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sexta-feira, 16 de abril de 2021

Sérgio Moro participa de negociações secretas entre Brasil e Estados Unidos sobre a Amazônia


O desonrado juiz Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sérgio Moro, em uma reunião privada bilateral EUA-Brasil sobre a floresta amazônica é motivo de preocupação. Sem cargo divulgado junto ao governo dos Estados Unidos ou do Brasil, quais interesses ele representa?



As negociações a portas fechadas entre a administração de Joe Biden e o regime de Bolsonaro estão enfrentando oposição feroz; uma nova campanha insta Biden a encerrar as negociações secretas sobre o futuro da Amazônia, depois que uma coalizão de 199 grupos da sociedade civil entregou uma carta ao governo dos Estados Unidos exigindo que qualquer discussão sobre o futuro da floresta tropical inclua o povo brasileiro.

Mas um  relato da última reunião, vazado para o Sentinel da Kennesaw State University , revela um novo componente que vai causar preocupação e confusão no Brasil: Sérgio Moro.

O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e o desgraçado juiz de Lava Jato levaram o presidente de extrema direita ao poder ao prender Lula da Silva. Após a anulação das acusações contra Lula , Moro agora enfrenta investigação pelo Supremo Tribunal Federal pelo crime de parcialidade judicial no processo e na prisão do ex-presidente.

No encontro virtual, com políticos, economistas, diplomatas e empresários brasileiros, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, insistiu que a cúpula dos líderes climáticos de Joe Biden na próxima semana seria “a última chance do Brasil de mostrar sua preocupação ambiental, restaurar a confiança americana e expandir relações com a Casa Branca. ”

A presença de Moro nessas reuniões da Amazon é, no mínimo, incongruente. Ele não é mais membro do governo brasileiro e não possui cargo divulgado junto ao governo dos Estados Unidos ou suas agências. Para quem ele está trabalhando? Quem ele está representando?

Recentemente, ele assumiu uma  posição de parceria / diretoria com a empresa de consultoria global com sede nos EUA, Alvarez & Marsal . Quando o contratou, a empresa apresentou o ex-juiz como um especialista em “principais investigações anticorrupção” e “aconselhando clientes sobre estratégia regulatória e conformidade”.

A linha do tempo conhecida das conexões de Moro com os Estados Unidos remonta a quase 25 anos. Muito antes de ser retratado heroicamente no New York Times e na revista Time, que o nomeou entre as 100 pessoas do ano em 2016.

De um programa de intercâmbio na Harvard Law School em 1998, Moro então participou do Programa de Liderança de Visitantes Internacionais do Departamento de Estado dos EUA , “visitando agências e instituições dos EUA responsáveis ​​pela prevenção e combate à lavagem de dinheiro”.

A partir de 2009, nós o vemos vinculado ao Projeto Bridges, um esforço secreto dos EUA para estimular os funcionários públicos brasileiros a cumprir os objetivos geopolíticos revelados em telegramas vazados do Departamento de Estado . A “ colaboração informal ” do DOJ / FBI com a Operação Lava Jato surgiu do Projeto Pontes ou Pontes , e a investigação anticorrupção estava efetivamente operando como agência dos EUA, proporcionando tanto o cenário político para o impeachment de Dilma Rousseff, quanto a prevenção do retorno de Lula ao presidência dois anos depois.

Ao entrar no governo em janeiro de 2019, Moro acompanhou Bolsonaro à sede da CIA em Langley , a primeira visita de um presidente brasileiro na história. Como chefe do novo ministério da justiça e segurança, Moro supervisionou a grande expansão da jurisdição do FBI e alcance dentro do território soberano brasileiro, incluindo o estabelecimento dos chamados centros de coleta de inteligência Fusion . Em conversas que vazaram, o promotor-chefe de Lava Jato, Deltan Dellagnol, chamou a prisão de Lula de “ um presente da CIA ”.

Então, em que posição e em nome de quem Sérgio Moro está participando de negociações confidenciais entre os Estados Unidos e o Brasil sobre política ambiental? E para qual país?

Uma pista pode estar no que dizem que ele disse na reunião e em sua conversa com o embaixador dos EUA, Chapman. De acordo com o relato anônimo da reunião:

“Moro, por sua vez, perguntou se havia algo que o setor privado pudesse fazer se o governo brasileiro não cooperasse com o meio ambiente e ouviu de Chapman que muitas empresas americanas estão exigindo uma resposta mais agressiva ao meio ambiente, porque não o fazem querem pagar em nome dos envolvidos em ilegalidades e desmatamento. ”

As empresas que mais investem no desmatamento na Amazônia são membros do lobby / think tank de Wall Street Conselho das Américas , que está intrinsecamente relacionado ao Departamento de Estado, compartilhando muitos funcionários antigos e atuais, e realizando seu evento anual em sua sede o Harry S. Truman prédio.

O Conselho das Américas promoveu sem fôlego Sérgio Moro, Lava Jato e a guerra contra a corrupção no Brasil e na América Latina, o que trouxe benefícios imediatos para seus membros como Cargill, Blackrock, Rio Tinto e Chevron. Mesmo depois dos incêndios que varreram a região em 2019 , em fevereiro de 2020, sua revista interna Americas Quarterly publicou um artigo afirmando que “ o plano de Bolsonaro para a Amazônia tem verdadeiras razões para ter esperança ”. No Fórum Econômico Mundial de Davos 2017, o procurador-geral brasileiro Rodrigo Janot disse aos participantes que Lava Jato era “pró-mercado ”, uma posição política que não deveria ter. Dois anos depois, com Bolsonaro no poder, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos tentou premiar oForça-tarefa Lava Jato uma propina de $ 672 milhões de dólares .

Independentemente da administração, republicana ou democrata, sempre que os Estados Unidos negociarem pela Amazônia será sempre em nome desses interesses corporativos arraigados, ao lado de quaisquer novas preocupações ambientais que possam ocupar as manchetes.

Nesse sentido, a participação de Moro nesta reunião talvez não seja surpreendente ...

Fonte: Brasil Wire


Jessé Souza

A relação íntima da Lava-Jato com os Estados Unidos - 20 de mar. de 2020

As recentes descobertas da Vaza-Jato relacionadas ao envolvimento dos Estados Unidos com a Lava-Jato são muito importantes na medida em que revelam a íntima relação entre os agentes públicos brasileiros, na figura de juízes e promotores, e o Departamento de Estado norte-americano. Essas informações comprovam por fim o que já intuíamos: o envolvimento direto dos Estados Unidos com os desdobramentos históricos ocorridos no Brasil nos últimos seis anos, indo desde ao desmonte de empresas como Petrobras e Odebrecht, passando pelo impeachment de Dilma, o governo Temer, a prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro, o representante político de uma verdadeira quadrilha.

Dessa forma, os Estados Unidos adotaram a estratégia de fazer uso de suas leis internas de combate à corrupção, aplicáveis apenas dentro do território norte-americano, e buscaram expandí-las para além de suas fronteiras, de modo a favorecer seus interesses particulares. Tudo isso é parte do DNA do imperialismo dos Estados Unidos, tema que discuto em profundidade no meu novo livro “A guerra contra o Brasil”. O discurso de defesa da democracia, do combate à corrupção e da defesa dos direitos humanos oculta os reais objetivos desse conluio: beneficiar as grandes corporações dos Estados Unidos e enfraquecer a competitividade das empresas brasileiras. Os encontros ocorridos entre juízes e promotores da Lava-Jato com autoridades norte-americanas foram realizados sem o conhecimento do Ministério da Justiça brasileiro e do à época ministro da Justiça, o que evidencia a sua ilegalidade e falta de transparência. Estamos, portanto, falando de um crime grave, constituído em encontros ilegais e no fornecimento de informações brasileiras estratégicas para o governo norte-americano.

Assista ao VÍDEO


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sábado, 10 de abril de 2021

Jornal francês mostra como os EUA usaram a "lava jato" para seus próprios fins


O que começou como a "maior operação contra a corrupção do mundo" e degenerou no "maior escândalo judicial do planeta" na verdade não passou de uma estratégia bem-sucedida dos Estados Unidos para minar a autonomia geopolítica brasileira e acabar com a ameaça representada pelo crescimento de empresas que colocariam em risco seus próprios interesses.



