O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal,
deu cinco dias para que o Ministério da Justiça e Segurança Pública explique se
fez ou intermediou cooperações entre procuradores da "lava jato" e
órgãos internacionais. A informação é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de
S. Paulo.
Ricardo Lewandowski
A decisão ocorre depois que a defesa do ex-presidente Lula
divulgou novas conversas apreendidas na operação "spoofing". Segundo
os advogados do ex-presidente, a relação "fora dos canais oficiais com
agências norte-americanas do lado da "lava jato" desde o início
mirava 'assets sharing', ou seja, a divisão dos valores que seriam
retirados de empresas brasileiras em virtude da punição aplicada por tais
agências norte-americanas".
Os valores, prossegue a defesa, seriam "destinados a
projetos comandados pela 'lava jato'". "Isso ocorreu não apenas em
relação à Odebrecht", conclui, citando uma mensagem em que Deltan
Dallagnol diz que teve uma reunião com autoridades norte-americanas.
"Os procuradores da República que integram a (extinta)
força-tarefa da Lava Jato de Curitiba faltaram com a verdade em relação à
intervenção de agências estrangeiras no acordo de leniência da Odebrecht e na
documentação sobre essa participação", dizem os advogados do
ex-presidente.
"Ao contrário do que a Lava Jato afirmou, inclusive a
esse Supremo Tribunal Federal, houve uma intensa cooperação com agências
estrangeiras — notadamente o FBI, o DOJ (Departamento de Justiça dos EUA) e com
procuradores do Ministério Público da Suíça — fora dos canais oficiais. Esse
material ocultado da defesa técnica do reclamante [Lula] mesmo após a Lava Jato
ter sido instada por essa Suprema Corte a exibir o material, em clara violação
à garantia da paridade de armas e do princípio do disclosure que
é inerente a um processo justo", concluem.
A defesa de Lula é feita por Cristiano Zanin, Valeska
Martins, Maria da Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo.
A cooperação escancarada entre Departamento de Justiça dos
EUA e Lava Jato - 16 de mar. de 2018
Pronunciamento de Kenneth Blanco, Vice Procurador Geral
Adjunto do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e do Subsecretário Geral
de Justiça Adjunto Interino dos Estados Unidos, Trevor Mc Fadden, descrevem as
cooperações feitas pelos Procuradores da República da Lava Jato com o país.
Eles admitem que é uma cooperação baseada em 'confiança' e por vezes fora dos
'procedimentos oficiais' e Blanco refere-se especificamente à sentença
condenatória proferida contra Lula. Elogia a cooperação dos procuradores e
ressalta, várias vezes, a parceria norte-americana com membros do MPF.
A defesa do ex-presidente Lula apresentou ao STF mensagens comprovando a cooperação ilegal entre agentes do FBI e a Lava Jato no Brasil e afirmou que a análise das conversas "reforça - e deixa inequívoca - a realização de cooperações internacionais fora dos canais oficiais"
Sede do MPF-PR e o FBI (Foto: Divulgação | Reuters)
247 - A presença de investigadores americanos no
Brasil em uma cooperação ilegal com a Operação Lava Jato em Curitiba (PR) criou
temores de que a ação poderia gerar um "abalo" nas relações entre os
dois países, de acordo com a coluna de Jamil Chade.
As informações sobre a atuação de agentes do Estados Unidos
no Brasil fazem parte de mensagens apresentado pela defesa do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Os diálogos foram obtidos no âmbito da Operação Spoofing, responsável
por investigar o acesso a celulares dos procuradores da força-tarefa da Lava
Jato.
De acordo com a defesa do petista, a análise das conversas
submetidas a perícia "reforça - e deixa inequívoca - a realização de
cooperações internacionais fora dos canais oficiais".
Em outra frente de mensagens, o Intercept Brasil apontou que
agentes do FBI e do Departamento de Justiça americano (DOJ) estavam
interessados nas investigações relativas à Operação Triplo X, que mirou a
empresa de offshores Mossack Fonseca e o tríplex no Guarujá atribuído ao
ex-presidente Lula.
Segundo um diálogo travado no Telegram, a Polícia Federal
(PF) foi procurada pelo FBI um mês antes de a operação ser deflagrada, em
dezembro de 2015, e a cooperação é ilegal, pois um acordo bilateral (conhecido
como MLAT, sigla para Mutual Legal Assistance Treaty) firmado entre Brasil e
Estados Unidos afirma que todos os pedidos de cooperação devem passar pelo Ministério da
Justiça.
