vídeo no qual um homem segura pelo rabo
um tatu que tenta fugir enquanto cachorros mordem várias partes do corpo do
animal. Outros participantes do grupo “Aventuras de Caça e Pesca” chegaram a
considerar a situação extrema. “Pra que a covardia, dê ao bicho pelo menos uma
morte digna”, escreveu um homem nos comentários. “Sei que o grupo é de caça
mais [sic] um bichinho não precisa ser torturado assim.”
Outra situação que gera desentendimento entre os integrantes
dos grupos está ligada ao abate de animais prenhes ou recém-paridos. Em outro
post, feito em 14 de julho deste ano, um caçador publica uma foto de uma paca
morta, ao que outro comenta: “Ei parceiro a paca tava buchuda ou parida esses
tempos as femias [sic] estão criando”. A foto gera um debate entre os que
defendem e os que rechaçam a situação, com insultos e xingamentos.
Caçadores fazem piada com a extinção de espécies pela caça
ilegal
De acordo com o Livro Vermelho – Manual das EspéciesAmeaçadas de Extinção, produzido por pesquisadores do ICMbio e publicado em
2018, a caça é o quinto fator que mais ameaça os animais silvestres, antecedido
pela agropecuária, expansão das áreas urbanas, produção de energia e poluição.
Segundo Paulo Pizzi, a caça também é uma das principais causas da defaunação —
processo de desaparecimento de animais em áreas de floresta —, junto com a alteração
de hábitats e atropelamentos. A Pública constatou que vários dos animais
abatidos que aparecem em postagens nesses grupos estão ameaçados de extinção,
em diferentes níveis.
Donos de lojas de caça administram contas e grupos
“Bem vindo as trilhas [sic] do Rancho Branco. Não mate nada
além do tempo, não tire nada além de fotos”, diz a placa do Portal Ecotur
Rancho Branco, em Bodoquena, Mato Grosso do Sul, no Pantanal. O ecoresort, onde
interessados podem acampar e fazer trilhas, é ligado a Hudson Nunes, dono e
único sócio da marca Homem do Mato, de venda de artigos de caça, e
administrador dos grupos de Facebook “Homem do Mato Caça e Pesca”, com 205 mil
membros, e “Caça e Pesca Homem do Mato”, com mais de 5 mil membros.
Fotos no Instagram do portal Ecotur Rancho Branco pregam
preservação ambiental
Neste segundo grupo — criado para caso o original seja
desativado pela moderação, conforme descrito na própria página — são
compartilhadas fotos de armas e de animais abatidos, além de dicas de caça e
cozimento. A maioria das fotos mostra javalis, mas a reportagem encontrou
também animais cuja caça não é permitida. O grupo é utilizado também para
divulgar a marca de seu administrador, que já na descrição escreve: “É
OBRIGATÓRIO [caixa-alta do original] curtir nossa página oficial no
Facebook”.
Após a publicação da reportagem, Hudson Nunes admitiu ser
proprietário dos grupos citados pela Pública, mas negou a existência de
postagens de caçadas ilegais. “Os grupos administrados por mim são um dos
poucos grupos que seguem a risca sobre postagens de animais exóticos. NENHUMA
postagem de animal exótica é permitida em nosso grupo, todo conteúdo enviado no
grupo passa pela fiscalização de nossos administradores para depois ser
aprovado no grupo”, disse. “Lá 90% do conteúdo são sobre curiosidades da vida
no mato, videos engraçados, dicas de pesca e as vezes algumas fotos de CAÇADAS
LEGAIS de javalis, onde são feitas por controladores licenciados!”, completou.
Nunes também ressaltou que: “Eu não sou proprietário do
Portal Ecotur, eu prestei serviço de mídia social apenas por um tempo e é um
lugar que frequento com frequência, pois sou um amante da natureza e até onde
sei isso não é ilegal não é mesmo?”, questionou.
Sobre a loja Homem do Mato, ele afirmou ser “proprietário e criador
da marca e das mídias sociais.” “Tenho uma empresa que trabalha com produtos de
caça e pesca, porém não comercializamos armas de fogo (ainda não), estamos
aguardando a liberação dos órgãos compententes”, contou.
Em seu perfil pessoal no Instagram, onde declara a sua
relação tanto com a marca de caça quanto com o rancho ecológico, Nunes publica
fotos e vídeos atirando com espingardas no local que busca atrair turistas com
belezas naturais e preservação da natureza.