 

A história foi resgatada em uma reportagem do jornal francês Le Monde Diplomatique deste sábado (10/4), assinada por Nicolas Bourcier e Gaspard Estrada, diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe (Opalc) da universidade Sciences Po de Paris.

Tudo começou em 2007, durante o governo de George W. Bush. As autoridades norte-americanas estavam incomodadas pela falta de cooperação dos diplomatas brasileiros com seu programa de combate ao terrorismo. O Itamaraty, na época, não estava disposto a embarcar na histeria dos EUA com o assunto.

Para contornar o desinteresse oficial, a embaixada dos EUA no Brasil passou a investir na tentativa de criar um grupo de experts locais, simpáticos aos seus interesses e dispostos a aprender seus métodos, "sem parecer peões" num jogo, segundo constava em um telegrama do embaixador Clifford Sobel a que o Le Monde teve acesso.

Sergio Moro aprendeu os métodos 
norte-americanos de defender 
os interesses norte-americanos
 fora dos EUA

Assim, naquele ano, Sergio Moro foi convidado a participar de um encontro, financiado pelo departamento de estado dos EUA, seu órgão de relações exteriores. O convite foi aceito. Na ocasião, fez contato com diversos representantes do FBI, do Departament of Justice (DOJ) e do próprio Departamento de Estado dos EUA (equivalente ao Itamaraty).

Para aproveitar a dianteira obtida, os EUA foram além e criaram um posto de "conselheiro jurídico" na embaixada brasileira, que ficou a cargo de Karine Moreno-Taxman, especialista em combate à lavagem de dinheiro e ao terrorismo.

Por meio do "projeto Pontes", os EUA garantiram a disseminação de seus métodos, que consistem na criação de grupos de trabalho anticorrupção, aplicação de sua doutrina jurídica (principalmente o sistema de recompensa para as delações), e o compartilhamento "informal" de informações sobre os processos, ou seja, fora dos canais oficiais. Qualquer semelhança com a "lava jato" não é mera coincidência.

Em 2009, dois anos depois, Moreno-Taxman foi convidada a falar na conferência anual dos agentes da Polícia Federal brasileira, em Fortaleza. Diante de mais de 500 profissionais, a norte-americana ensinou os brasileiros a fazer o que os EUA queriam: "Em casos de corrupção, é preciso ir atrás do 'rei' de maneira sistemática e constante, para derrubá-lo."

"Para que o Judiciário possa condenar alguém por corrupção, é preciso que o povo odeie essa pessoa", afirmou depois, sendo mais explícita. "A sociedade deve sentir que ele realmente abusou de seu cargo e exigir sua condenação", completou, para não deixar dúvidas.

O nome do então presidente Lula não foi citado nenhuma vez, mas, segundo os autores da reportagem, estava na cabeça de todos os presentes: na época, o escândalo do "Mensalão" ocupava os noticiários do país.


Semente plantada 


O PT não viu o monstro que estava sendo criado, prosseguem os autores. As autoridades estrangeiras, com destaque para um grupo anticorrupção da OCDE, amplamente influenciado pelos EUA, começaram a pressionar o país por leis mais duras de combate à corrupção.

Nesse contexto, Moro foi nomeado, em 2012, para integrar o gabinete de Rosa Weber, recém indicada para o Supremo Tribunal Federal. Oriunda da Justiça do Trabalho, a ministra precisava de auxiliares com expertise criminal para auxiliá-la no julgamento. Moro, então, foi um dos responsáveis pelo polêmico voto defendendo "flexibilizar" a necessidade de provas em casos de corrupção.

"Nos delitos de poder, quanto maior o poder ostentado pelo criminoso, maior a facilidade de esconder o ilícito. Esquemas velados, distribuição de documentos, aliciamento de testemunhas. Disso decorre a maior elasticidade na admissão da prova de acusação", afirmou a ministra em seu voto.

O precedente foi levado ao pé da letra pelo juiz e pelos procuradores da "lava jato" anos depois, para acusar e condenar o ex-presidente Lula no caso do tríplex.

Em 2013, a pressão internacional fez efeito, e o Congresso brasileiro começou a votar a lei anticorrupção. Para não fazer feio diante da comunidade internacional, os parlamentares acabaram incorporando mecanismos previstos no Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), uma lei que permite que os EUA investiguem e punam fatos ocorridos em outros países. Para especialistas, ela é instrumento de exercício de poder econômico e político dos norte-americanos no mundo.

Em novembro daquele mesmo ano, o procurador geral adjunto do DOJ norte-americano, James Cole, anunciou que o chefe da unidade do FCPA viria imediatamente para o Brasil, com o intuito de "instruir procuradores brasileiros" sobre as aplicações do FCPA.

Sem apoio parlamentar e castigada 
pela opinião pública, Dilma Rousseff deu
 aval a medidas que acabariam 
com os planos do PT

A nova norma preocupou juristas já na época. O Le Monde cita uma nota de Jones Day prevendo que a lei anticorrupção traria efeitos deletérios para a Justiça brasileira. Ele destacou o caráter "imprevisível e contraditório" da lei e a ausência de procedimentos de controle. Segundo o documento, "qualquer membro do Ministério Público pode abrir uma investigação em função de suas próprias convicções, com reduzidas possibilidades de ser impedido por uma autoridade superior".

Dilma Rousseff, já presidente à época, preferiu não dar razões para mais críticas ao seu governo, que só aumentavam, e sancionou a lei, apesar dos alertas. 

Em 29 de janeiro de 2014, a lei entrou em vigor. Em 17 de março, o procurador-geral da República da época, Rodrigo Janot, chancelou a criação da "força-tarefa" da "lava jato". Desde seu surgimento, o grupo atraiu a atenção da imprensa, narra o jornal. "A orquestração das prisões e o ritmo da atuação do Ministério Público e de Moro transformaram a operação em uma verdadeira novela político-judicial sem precedentes", afirmam Bourcier e Estrada.


Lição aprendida


No mesmo momento, a administração de Barack Obama nos EUA dava mostras de seu trabalho para ampliar a aplicação do FCPA e aumentar a jurisdição dos EUA no mundo. Leslie Caldwell, procuradora-adjunta do DOJ, afirmou em uma palestra em novembro de 2014: "A luta contra a corrupção estrangeira não é um serviço que nós prestamos à comunidade internacional, mas sim uma medida de fiscalização necessária para proteger nossos próprios interesses em questões de segurança nacional e o das nossas empresas, para que sejam competitivas globalmente."

O que mais preocupava os EUA era a autonomia da política externa brasileira e a ascensão do país como uma potência econômica e geopolítica regional na América do Sul e na África, para onde as empreiteiras brasileiras Odebrecht, Camargo Corrêa e OAS começavam a expandir seus negócios (impulsionadas pelo plano de criação dos "campeões nacionais" patrocinado pelo BNDES, banco estatal de fomento empresarial).

"Se acrescentarmos a isso as relações entre Obama e Lula, que se deterioravam, e um aparelho do PT que desconfiava do vizinho norte-americano, podemos dizer que tivemos muito trabalho para endireitar os rumos", afirmou ao Le Monde um ex-membro do DOJ encarregado da relação com os latino-americanos.

A tarefa ficou ainda mais difícil depois que Edward Snowden mostrou que a NSA (agência de segurança dos EUA) espionava a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras, o que esfriou ainda mais a relação entre Brasília e Washington.

Vários dispositivos de influência foram então ativados. Em 2015, os procuradores brasileiros, para dar mostras de boa vontade para com os norte-americanos, organizaram uma reunião secreta para colocá-los a par das investigações da "lava jato" no país. 

Eles entregaram tudo o que os americanos precisavam para detonar os planos de autonomia geopolítica brasileiros, cobrando um preço vergonhoso: que parte do dinheiro recuperado pela aplicação do FCPA voltasse para o Brasil, especificamente para um fundo gerido pela própria "lava jato". Os americanos, obviamente, aceitaram a proposta.