Trabalho do GGN registrou indícios de irregularidades na
cooperação da Lava Jato em Curitiba com os EUA e explicou ações que a Petrobras
enfrentou em solo norte-americano
Jornal GGN – Em janeiro de 2020, oGGN lançou
no Youtube uma série inédita sobre a influência dos Estados Unidos na Operação
Lava Jato e a formação da indústria do compliance no Brasil.
Dividida em cinco capítulos do gênero documentário, a
série “Lava Jato Lado B” registrou os indícios de que a
cooperação entre a força-tarefa de Curitiba e os agentes do governo dos Estados
Unidos teria ocorrido sem o acompanhamento da autoridade central brasileira e,
portanto, à margem da lei.
Criminalistas que atuam na operação ou acompanham a Lava
Jato têm questionado e levantado fatos controversos e evidências de
irregularidades ao longo dos últimos anos. Mas a força-tarefa sempre negou, e
continua negando, qualquer desvio de conduta [leia a resposta da turma
de Curitiba ao final].
Por causa dessa parceria, a Petrobras e outras campeãs
nacionais foram denunciadas e processadas nos Estados Unidos com base na FCPA,
a lei anticorrupção norte-americana. Pagaram multas bilionárias e tiveram
prejuízos financeiros superiores aos recursos recuperados pela Lava Jato.
No caso da Petrobras, parte da multa cobrada pelas
autoridades norte-americanas retornou ao Brasil e seria injetado numa fundação
a ser criada sob a batuta da Lava Jato em Curitiba. Mas
o projeto foi abortado pelo Supremo Tribunal Federal.
A SÉRIE EM 5 VÍDEOS
No primeiro capítulo da série do GGN, o
espectador conhece as origens da FPCA e da estrutura
governamental que prepararam os Estados Unidos para uma cruzada mundial contra
a corrupção.
O segundo capítulo aborda a cooperação jurídica entre Brasil
e EUA, do Banestado à Lava Jato. O alinhamento do ex-juiz Sergio Moro aos
interesses norte-americanos e a formação de outros agentes brasileiros também
são retratados.
O capítulo três expõe o uso da luta anticorrupção como
instrumento da geopolítica norte-americana e seus interesses sobre o patrimônio
da Petrobras, que foi espionada durante o governo Dilma.
O quarto episódio detalha as ações contra a Petrobras nos
EUA, incluindo a class-action liderada pelo advogado
brasileiro, Andre Almeida, que falou com exclusividade ao GGN e
revelou a presença de norte-americanos em Curitiba ainda em meados de 2015.
Almeida chama atenção para um aspecto pouco abordado na
mídia local: a conduta dúbia dos procuradores de Curitiba que, no Brasil,
trataram a Petrobras como “vítima” e, ao mesmo tempo, nos EUA, ajudaram os
norte-americanos a processá-la como “criminosa”.
No último vídeo, a última peça do xadrez, a que explica a
lógica financeira por trás de grandes operações como a Lava Jato: a indústria
do compliance.
A série exclusiva do GGN tem a participação
especial de Cristiano Zanin, Valeska Teixeira, André de Almeida, Mark Weisbrot,
Pedro Serrano, Rubens Barbosa, Celso Amorim e André de Araújo. As entrevistas foram
gravadas entre outubro e novembro de 2019.
“Lava Jato Lado B” contou com a edição e imagens
do jornalista e produtor Nacho Lemus (Telesur), locução de Marco Aurélio
Carvalho (Criar Brasil), a colaboração dos jornalistas André Sampaio e Zé
Bernardes. O argumento é de Luis Nassif. Roteiro e entrevistas, Luis Nassif e
Cintia Alves (GGN). Coordenação geral de Lourdes Nassif (GGN).
O projeto foi financiado coletivamente via Catarse.
Confira os 5 episódios abaixo:
COMO A ANTICORRUPÇÃO VIROU BANDEIRA POLÍTICA DOS EUA - EP.1 - #LavaJatoLadoB
"Deltan,chefe da Lava Jato,quer anular delação de um dos executivos da Andrade Gutierrez p/ obrigá-lo a delatar filho de Lula;Vaza Jato mostrou que Deltan forçou executivo a fazer delação em 2016 mantendo-o preso por mais tempo, com ajuda de Moro, Janot.." https://t.co/NMN8eAIiX2
Assim como o ex-juiz, procuradores americanos que se
dedicavam a investigar corrupção passaram a trabalhar para escritórios de
advocacia que vendem serviços para empresas se “blindarem” exatamente desse
tipo de investigação
Será na Vila Olímpia o próximo estágio da carreira do
ex-juiz, ex-ministro e ex-bolsonarista de carteirinha Sergio Moro, agora na
iniciativa privada. A consultoria americana Alvarez e Marsal anunciou que
Moro será o chefe de investigações, disputas e compliance no seu escritório
envidraçado à beira da Marginal Tietê, pertinho do luxuoso Shopping JK.