“E essa surpresa na hora do mergulho!”, escreve Nunes em um
Reels em seu perfil pessoal na rede. O vídeo mostra uma arraia que nada em um
rio. “Muitos a temem, mas acredite, é menos ofensiva do que se imagina e casos
por ferroada de arraia são muito raros por aqui”, explica no post. Logo depois,
em post compartilhado também no perfil do Homem do Mato, a abordagem muda.
“Saudade de uma porçãozinha exótica”, é a legenda da foto que mostra o próprio
Nunes preparando a carne de uma arraia morta e estendida em uma mesa.
No perfil do Homem do Mato no Instagram, Nunes é marcado e
indicado como administrador responsável por uma série de posts que mostram
armas de fogo e abate de animais, além da publicidade dos produtos da loja, que
vende bonés, camisetas, lanternas, utensílios de churrasco e carabinas de
pressão. Em outubro de 2018 foi publicada uma foto de Nunes vestindo o boné da
empresa e uma camiseta em apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, pelo PSL, à
Presidência. “O boné tá na cabeça certa!!”, afirma a legenda.
Hudson Nunes declarou apoio a Bolsonaro
A empresa administra também um perfil +18 sobre caça na
rede, de conteúdo desconhecido pela reportagem, já que a conta é privada. A
bio, entretanto, oferece uma dica sobre os posts: “CONTEÚDO AGRESSIVO”. A
moderação do próprio Instagram havia barrado conta semelhante, o que foi
denunciado pelo perfil da loja: “Lembra daquele perfil agressivo que o insta
derrubou? Criei outro e mais de 3600 pessoas seguiram só hoje”.
Nos perfis do ecoresort, entretanto, não há violência ou
agressividade. São as belas paisagens naturais que tomam o feed. Nunes aparece
pouco.
Outra loja de nome parecido, a Homem da Mata, também se
destaca. Seu dono, Márcio Barros de Paula, é administrador de pelo menos oito
grupos sobre caça e pesca no Facebook. O caçador tem no mínimo cinco perfis de
Facebook usados para moderar os grupos, com variações de seu nome.
Além de criar grupos e publicar compilados de vídeos, memes
e dicas relacionadas à caça, Barros vende camisetas camufladas com a marca
“Homem da Mata”.
A Pública procurou Marcio Barros, mas não obteve resposta
até a publicação da reportagem.
Ministro de Bolsonaro e deputados querem flexibilizar a caça
no Brasil
“Na sua opinião qual o animal deveria ser liberado a caça?”,
perguntou Barros em uma enquete fixada no grupo “Homem da Mata Original”.
“Capivara, porque é uma praga esse trem”, comentou um dos integrantes. A
espécie ficou em primeiro lugar na enquete, com 174 votos, seguida por cateto ou
queixadas – tipo de porco do mato, parecido com javali. Nos comentários,
contudo, os caçadores defendiam uma liberação ainda maior. “Deveria liberar 3
espécies por temporada”, comentou um deles.
A demanda não se restringe aos grupos de caçadores. O próprio
presidente, à época candidato, já assumiu ser a favor da “burocracia zero” para
a prática desse “esporte saudável”. Em vídeo publicado pela Associação Nacionalde Caça e Conservação (ANCC), em 20 de julho de 2018, Bolsonaro elogia os
caçadores. “Um grande abraço a todos vocês. Meus parabéns pela forma como
encaram esse esporte, se deus quiser a partir do ano que vem, burocracia zero,
vamos implementar, porque é um esporte saudável.” Afirma também que buscará
garantir a posse de arma à categoria e finaliza: “Caçadores, parabéns, ‘tamo
junto”.
Cinco dias depois, o então candidato negou sua própria
afirmação em vídeo publicado no canal de YouTube de seu filho Eduardo
Bolsonaro, e no Twitter do presidente. “Não sou favorável à caça, mais um fake
news, defendo animais sim”, afirmou o então candidato. “O assunto era javali,
tanto é que ele cortou a parte do vídeo que eu falava em javali”, acusa.
Bolsonaro afirma que o vídeo foi editado pelo homem que o postou pela primeira
vez em 23 de julho. Porém, a informação é falsa: o conteúdo original, postado
pela ANCC, está disponível desde o dia 20 e não fala em javali.