Dilma empossa Lula como ministro da 
Casa Civil, antes da divulgação ilegal 
de grampo ilegal de 
telefonema entre os dois

 A crise perfeita

Vendo seu apoio parlamentar derreter, em 2015 Dilma decidiu chamar Lula para compor seu governo, uma manobra derradeira para tentar salvar sua coalizão de governo, conforme classificou o jornal. Foi quando o escândalo explodiu: Moro autorizou a divulgação ilegal da interceptação ilegal de um telefonema entre Lula e Dilma, informando a Globo, no que veio a cimentar o clima político para a posterior deposição da presidente em um processo de impeachment. Moro, depois, pediu escusas pela série de ilegalidades, e o caso ficou por isso mesmo.

Os EUA estavam de olho nas turbulências. Leslie Backshies, chefe da unidade internacional do FBI e encarregada, a partir de 2014, de ajudar a "lava jato" no país, afirmou que "os agentes devem estar cientes de todas as ramificações políticas potenciais desses casos, de como casos de corrupção internacional podem ter efeitos importantes e influenciar as eleições e cenário econômico". "Além de conversas regulares de negócios, os supervisores do FBI se reúnem trimestralmente com os advogados do DoJ para revisar possíveis processos judiciais e
as possíveis consequências."

Assim, foi com conhecimento de causa que as autoridades norte-americanas celebraram acordo de "colaboração" com a Odebrecht, em 2016. O documento previa o reconhecimento de atos de corrupção não apenas no Brasil, mas em outros países nos quais a empresa tivesse negócios. Caso recusasse, a Odebrecht teria suas contas sequestradas, situação que excluiria o conglomerado do sistema financeiro internacional e poderia levar à falência. A Odebrecht aceitou a "colaboração".

A "lava jato" estava confiante de sua vantagem, apesar de ter ascendido sem a menor consideração pelas normas do Direito. "Quando Lula foi condenado por 'corrupção passiva e lavagem de dinheiro', em 12 de julho de 2017, poucos relatos jornalísticos explicaram que a condeação teve base em 'fatos indeterminados'", destacou o jornal.

Depois de condenar Lula e tirá-lo de jogo nas eleições de 2018, Sergio Moro colheu os louros de seu trabalho ao aceitar ser ministro da Justiça do novo presidente Jair Bolsonaro. Enquanto isso, os norte-americanos puderam se gabar de pôr fim aos esquemas de corrupção da Petrobras e da Odebrecht, junto com a capacidade de influência e projeção político-econômica brasileiras na América Latina e na África. Os procuradores da "lava jato" ficaram com o prêmio de administrar parte da multa imposta pelos EUA à Petrobras e à Odebrecht, na forma de fundações de Direito privado dirigida por eles próprios em parceria com a Transparência Internacional.

Conversão lucrativa
A recompensa que Sergio Moro escolheu para si também foi o início do fim de seu processo de canonização. Depois da eleição de Bolsonaro, veio à tona o escândalo da criação do fundo da Petrobras. O ministro Alexandre de Moraes frustrou os planos dos procuradores ao determinar a dissolução do fundo e direcionar o dinheiro para outras finalidades.

Em maio de 2019, o The Intercept Brasil começou a divulgar conversas de Telegram entre procuradores e Moro, hackeadas por Walter Delgatti e apreendidas pela Polícia Federal sob o comando do próprio Moro, enquanto ministro da Justiça. Elas mostram, entre outros escândalos, como Moro orientou os procuradores, e como estes últimos informaram os EUA e a Suíça sobre as investigações e combinaram a divisão do dinheiro.

Depois de pedir demissão do Ministério, Moro seguiu o mesmo caminho lucrativo de outros ex-agentes do DOJ e passou a trabalhar para o setor privado, valendo-se de seu conhecimento privilegiado sobre o sistema judiciário brasileiro em casos célebres para emitir consultorias, um posto normalmente bastante lucrativo. A Alvarez e Marsal, que o contratou, é administradora da recuperação judicial da Odebrecht.

Fonte: Conjur


Neste documentário financiado pela comunidade da TV 247, o repórter Joaquim de Carvalho e o cinegrafista Thiago Monteiro revelam como o hacker Walter Delgatti Neto interceptou mensagens dos procuradores da Lava Jato e obteve mensagens que comprovam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de perseguição judicial, num processo internacional de lawfare. Joaquim de Carvalho deixa um questionamento para os que zelam pelo estado de direito: os crimes da Lava Jato ficarão impunes?


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quinta-feira, 11 de março de 2021

Novo áudio-bomba confirma crime de traição nacional cometido por Deltan Dallagnol


No diálogo, o procurador de Curitiba fala sobre como negociou com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre a destinação de recursos da Petrobrás



247Um novo áudio-bomba, entregue nesta terça-feira pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal, confirma o que muitos já sabiam. O procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa de Curitiba cometeu o crime de traição nacional e negociou com autoridades do Departamento de Justiça dos Unidos, o DoJ, a destinação de recursos da Petrobrás, que formariam um fundo que, no Brasil, beneficiaria integrantes da própria Lava Jato.

A cooperação informal com autoridades estadunidenses se deu à margem das leis brasileiras e confirma que Dallagnol usou seu poder de investigação para favorecer um outro país, no caso, os Estados Unidos. As mensagens obtidas por Walter Delgatti também deixam claro que Dallagnol zombou da quebra de empresas brasileiras. Estudos apontam que a Lava Jato destruiu 4,4 milhões de empregos no Brasil e derrubou o PIB nacional, mas Dallagnol negociou com os Estados Unidos como poderia receber recursos da Petrobrás. Inscreva-se na TV 247 e confira o áudio:



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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

"Lava jato" discutiu divisão do dinheiro da Odebrecht com EUA e Suíça


Novas mensagens apreendidas na operação spoofing indicam que procuradores da "lava jato" tinham consciência de que os americanos poderiam quebrar a Odebrecht, mas, mesmo assim, deram continuidade às tratativas com as autoridades dos Estados Unidos para a aplicação de penalidades, fornecendo até mesmo dados informais, a título de "informações de inteligência".


"Lava jato" discutiu percentuais da partilha do dinheiro extraído da Odebrecht


Os diálogos mostram que os membros da autoproclamada força-tarefa não tinham limites em sua missão de transformar o idealismo de um suposto combate à corrupção em dinheiro que seria depois administrado por eles próprios.

Em uma troca de mensagens, em 17 de maio de 2016, o procurador Deltan Dallagnol, então chefe da autointitulada força-tarefa da "lava jato", discutiu com o colega Orlando Martello o envio de informações à Suíça e aos Estados Unidos sobre a Odebrecht. Martello chega a dizer que tem plena consciência de que "os americanos quebram a empresa" e Deltan responde com uma risada. As mensagens constam em petição da defesa do ex-presidente Lula enviada ao Supremo Tribunal Federal.

"O procurador da República Deltan Dallagnol tinha plena ciência de que a atuação de autoridades estadunidenses contra empresas brasileiras — notadamente por meio da aplicação do FCPA (que busca expandir sobremaneira a jurisdição norte-americana) — poderia quebra-las. A despeito disso, cooperou para que tais penalidades fossem aplicadas, inclusive por meio de envio informal de dados", diz o documento.

O FCPA permite que autoridades norte-americanas investiguem e punam fatos ocorridos em outros países. Para especialistas, ela é instrumento de exercício de poder econômico e político dos norte-americanos no mundo — os novos diálogos mostram a concordância dos procuradores com esse tipo de entreguismo.

O novo material também reforça que sempre permearam as conversas com autoridades estrangeiras os percentuais que ficariam à disposição da "lava jato" sobre o valor das penalidades aplicadas no exterior contra empresas brasileiras, como a própria Odebrecht. O acordo de leniência da empreiteira, inclusive, foi amplamente debatido entre os procuradores da "lava jato" e autoridades suíças e norte-americanas.

As mensagens indicam que houve diversas reuniões e trocas de documentos, inclusive por e-mail, entre os membros da força tarefa e autoridades da Suíça e dos Estados Unidos, conforme a petição dos advogados de Lula: "Um ponto sempre relevante é do 'asset sharing', ou seja, o percentual da penalidade que ficaria com cada um dos envolvidos".

Em conversa em 8 de dezembro de 2016, um procurador pede aos demais colegas o e-mail de um membro do MP suíço que estava em uma reunião em Curitiba que discutiu justamente os percentuais de 'asset sharing' que iriam para os EUA e para a Suíça no caso Odebrecht. "Como pode a 'lava jato' ocultar esse material da defesa técnica do reclamante ou dizer a esse Supremo Tribunal Federal que nada disso ocorreu?", questiona a defesa de Lula.

Em um determinado momento, os próprios procuradores tratam a negociação como um "acordo trilateral", envolvendo Brasil, EUA e Suíça. As mensagens mostram "atuação dos procuradores da República da 'lava jato' nessa frente, o que foi indevidamente negado a esse Supremo Tribunal Federal", sustenta a petição.

Todas essas informações foram apresentadas pela defesa do ex-presidente Lula, patrocinada por Cristiano ZaninValeska MartinsMaria de Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo, ao ministro Ricardo Lewandowski, relator de uma reclamação sobre a investigação de hackers que invadiram celulares de autoridades.


Acordo

O acordo de leniência que a Odebrecht assinou com o Ministério Público Federal em dezembro de 2016 previa a criação de uma conta judicial, sob responsabilidade da 13ª Vara Federal de Curitiba. O dinheiro ficaria à disposição do MPF, que daria aos recursos a destinação que quisesse. 

A construtora se comprometeu a pagar R$ 8,5 bilhões como multa por seus malfeitos. O dinheiro seria dividido pelo MPF entre ele mesmo, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) e a Procuradoria-Geral da Suíça.

Rcl 43.007

Fonte: Conjur


No Twitter


 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Mais mensagens aparecem: cooperação da Lava Jato com EUA foi permanente e ilegal; Deltan e Moro esconderam tudo do STF


Em nova petição ao STF, defesa de Lula prova nesta quarta que a cooperação ilegal da Lava Jato com FBI, Departamento de Justiça e outras instituições dos EUA era intensa e permanente. Ela foi propositadamente escondida do STF e da defesa do ex-presidente


Sergio Moro, Deltan Dallagnol e o símbolo do FBI (Foto: Reprodução)

247Um novo pacote de mensagens da Lava Jato foi enviado pela defesa do ex-presidente Lula numa petição ao STF nesta quarta-feira (17) e comprova que a cooperação ilegal entre a Lava Jato, o FBI, o Departamento de Justiça dos EUA e outros órgãos aconteceu de maneira intensa e permanente. Ilegal, a cooperação foi escondida do STF e da defesa de Lula.

Num trecho da petição, a defesa de Lula esclarece a razão de Moro vetar perguntas dos advogados nas audiências. O motivo é chocante: “(...) quantas vezes a Defesa Técnica do aqui Reclamante fez perguntas em audiências sobre essas ‘entrevistas’ e sobre a cooperação da ‘Lava Jato’ com autoridades norte-americanas e as perguntas foram indeferidas pelo então juiz SERGIO MORO? Aqui está o real motivo: a cooperação era ilegal e clandestina”.

O conjunto de mensagens caracteriza, segundo a defesa de Lula, uma “cooperação selvagem, fora da lei”, dos procuradores da Lava Jato “com a ciência e a anuência do então juiz SERGIO MORO”.

Em explicações ao STF e órgãos de controle do Ministério Público e do Judiciário, a Lava Jato mentiu de maneira sistemática, negando a existência de relações de ações comuns com autoridades estrangeiras, como nesta peça, de 2016, citada pela defesa de Lula: 

“Conforme já informado anteriormente, no Brasil, o acordo de leniência com a Odebrecht S.A. foi firmado em 01/12/2016 exclusivamente com autoridades brasileiras, inicialmente com o Ministério Público Federal, sendo signatários membros integrantes desta força-tarefa e do grupo de trabalho junto ao gabinete do Procurador Geral da República. 

Inexiste, portanto, acordo de leniência ou ato conjunto semelhante neste caso que tenha sido firmado ou conte com a participação de autoridades estrangeiras, sejam estadunidenses ou de outra nacionalidade. 

(...)

Não há, portanto, registros de tratativas realizadas pelo MPF de Curitiba com autoridades e instituições estrangeiras, já que o acordo de leniência celebrado pelo MPF não é ato decorrente ou dependente de cooperação internacional”. 

Na petição, a defesa de Lula apresenta diversos diálogos que comprovam a cooperação ilegal. Uma troca de mensagens de 7 de abril de 2016:

“Deltan: Caros, os americanos, a nosso pedido pretérito, estão desenvolvendo o caso da Ode.

Carol PGR: Deltan, os Advs que estão negociando o acordo aí nos EUA são americanos ou é um escritório brasileiro?

Deltan: Americano, caso me equivoque”

Outra troca de mensagens, de 26 de setembro de 2016 fala refere-se diretamente à colaboração clandestina com o FBI:

“Carlos Bruno: PG, houve alguma resposta do FBI no caso do servidor (computador) com senha?

Paulo: só aquela do email”

Sobre essa troca de mensagens, a defesa de Lula observa que o citado email foi sonegado pela operação: “Note-se bem a referência feita nesta mensagem a informações recebidas pela Lava Jato do FBI: ‘só aquela do e-mail’. Onde está esse e-mail encaminhado pelo FBI? Nos autos de origem, definitivamente não está, e nem foi exibido a esta Defesa Técnica, a despeito da expressa determinação do e. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI”.

 Outras mensagens reforçam o contato permanente da Lava Jato com o FBI “sem que isto esteja documentado nos autos ou, ainda, sem a observância dos canais oficiais e do procedimento previsto em lei”, afirma a defesa de Lula. Uma mensagem de 27 de setembro de 2016 deixa patente:

“Paulo: (...) falei com a June do FBI, ela vai cobrar a questão da cripto”.

A defesa de Lula apresenta uma sequência de trocas de mensagens entre os procuraodres que atestam a dimensão da colaboração clandestina: “Na mensagem abaixo, por exemplo, existe a indicação de documentos que foram firmados entre a ‘Lava Jato de Curitiba’ e o DOJ [Departamento de Justiça dos Estados Unidos] que jamais foram levados aos autos de origem — mesmo após esse Supremo Tribunal Federal ter instado a ‘Lava Jato’ para essa finalidade”. 

A seguir, a mensagem, de 20 de maio de 2016: 

“Paulo, conversei com o DOJ sobre esse acordo (eles ligam toda semana querendo saber novidades)”.

Na mesma ação, a defesa de Lula aponta que os procuradores da Lava Jato faziam pressão escancarada a ministros do STF. Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes eram alguns de seus alvos, segundo os diálogos. Além disso, a força-tarefa constrangia ministros do STJ com vazamentos planejados de delações ‘vazias’ à imprensa, depois de ter levantado o patrimônio dos ministros da Corte junto à Receita Federal..

Leia a íntegra da petição da defesa de Lula:




Bob Fernandes

Os EUA espionavam o Brasil e o FBI investigava para a Lava Jato de Moro... Uma História de sabujos. Quinta-feira, 2 de julho de 2020

Assista ao VÍDEO


Lewandowski ordena que ministério explique cooperação internacional na "lava jato"


O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, deu cinco dias para que o Ministério da Justiça e Segurança Pública explique se fez ou intermediou cooperações entre procuradores da "lava jato" e órgãos internacionais. A informação é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.


Ricardo Lewandowski

 

A decisão ocorre depois que a defesa do ex-presidente Lula divulgou novas conversas apreendidas na operação "spoofing". Segundo os advogados do ex-presidente, a relação "fora dos canais oficiais com agências norte-americanas do lado da "lava jato" desde o início mirava 'assets sharing', ou seja, a divisão dos valores que seriam retirados de empresas brasileiras em virtude da punição aplicada por tais agências norte-americanas". 

Os valores, prossegue a defesa, seriam "destinados a projetos comandados pela 'lava jato'". "Isso ocorreu não apenas em relação à Odebrecht", conclui, citando uma mensagem em que Deltan Dallagnol diz que teve uma reunião com autoridades norte-americanas. 

"Os procuradores da República que integram a (extinta) força-tarefa da Lava Jato de Curitiba faltaram com a verdade em relação à intervenção de agências estrangeiras no acordo de leniência da Odebrecht e na documentação sobre essa participação", dizem os advogados do ex-presidente. 