A movimentação chega também ao Congresso Nacional. Há
pelo menos seis projetos de lei (PL) que tramitam e querem flexibilizar a caça
no Brasil.
O PL 7.136/2010, do deputado e ministro do Trabalho e
Previdência de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), busca transferir às
autoridades locais (municipais ou estaduais) a responsabilidade pela
autorização de caça. Lorenzoni pediu o desarquivamento da proposta na atual
legislatura.
Outros projetos querem abrir brecha para que seja ampliada a
quantidade de espécies permitidas para a caça, como o PL 4.829/2020, do
deputado Ronaldo Santini (PTB-RS), que busca regulamentar a caça de espécies
silvestres nativas com “comprovada nocividade”, quando consideradas em
“desequilíbrio populacional”. O texto cita animais como “os jacarés no Pantanal
ou capivaras em diversos municípios brasileiros”.
O mais famoso dos PLs é o 6.268/2016, do ex-deputado Valdir
Colatto (MDB-SC), que cria uma Política Nacional de Fauna que inclui a
possibilidade de abate de animais silvestres e a implementação de reservascinegéticas em propriedades privadas, ou seja, fazendas de caça. “Eles nem
colocaram o nome de fazenda de caça para não chamar a atenção para o
propósito”, avalia Erika Bechara. O projeto está entre as prioridades da
bancada ruralista no Congresso, conforme revelou reportagem do UOL.
“Há uma grande pressão da indústria bélica incentivando
esses deputados”, diz o presidente da Mater Natura. “Eles estão fazendo lotes
[de projetos]. Jogando em lotes para que um desses projetos passe.”
Com Bolsonaro, caçadores podem ter mais que o dobro de armas
e 15 vezes mais munição
Caçadores têm acesso privilegiado a armas no Brasil, junto
com colecionadores e atiradores – os chamados CACs. Para isso, precisam
solicitar um registro ao Exército, mediante a apresentação de filiação à
entidade de caça. Postagens nos grupos prometem facilitar tanto esse processo,
que permite o acesso a armas, quanto o cadastro no Ibama, que regulariza efetivamente
o ato de caçar.
No grupo de WhatsApp, “Caçadores de Pacas”, um usuário de
nome “atirador” compartilha uma propaganda: “Descubra como tirar o CR de CAC de
forma simplificada e barata”. O anúncio leva o mesmo logo do grupo Brasil CAC,
que oferece o mesmo serviço como um brinde àqueles que se inscrevem no curso
on-line de caça de javali. “A forma mais vantajosa de ter acesso a arma de fogo
é se tornando CAC”, argumenta a organização em seu site.
Anúncio publicado em grupos no Facebook oferece como brinde
autorização de caça
Até 2019, os caçadores poderiam comprar até 12 armas, além
de 6 mil munições anuais e 2 kg de pólvora. Hoje, têm acesso a até 30 armas,
sendo 15 de uso restrito e 15 de uso permitido, além de 90 mil munições e 20 kg
de pólvora por ano. Com a facilitação do acesso, aumentou em 59% o número de
armas registradas no Exército em dois anos, de acordo com levantamento do
jornal O Globo. Segundo informação obtida pela Pública via Lei de Acesso àInformação, somente em 2021 (de janeiro a 9 de agosto), o Exército registrou
19.042 novos colecionadores, atiradores ou caçadores.
A facilitação foi vista com bons olhos pelos membros dos
grupos. “Amigos CAC, tão ligados que foi liberado calibre 22 para caça? Antes
não era permitido, agora é. Quem gosta, ta na hora!”, comemorou um membro do
grupo “Aventuras de Caça e Pesca” em março de 2020.
Entretanto, Erika Bechara destaca que “não é porque a
legislação e os decretos do Bolsonaro ampliam a quantidade de armas e de
munição para caçador esportivo que a caça esportiva se torna legal. O caçador
esportivo só pode caçar se a lei permitir, e hoje a lei não permite, só permite
a caça de controle [do javali]”.
A diretora executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina
Ricardo, vê a flexibilização com preocupação. “A nossa preocupação é que são
categorias [CACs] que têm muito pouca fiscalização, onde acabam acontecendo
desvios. Elas [as armas] são roubadas, elas são furtadas, ou elas são desviadas
propositadamente”, diz.