"Ao contrário do que a Lava Jato afirmou, inclusive a esse Supremo Tribunal Federal, houve uma intensa cooperação com agências estrangeiras — notadamente o FBI, o DOJ (Departamento de Justiça dos EUA) e com procuradores do Ministério Público da Suíça — fora dos canais oficiais. Esse material ocultado da defesa técnica do reclamante [Lula] mesmo após a Lava Jato ter sido instada por essa Suprema Corte a exibir o material, em clara violação à garantia da paridade de armas e do princípio do disclosure que é inerente a um processo justo", concluem. 

A defesa de Lula é feita por Cristiano ZaninValeska MartinsMaria da Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo.

Rcl 43.007

Fonte: Conjur


TV GGN

A cooperação escancarada entre Departamento de Justiça dos EUA e Lava Jato - 16 de mar. de 2018

Pronunciamento de Kenneth Blanco, Vice Procurador Geral Adjunto do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e do Subsecretário Geral de Justiça Adjunto Interino dos Estados Unidos, Trevor Mc Fadden, descrevem as cooperações feitas pelos Procuradores da República da Lava Jato com o país. Eles admitem que é uma cooperação baseada em 'confiança' e por vezes fora dos 'procedimentos oficiais' e Blanco refere-se especificamente à sentença condenatória proferida contra Lula. Elogia a cooperação dos procuradores e ressalta, várias vezes, a parceria norte-americana com membros do MPF.

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TV GGN

OS PROCESSOS QUE A PETROBRAS ENFRENTOU NOS EUA - EP. 4 -#LavaJatoLadoB

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sábado, 13 de fevereiro de 2021

Cooperação ilegal de agentes dos EUA com a Lava Jato gerou temor de crise diplomática


A defesa do ex-presidente Lula apresentou ao STF mensagens comprovando a cooperação ilegal entre agentes do FBI e a Lava Jato no Brasil e afirmou que a análise das conversas "reforça - e deixa inequívoca - a realização de cooperações internacionais fora dos canais oficiais"


Sede do MPF-PR e o FBI (Foto: Divulgação | Reuters)

 

247 - A presença de investigadores americanos no Brasil em uma cooperação ilegal com a Operação Lava Jato em Curitiba (PR) criou temores de que a ação poderia gerar um "abalo" nas relações entre os dois países, de acordo com a coluna de Jamil Chade

As informações sobre a atuação de agentes do Estados Unidos no Brasil fazem parte de mensagens apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Os diálogos foram obtidos no âmbito da Operação Spoofing, responsável por investigar o acesso a celulares dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato.

De acordo com a defesa do petista, a análise das conversas submetidas a perícia "reforça - e deixa inequívoca - a realização de cooperações internacionais fora dos canais oficiais".

Em outra frente de mensagens, o Intercept Brasil apontou que agentes do FBI e do Departamento de Justiça americano (DOJ) estavam interessados nas investigações relativas à Operação Triplo X, que mirou a empresa de offshores Mossack Fonseca e o tríplex no Guarujá atribuído ao ex-presidente Lula.

Segundo um diálogo travado no Telegram, a Polícia Federal (PF) foi procurada pelo FBI um mês antes de a operação ser deflagrada, em dezembro de 2015, e a cooperação é ilegal, pois um acordo bilateral (conhecido como MLAT, sigla para Mutual Legal Assistance Treaty) firmado entre Brasil e Estados Unidos afirma que todos os pedidos de cooperação devem passar pelo Ministério da Justiça.


Thiago Milfont

Estados Unidos espiona o governo brasileiro e a presidente Dilma Rousseff - Fantástico - 01/09/2013

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domingo, 13 de dezembro de 2020

Sergio Moro entra na porta giratória da Lava-Jato


Assim como o ex-juiz, procuradores americanos que se dedicavam a investigar corrupção passaram a trabalhar para escritórios de advocacia que vendem serviços para empresas se “blindarem” exatamente desse tipo de investigação

Será na Vila Olímpia o próximo estágio da carreira do ex-juiz, ex-ministro e ex-bolsonarista de carteirinha Sergio Moro, agora na iniciativa privada.  A consultoria americana Alvarez e Marsal anunciou que Moro será o chefe de investigações, disputas e compliance no seu escritório envidraçado à beira da Marginal Tietê, pertinho do luxuoso Shopping JK. 

Especializada em reestruturação corporativa, a Alvarez & Marsal é a administradora judicial da Odebrecht, após a construtora ter pedido recuperação judicial por causa das investigações da Lava-Jato no Brasil, nos EUA e em dezenas de países da América Latina. A consultora já faturou 17,6milhões com o serviço, segundo reportagem do Uol. O Valor Econômico noticiou que o contrato de Moro o exime de advogar em causas em que haja conflito de interesses. 

Entre os sócios sêniores, a empresa orgulha-se de contar com um ex-agente do FBI, um ex-procurador do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) e outro do governo britânico, além de um ex-funcionário da NSA.  

Há alguns anos críticos vêm apontando para a escandalosa “porta giratória” entre os procuradores americanos que se dedicam a investigar corrupção e os riquíssimos escritórios de advocacia que têm vendido serviços para empresas se “blindarem” exatamente desse tipo de investigação. 

São jovens com ar de auto-satisfação e luxuosos escritórios com vista para os pontos mais cobiçados de Nova York ou Washington. O caso mais notório é Patrick Stokes, que liderou entre entre 2014 e 2016 o departamento de FCPA (corrupção transnacional) do DOJ e depois virou sócio no escritório Gibson, Dunn & Crutcher’s, em uma posição cujo salário chegou a R$ 3,2 milhões em 2017. Detalhe: a empresa foi a contratada pela Petrobras para negociar o acordo com o DOJ, assinado no final de 2018, dois anos depois de Patrick sair do cargo. O contrato traz a assinatura do advogado Joseph Warin, hoje sócio de Patrick.  

Em um breve levantamento feito com a jornalista Raphaela Ribeiro, identificamos que de 19 procuradores americanos envolvidos nas investigações da Lava Jato, do DOJ e do Securities and Exchange Commission (Sec), pelo menos seis foram para a iniciativa privada. 

Kevin Gingras, que veio ao Brasil em nome do DOJ entrevistar Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa e Alexandre Yousseff em julho de 2016, hoje é vice-presidente de litígios na empresa fabricante de armas e tecnologia de defesa Lockheed Martin Corporation. 

Charles Duross não chegou a trabalhar nos casos da Lava-Jato, mas liderou a unidade de corrupção internacional do DOJ até 2014. Estava nessa posição quando o governo americano começou a investigar a Embraer por corrupção na República Dominicana, o que levou a uma multa de mais de US$ 100 milhões para o governo dos EUA. 

Duross hoje é advogado associado no escritório Morrison & Foerster LLP. Ele foi indicado pelo DOJ para acompanhar as práticas anticorrupção que vêm sendo adotadas pela Odebrecht e o desenvolvimento do setor de “compliance”, depois da empreiteira concordar em pagar uma multa bilionária aos americanos.

Do lado do FBI, George “Ren” McEachern liderou até 2017 a Unidade de Corrupção Internacional em Washington, com mais de 40 agentes, supervisionando todas as investigações de corrupção ligadas à Lava Jato. Pouco depois, deixou o FBI para passar para a consultoria Exiger, onde ensina métodosde “compliance” e dá palestras para empresas como as médico-farmacêuticas Pfizer e Johnson&Johnson e a fabricante de armas militares Raytheon.

Aqui no Brasil, o pioneiro ao “mudar de lado” foi o procurador Marcelo Miller, que aparece como um dos principais articuladores com os americanos nas conversas da Vaza-Jato, propondo acordos diretamente a eles durante reuniões do grupo anticorrupção da OCDE. 

Em abril de 2017 ele deixou o MPF e em seguida virou sócio do escritório de advogados especializado em compliance Trench Rossi Watanabe. Miller se deu mal. O anúncio do afastamento foi feito às vésperas da delação de Joesley Batista, da JBS, que teve intermediação do mesmo escritório. Por ter atuado nas duas pontas do negócio, passou a ser investigado e foi denunciado pelo próprio MPF. Em setembro daquele ano a PGR rescindiu o acordo de colaboração de Joesley Batista mediado pelo procurador. E Miller saiu da empresa poucos meses depois de ser contratado, recebendo a bagatela de R$ 1,6 milhão, segundo reportagem do O Globo

Outro que pulou para a iniciativa privada foi o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Hoje no seu linkedin ele se descreve como “advogado na área de compliance, investigações internas, monitoria, e acordos de leniência e colaboração premiada”. Virou consultor, segundo coluna de FaustoMacedo, sem dar o nome aos clientes que o têm contratado, autor de livro sobre compliance para bancos e palestrante. Sem cargo no governo, sem magistratura, a nova empreitada de Moro pode ser lida apenas como uma demonstração do apreço ao dinheiro – lembremos que ele chegou a receber mais de R$ 100 mil no Tribunal Federal da 4ª Região por causa dos “penduricalhos” – e de falta de imaginação, engordando ainda mais fila da “porta giratória” da Lava-Jato

 Texto especialmente produzido para a newsletter semanal da Agência Pública. Inscreva-se e receba materiais exclusivos como este toda sexta-feira! Natalia Viana


UOL

Moro é anunciado como sócio-diretor de consultoria; empresa é administradora judicial da Odebrecht

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro foi anunciado como sócio-diretor da consultoria norte-americana de gestão de empresas Alvarez & Marsal. Moro, que deixou o governo Bolsonaro em abril após acusar o presidente de interferência política, atuará na sede da empresa em São Paulo, na área de de "Disputas e Investigações".

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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Globo confirma que Petrobrás não tem nenhuma prova contra Lula



É por isso que a estatal se nega a fornecer à defesa do ex-presidente os contratos firmados com autoridades dos Estados Unidos

247A Petrobrás, que pagou multas de R$ 27,7 bilhões aos Estados Unidos, no âmbito da Operação Lava Jato, não tem nenhuma prova contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É por isso que a estatal se nega a fornecer à defesa de Lula seus contratos com autoridades estadunidenses. No processo, a empresa chegou até a pedir para ter tratamento análogo ao de uma embaixada

A confirmação de que não há qualquer prova contra Lula foi feita pelo jornalista Ascanio Seleme, em sua coluna. “Por que a Petrobras se nega a entregar para a defesa de Lula os documentos dos três acordos que fez nos Estados Unidos em razão dos escândalos da era petista? A estatal diz que os dados (mais de 75 milhões de páginas) não tratam de corrupção, mas de apenas falhas contábeis, e que por isso não interessam à defesa do ex-presidente. Quem escarafunchou a papelada diz que não é bem assim, que os documentos enviados ao Departamento de Justiça (DOJ), à SEC, que é a comissão de valores local, e à Justiça de Nova York têm um capítulo inteiro só sobre corrupção. E nele, a petroleira não cita Lula nem o PT, acusando apenas cinco ex-diretores da companhia e dois ex-governadores. As ações foram abertas nos EUA para indenizar investidores que perderam dinheiro com a queda do valor de mercado da estatal em razão do escândalo”, escreveu o jornalista.

“No Brasil, a Petrobras participou dos diversos julgamentos da Lava-Jato como assistente da acusação, e assinou as denúncias em que Lula é acusado de chefiar uma organização criminosa, de enriquecimento ilícito, de lavagem de dinheiro y otras cositas más. A incoerência entre o que a Petrobras assinou aqui e os documentos que enviou à Justiça americana, que beneficiaria Lula, só se tornará oficial se os dados forem entregues aos advogados do ex-presidente por ordem judicial. Depois de ter sua petição negada pela primeira instância em Curitiba e pelo STJ, a defesa aguarda agora manifestação final de Edson Fachin. O ministro do STF prestaria um bom serviço à Justiça liberando os documentos”, lembra ainda Ascanio. “Para não virar ré nos EUA, a Petrobras concordou em pagar US$ 4,8 bilhões (R$ 27,7 bi) em multas. O valor é sete vezes maior do que as sentenças da Lava-Jato devolveram aos cofres da estatal”, finaliza.


MÍDIA ALTERNATIVA - TVMAIS


Globo confirma que Petrobrás não tem nenhuma prova contra Lula.

Gleisi: O Globo agora diz a verdade sobre Lula e a Petrobrás.

Flávio Dino: a agenda do governo Bolsonaro é "criar mais confusão".

Dupla Guedes-Bolsonaro fracassa: Brasil é o terceiro país do mundo onde o dólar mais subiu em 2020.

Boulos obtém liminar que derruba vídeo com acusações falsas feitas por Russomano.

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quinta-feira, 2 de julho de 2020

Quem são os agentes do FBI que atuaram na Lava Jato



  • Entre policiais que têm até página no LinkedIn e outros com nomes genéricos e desconhecidos, o que se sabe sobre os 13 agentes que participaram das investigações para o governo americano em solo brasileiro


Por: Natalia Viana, Rafael Neves, Agência Pública / The InterceptBrasil

São de dois tipos os agentes do FBI que atuaram na Lava Jato em solo brasileiro. Alguns são figuras públicas, dão entrevistas e aparecem cada vez mais frequentemente em eventos elogiando o trabalho da força-tarefa e dando conselhos a corporações sobre como seguir a lei americana.

Outros tiveram atuação temporária e são conhecidos por apelidos ou nomes tão comuns que é muito difícil encontrar algo sobre eles em fontes abertas na internet. Essa é uma prática comum nos escritórios do FBI no exterior, para evitar a exposição de agentes que realizam operações secretas ou controversas em território estrangeiro. Hoje, a agência mantém escritórios em embaixadas de 63 países e sub-escritórios em 27. Em 2011, o FBI empregava 289 agentes e pessoal de apoio nesses escritórios no exterior.

Embora as duas maiores investigações de casos de corrupção originados na Lava Jato pelo Departamento de Justiça (DOJ) americano já tenham terminado, com os acordos bilionários da Odebrecht e Petrobras, o FBI ainda tem muito a fazer para investigar corrupção no Brasil, nas palavras do atual chefe do FBI no país, David Brassanini, em palestra no 7º Congresso Internacional de Compliance, em maio de 2019, em São Paulo. A cooperação foi descrita como “fluida, sem problemas e transparente”, pois seus agentes já tinham familiaridade com a cultura e a sociedade brasileiras. “A habilidade de desenvolver e entender as peculiaridades locais é grande. Não só a questão da língua, mas em entender realmente como o Brasil funciona, entender as nuances”, afirmou. Brassanini relatou também, no mesmo evento, que agentes do FBI vêm a São Paulo “toda semana para tratar de diferentes casos que envolvem FCPA e lavagem de dinheiro”.

Com base em documentos da Vaza Jato entregues ao The Intercept Brasil e apuração em fontes abertas, a Agência Pública localizou 12 nomes de agentes do FBI que investigaram os casos da Lava Jato lado a lado com a PF e a Força-Tarefa, além da agente Leslie Backschies, que hoje comanda oesquadrão de corrupção internacional do FBI. E descobriu que essas investigações viraram símbolo de parceria bem sucedida e levaram à promoção diversos agentes americanos. Segundo um ex-promotor do Departamento de Justiça americano contou à Pública, a presença de agentes do FBI no Brasil foi fundamental para o governo americano concluir suas investigações sobre corrupção de empresas brasileiras.

Com base na lei americana Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), o Departamento de Justiça investigou e puniu com multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a Petrobras e a Odebrecht.

Embora haja policiais lotados legalmente na embaixada em Brasília e no consulado em São Paulo, é proibido a qualquer polícia estrangeira realizar investigações em solo brasileiro sem autorização expressa do governo brasileiro, já que polícias estrangeiras não têm jurisdição no território de outros países.

A colaboração do FBI com a Lava Jato teve início em 2014 e foi fortalecida em 2015 e 2016, quando o foco da operação eram Odebrecht e Petrobras. Em 2016, a Odebrecht aceitou pagar a maior multa global de corrupção até então: US$ 2,6 bilhões a Brasil, Suíça e EUA. A parcela devida às autoridades americanas, no valor total de US$ 93 milhões, foi paga à vista. Hoje, a empresa está em processo de recuperação judicial.