Possíveis desvios podem ser identificados no próprio
Facebook. A reportagem encontrou postagens de compra e venda informal de
armamentos em pelo menos quatro dos grupos analisados. A comercialização de
armas no Brasil só é permitida mediante autorização e registro no Exército – no
caso de CACs – ou na Polícia Federal, mas as ofertas nos grupos não fazem
referência a nenhum tipo de registro e muitas vezes são direcionadas para o
inbox ou número de celular do vendedor.
Caçador oferece arma para venda no grupo “Caça e Pesca
Brasil”
“É um mercado que é muito pouco transparente, que pelas
plataformas não deveria acontecer”, defende Carolina Ricardo.
O Facebook proíbe a venda de armas de fogo dentro da rede
social e diz que está investindo esforços em proibir a prática, mas reportagem
do Núcleo Jornalismo mostrou que a plataforma ainda tem sido usada para
comercialização de armamentos.
Regras do Facebook proíbem caça ilegal – mas grupos
permanecem ativos e com milhares de usuários
De acordo com as regras de comunidade do Facebook, não são
permitidas postagens de caça ilegal. O conteúdo está enquadrado na política de
produtos controlados da plataforma, que proíbe publicações que admitam caçar
ilegalmente, mostrem a caça ilegal, forneçam instruções sobre como usar ou
fazer produtos com espécies ameaçadas ou até falem de forma positiva, coordenem
ou incentivem a caça ilegal.
No entanto, os grupos encontrados pela reportagem infringem
todas essas regras, e a plataforma parece ciente de que isso ocorre. É o que
demonstra o aviso que aparece assim que um usuário tenta entrar no maior grupo
que a reportagem identificou, “Homem do Mato Caça e Pesca”. “Analise este grupo
antes de participar”, alerta a rede, que mantém o material no ar para mais de
200 mil usuários.
Algumas das postagens relacionadas à caça inclusive são
tarjadas como “conteúdo sensível” pela plataforma, mas continuam disponíveis.
Facebook alerta usuários sobre violações de suas políticas
no grupo “Homem do Mato Caça e Pesca”
Há também registros de postagens e grupos que foram
excluídos pelo Facebook, mas que conseguiram voltar à plataforma. “Boa noite
galera do grupo, quem estava no grupo Caça e Pesca Bruta Brasil o Face excluiu
ele por denúncias, por isso ele não está aparecendo. Mais [sic] temos esse aqui
e logo estaremos grandes como o outro. Abraços”, postou o administrador do
grupo “Aventuras de Caça e Pesca”.
Uma conta da empresa Homem do Mato também foi derrubada pela
moderação da rede, de acordo com a biografia do perfil atual, chamado “Homem do
Mato TV”. “Nossa Página com 500 mil seguidores foi tirada do ar, estamos com
essa conta nova”, escrevem. A página atual tem pouco mais de 30 mil curtidas e
o mesmo teor dos outros perfis.
Com ainda menos fiscalização, caçadores também se reúnem em
grupos de WhatsApp. A reportagem identificou ao menos quatro grupos na plataforma
voltados para caça ilegal.
Para Paulo Pizzi, a criação de grupos voltados para a caça
ilegal nas redes sociais tem aumentado o interesse das pessoas pela caça – que
estava em declínio nas comunidades urbanas até então.
Em resposta à reportagem, o Facebook disse que “não permite
a promoção de caça ilegal de espécies em risco de extinção e proíbe conteúdos
de compra ou venda de armas de fogo, a menos que sejam feitos por loja física
real, um site legítimo, uma marca ou uma agência do governo”. Informou também
que “os conteúdos e os grupos apontados pela reportagem que violavam essas
regras foram removidos”.
Até a data de publicação desta reportagem, oito dos 14
grupos encontrados continuavam ativos – apenas seis foram excluídos pelo
Facebook. Assim que a plataforma fez as exclusões, novos grupos começaram a
surgir. “Amigos, peço que entrem no grupo Homem da Mata Original. O Facebook
excluiu por ser contra a caça”, convida mensagem em grupo de WhatsApp.
Mais uma mentira a meu respeito. Eu nunca fui favorável à liberação da caça de forma irracional. Os “ativistas” sabem disso e divulgam propositamente para somente denegrir. ASSISTA: pic.twitter.com/jkhHvcoP3G