Em 2018, a Petrobras aceitou pagar a maior multa cobrada de uma empresa pelo Departamento de Justiça americano: US$ 1,78 bilhão.
“O que ocorre no Brasil está mudando o modo como olhamos os negócios e a corrupção no mundo inteiro”, afirmou um dos maiores defensores da cooperação com os Estados Unidos, George “Ren” McEachern, em entrevista à Folhade S. Paulo em fevereiro de 2018, sob o título “Curitiba mandou a mensagem de que o Brasil está ficando limpo”.

George “Ren” McEachern, ex-agente do FBI, supervisionou as investigações da Lava Jato em nome do Departamento de Justiça americano

“Ren” McEachern chefiou a Unidade de Corrupção Internacional do FBI até dezembro de 2017 e supervisionou o grosso das investigações da Lava Jato em nome do Departamento de Justiça americano. Segundo os documentos vazados ao The Intercept Brasil e analisados em parceria com a Agência Pública, ele esteve na primeira delegação de investigadores americanos que esteve em Curitiba em outubro de 2015, sem autorização do Ministério da Justiça, conforme revelamos nesta reportagem.

Ren nunca escondeu sua participação nos casos ligados à Lava Jato. “Você precisa compartilhar informações [com outros países]. Porque agora todos os negócios são globais. Uma empresa que paga propina no Brasil paga também em outros países”, disse à Folha em fevereiro de 2018. Pouco antes, Ren deixara o FBI para passar ao setor privado. Na empresa de consultoria Exiger, ele viaja o mundo para ensinar métodos de “compliance” a leis anticorrupção para empresas evitarem investigações como as que ele liderava no FBI.

Em 2015, “Ren” foi o grande responsável pela ampliação do foco do FBI em corrupção internacional, com a abertura de três esquadrões dedicados a isso, em Nova York, Washington e Los Angeles. No seu perfil no siteda Exiger, é descrito como aquele que “desenvolveu e implementou uma nova estratégia global proativa no FBI para investigar crimes financeiros complexos e temas de corrupção. Essa nova estratégia foi coordenada proximamente com o DOJ e a SEC [a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA]. Além disso, representou um aumento de quase 300% em novos recursos anticorrupção para o FBI”. O plano misturava investigações proativas por parte de polícias dedicadas a decifrar a corrupção internacional com tecnologia e análises de ponta sobre temas financeiros.


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“Por volta de 2014, 2015, o FBI estava buscando maneiras de ser mais proativo nas investigações sobre corrupção internacional”, disse ele em uma conferência em Nova York sobre “o mundo após a Lava Jato”, em novembro de 2019. “Então começamos a olhar para países que poderiam convidar agentes do FBI até o país para analisar investigações de corrupção que tivessem um nexo com os Estados Unidos, em jurisdições como FCPA e lavagem de dinheiro”.

Foi assim que o FBI se engajou na Lava Jato.

“O timing foi simplesmente perfeito”, disse ele. “Nós estávamos ajudando em casos que tinham uma conexão com os EUA, mas eles [os procuradores da Lava Jato] eram realmente muito avançados e estavam usando técnicas muito sofisticadas e inteligentes”.

Uma das maiores lições que Ren diz ter adotado após a parceria com a Lava Jato foi a criação de equipes com agentes especializados que trabalham “proativamente” em casos de corrupção internacional. O caso da Petrobras, segundo ele, marcou um nível sem precedentes de “compartilhamento de inteligência, compartilhamento de evidência certificada”. “Aquilo foi uma grande mudança”, diz.

Fora do FBI, a agenda de “Ren” está cheia de eventos sobre “compliance” contra corrupção – muitos deles financiados por empresas que vendem ou compram tais serviços. Desde 2015, ele esteve em simpósios em Hong Kong, Polônia, China, Noruega, Holanda, Espanha, Inglaterra e Brasil. Entre os patrocinadores destes eventos estão a consultoria PriceWaterhouse Coopers, a associação de importadores e exportadores de armas Fair Trade Group, o conglomerado de mídia Warner Brothers, as médico-farmacêuticas Pfizer e Johnson&Johnson e a fabricante de armas militares Raytheon.

No Brasil, o ex-agente especial foi palestrante no 4o Annual International Compliance Congress and Regulator Summit, financiado pela agência de notícias Thomson Reuters em São Paulo em maio de 2016. Aproveitou a vinda ao país para dar uma palestra a 90 membros do Ministério Público Federal de São Paulo. Na ocasião, enalteceu a cooperação internacional e explicou que, no Brasil, o FBI “oferece suporte técnico a investigações, em relação a criptografia, telefonia móvel e dados em nuvem, com um analista cibernético sediado em Brasília”.

O escritório do FBI fica na embaixada americana, na capital brasileira.

Procurado pela Pública, Ren afirmou que decidiu não falar mais publicamente sobre sua carreira no FBI e seu trabalho no Brasil.

Convite de palestra com agentes do FBI sobre o mundo depois da Operação Lava Jato


Agentes quase anônimos

Quando veio na primeira delegação para negociar com os delatores das Lava Jato, em outubro de 2015, Ren estava acompanhado pela tradutora Tania Cannon e por outros agentes do FBI. Um deles, Jeff Pfeiffer, veio de Washington, onde é lotado desde 2002 e trabalha em casos de corrupção, segundo seu perfil no LinkedIn.

Formado em contabilidade e administração, o agente foi designado dois anos depois, em 2017, como assistente do procurador Robert Mueller na investigação sobre interferência russa nas eleições americanas. Pfeiffer investigou o chefe da campanha de Donald Trump, Paul Manafort, acusado de esconder contas bancárias no exterior, fraude bancária e conspiração para lavar mais de 30 milhões de dólares, além de tentar obstruir a Justiça, segundo o policial afirmou perante um tribunal em 2019.

Outro agente que esteve na comitiva de 2015 foi apresentado oficialmente à Lava Jato como Carlos Fernandes, um nome tão comum que é impossível encontrar referências a ele.

O FBI ainda enviou para Curitiba dois membros do escritório em Brasília, o adido legal Steve Moore e o adido-adjunto David F. Williams.

Williams aparece algumas vezes em comunicação direta com procuradores da Lava Lato nos diálogos vazados ao The Intercept Brasil. Foi ele quem atendeu ao pedido feito, em setembro de 2016, pelos procuradores Paulo Roberto Galvão de Carvalho e Carlos Bruno Ferreira da Silva, para verificar se o FBI conseguiria quebrar o sistema MyWebDay através do qual os funcionários da Odebrecht administravam as propinas pagas em diversos países, conformerevelamos na reportagem “o FBI e a Lava Jato”.


Olimpíadas de 2016 e Copa do Mundo em 2014

Já Steve Moore foi o chefe do escritório do FBI no Brasil entre agosto de 2014 e agosto de 2017, comandando a equipe de agentes lotados em São Paulo e Brasília. De acordo com sua página do LinkedIn, aposentou-se em 2018, após 22 anos trabalhando no FBI, onde obteve “extensa experiência internacional em fraudes internacionais complexas, corrupção, FCPA, antitruste, AML, investigações internas sensíveis, e investigações cibernéticas”. No seu perfil profissional ele declara ter “experiência significativa” em planejamento de segurança para megaeventos.

Essa experiência foi adquirida no Brasil. Steve chegou ao país no final da Copa do Mundo e coordenou o FBI durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, desenvolvendo uma relação próxima com alguns agentes da polícia federal. Certa feita, questionado pelo jornal USA Today sobre como o FBI treinava uma polícia que “há muito tempo é maculada com corrupção e laços com organizações criminosas em todo o país”, ele respondeu que trabalhava com brasileiros “cuidadosamente selecionados e treinados pelos EUA há muitos anos”, reduzindo o risco de informações sensíveis caírem em mãos erradas. “A chave para isso é que nós trabalhamos proximamente com a Polícia Federal brasileira e compartilhamos informações com as suas unidades especializadas”, afirmou ao jornal.

Tudo indica que foi Moore quem escreveu o memorando que iniciou a Operação Hashtag, deflagrada pela PF apenas 15 dias antes da Olimpíada. A Operação Hashtag acabou com a prisão de oito suspeitos de planejar um atentado que jamais chegou a ser planejado, conforme mostrou uma reportagem da Agência Pública. As prisões demonstraram força do governo de Michel Temer (MDB) logo após o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Um dos suspeitos morreu linchado no presídio, acusado de terrorista.

Na época, o FBI deu a dica à PF, mas não detalhou como obteve as informações – se foram investigações realizadas dentro ou fora do território nacional.

O memorando de 6 de maio de 2016 vazado ao Blog dojornalista Fausto Macedo não traz o nome de Steve Moore, mas descreve a autoria: “adido legal do FBI”. O documento traz nomes e detalhes sobre os suspeitos que seriam depois investigados pela PF e gerariam a única condenação até hoje pelo crime de terrorismo no Brasil.

Memorando que levou à Operação Hashtag. Blog do Fausto Macedo/Estadão

Também presente na comitiva sigilosa do FBI a Curitiba, em Outubro de 2015, “Chris” Martinez voltava ao Brasil depois de um período de ausência, já que ela também atuou na Copa do Mundo. Christina Martinez – seu nome completo – ocupou o cargo temporário de Especialista em Treinamento e Relações Cívicas, em Brasília, no período anterior à Copa do Mundo de 2014.

Christina foi a responsável pelo programa de treinamento do FBI, ministrado com outras agências americanas, a 837 policiais das 12 cidades-sede. Os cursos iam de investigação digital a relacionamento com a mídia e como lidar com protestos, segundo revelou a Agência Pública em 2014. Antes disso, entre outubro de 2010 e março de 2013, ela foi assistente de operações do Adido Legal na embaixada em Brasília, função que ocupava quando visitou, em março de 2012, centros de treinamento da Polícia Militar de São Paulo, ao lado de Leslie Rodrigues Backshies, hoje chefe da Unidade de Corrupção Internacional do FBI.

Christina Martinez também tem uma página no LinkedIn, onde lista sua experiência em realizar treinamentos em nome do FBI há mais de 17 anos – além do Brasil, teve cargos temporários na Cidade do México e em Buenos Aires. Antes de vir ao Brasil pela primeira vez, Chris havia sido técnica do FBI em vigilância eletrônica em local não especificado durante mais de 8 anos.

Christina Martinez (quarta pessoa da esquerda para à direita) e agentes do FBI visitaram o Grupamento de Radiopatrulha Aérea (GRPAe) da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP)

Outro integrante da comitiva que foi à sede da Força-Tarefa da Lava Jato em Curitiba em outubro de 2015 foi Mark Schweers. Mark retornou noano seguinte, em julho de 2016, em uma nova comitiva do DOJ ao Brasil para conduzir interrogatórios em Curitiba e no Rio de Janeiro. Na sede da Procuradoria da República, no centro do Rio, essa comitiva interrogou os ex-diretores daPetrobras Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa durante nove horas cada. Em Curitiba, inquiriram o doleiro Alberto Yousseff ao longo de seis horas.

Mark Schweers não tem página no LinkedIn. A única referência a um agente do FBI com o mesmo nome encontrada pela reportagem refere-se a um agente especializado em investigar gangues em Oklahoma nos anos 90.

Além dele, participaram dos interrogatórios no Rio de Janeiro em julho de 2016 uma agente cujo nome está registrado como Becky Nguyen. Trata-se de nome comum, de origem vietnamita. Há pelo menos três pessoas com o mesmo nome nas redes sociais – nenhuma é a agente do FBI.

Duas intérpretes, Tania Cannon e Elaine Nayob, também participaram das comitivas que vieram ao Brasil em 2015 e 2016. Tânia esteve nas duas. Na sua página do LinkedIn, ela se descreve como tradutora e intérprete do Departamento de Justiça americano.


Patrick Kramer, herói de inteligência na guerra do Golfo, também atuou na Lava Jato

Os documentos entregues ao The Intercept Brasil mencionam ainda dois agentes especiais do FBI que atuaram proximamente com investigadores brasileiros a partir do consulado em São Paulo em 2016: June Drake e Patrick T. Kramer.

Patrick T. Kramer, agente do FBI, durante uma palestra no Brasil

Há pouca informação sobre a agente June. Segundo os diálogos vazados, o adido-adjunto do FBI David Williams buscou mais informações com June para discutir a possibilidade do FBI ajudar a quebrar a criptografia do sistema MyWebDay, que reunia contabilidade de propinas da Odebrecht. “Através de explicações adicionais fornecidos pelo Patrick e June (do FBI em São Paulo) eu acho que entendemos bem a situação e já passei a pergunta para alguns peritos de ciber no FBI. Carlos, se você gostaria de fazer uma reunião em Brasilia comigo (ou nosso Adido Steve Moore, dependendo da data da reunião) nos podemos encontrar rapidinho para conversar mais”, escreveu o adido legal, por email, ao procurador Carlos Bruno Ferreira da Silva, em setembro daquele ano.

Já a trajetória de Patrick T. Kramer revela um super agente que desde muito jovem atuou em missões de inteligência e investigações complexas. A se considerar o seu perfil público no LinkedIn, sua vida daria um filme.

Durante os anos universitários, Patrick se graduou em espanhol e estudou português do Brasil na Universidade de San Diego, na Califórnia. No final da década de 80, começou sua carreira como marinheiro da II Força Expedicionária, tendo atuado na Operação Tempestade no Deserto, na Arábia Saudita, durante a Guerra do Golfo nos anos de 1990 e 1991, como oficial de comunicação. Nos anos seguintes, fez parte da 300ª brigada de Inteligência Militar e do Special Forces Group (Airborne) em Camp Williams, Utah, capitaneando uma equipe de análise linguística em espanhol para apoiar investigações anti-narcóticos.

Em 2002, já no FBI, investigou cartéis de drogas mexicanos próximos à fronteira do Texas. Depois, debruçou-se sobre membros de gangues em Porto Rico. A partir de 2008, passou a investigar crimes financeiros como fraudes e lavagem de dinheiro, e em 2010 assumiu durante dois meses uma posição temporária na capital da Geórgia, ex-integrante da União Soviética. Pouco antes, estudara russo na Universidade de San Diego.

Promovido, Patrick passou a ser supervisor do FBI em Washington, onde coordenou investigações sobre fraudes em seguros de saúde, tornando-se especialista no tema.

Em 2016, o agente foi enviado para uma posição temporária durante 6 meses como adido-adjunto no consulado de São Paulo, “facilitando e coordenando” temas para a Unidade de Corrupção Internacional do FBI chefiados por Ren McEachern. Neste cargo, ele “conduziu extensiva coordenação e relacionamento com a Polícia Federal brasileira, Minstério Público Federal, a Unidade de Corrupção e o Departamento de Justiça americano temas de preocupação mútua no aprofundamento dos interesses do Brasil/EUA”, segundo sua descrição no LinkedIn. Era responsável pelo “gerenciamento, coordenação, implementação e execução de estratégias operacionais e investigativas sob responsabilidade do adido legal de Brasília”.

Sua passagem foi tão bem sucedida que em junho do ano passado ele retornou ao país, mas desta vez como adido legal-adjunto na embaixada em Brasília, cargo que ocupa até o momento. Patrick passou os primeiros meses fazendo contatos com agentes de segurança. Foi convidado a falar, por exemplo, no dia 29 de agosto de 2018 na inauguração da nova sede da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), no Lago Sul, em Brasília.

No dia 19 de outubro do mesmo ano, participou do II Seminário Nacional dos Agentes de Segurança do Poder Judiciário Federal, em Maceió.

Patrick Kramer no II Seminário Nacional dos Agentes de Segurança do Poder Judiciário Federal

E no dia 28 de outubro visitou, ao lado do assessor Jurídico do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América, Rodrigo Dias, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, órgão responsável por assinar os acordos de cooperação jurídica com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O objetivo do encontro foi apresentar uma nova lei americana, recentemente promulgada, Cloud Act, que prevê acordos bilaterais com países para a troca de informações coletadas no ambiente virtual.



Vaza Jato mostra como FBI e Lava Jato trabalharam para os interesses dos EUA .



No Twiiter:





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