Especializada em reestruturação corporativa, a Alvarez &
Marsal é a administradora judicial da Odebrecht, após a construtora ter pedido
recuperação judicial por causa das investigações da Lava-Jato no Brasil, nos
EUA e em dezenas de países da América Latina. A consultora já faturou 17,6milhões com o serviço, segundo reportagem do Uol. O Valor Econômico noticiou
que o contrato de Moro o exime de advogar em causas em que haja conflito de
interesses.
Entre os sócios sêniores, a empresa orgulha-se de contar com
um ex-agente do FBI, um ex-procurador do Departamento de Justiça dos EUA (DOJ)
e outro do governo britânico, além de um ex-funcionário da NSA.
Há alguns anos críticos vêm apontando para a escandalosa
“porta giratória” entre os procuradores americanos que se dedicam a investigar
corrupção e os riquíssimos escritórios de advocacia que têm vendido serviços
para empresas se “blindarem” exatamente desse tipo de investigação.
São jovens com ar de auto-satisfação e luxuosos escritórios
com vista para os pontos mais cobiçados de Nova York ou Washington. O caso mais
notório é Patrick Stokes, que liderou entre entre 2014 e 2016 o departamento de
FCPA (corrupção transnacional) do DOJ e depois virou sócio no escritório
Gibson, Dunn & Crutcher’s, em uma posição cujo salário chegou a R$ 3,2
milhões em 2017. Detalhe: a empresa foi a contratada pela Petrobras para
negociar o acordo com o DOJ, assinado no final de 2018, dois anos depois de
Patrick sair do cargo. O contrato traz a assinatura do advogado Joseph Warin,
hoje sócio de Patrick.
Em um breve levantamento feito com a jornalista Raphaela
Ribeiro, identificamos que de 19 procuradores americanos envolvidos nas
investigações da Lava Jato, do DOJ e do Securities and Exchange Commission
(Sec), pelo menos seis foram para a iniciativa privada.
Kevin Gingras, que veio ao Brasil em nome do DOJ entrevistar
Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa e Alexandre Yousseff em julho de 2016, hoje
é vice-presidente de litígios na empresa fabricante de armas e tecnologia de
defesa Lockheed Martin Corporation.
Charles Duross não chegou a trabalhar nos casos da
Lava-Jato, mas liderou a unidade de corrupção internacional do DOJ até 2014.
Estava nessa posição quando o governo americano começou a investigar a Embraer
por corrupção na República Dominicana, o que levou a uma multa de mais de US$
100 milhões para o governo dos EUA.
Duross hoje é advogado associado no escritório Morrison
& Foerster LLP. Ele foi indicado pelo DOJ para acompanhar as práticas
anticorrupção que vêm sendo adotadas pela Odebrecht e o desenvolvimento do
setor de “compliance”, depois da empreiteira concordar em pagar uma multa
bilionária aos americanos.
Do lado do FBI, George “Ren” McEachern liderou até 2017 a
Unidade de Corrupção Internacional em Washington, com mais de 40 agentes,
supervisionando todas as investigações de corrupção ligadas à Lava Jato. Pouco
depois, deixou o FBI para passar para a consultoria Exiger, onde ensina métodosde “compliance” e dá palestras para empresas como as médico-farmacêuticas
Pfizer e Johnson&Johnson e a fabricante de armas militares Raytheon.
Aqui no Brasil, o pioneiro ao “mudar de lado” foi o
procurador Marcelo Miller, que aparece como um dos principais articuladores com
os americanos nas conversas da Vaza-Jato, propondo acordos diretamente a eles
durante reuniões do grupo anticorrupção da OCDE.
Em abril de 2017 ele deixou o MPF e em seguida virou sócio
do escritório de advogados especializado em compliance Trench Rossi Watanabe.
Miller se deu mal. O anúncio do afastamento foi feito às vésperas da delação de
Joesley Batista, da JBS, que teve intermediação do mesmo escritório. Por ter
atuado nas duas pontas do negócio, passou a ser investigado e foi denunciado pelo próprio MPF. Em setembro daquele ano a PGR rescindiu o acordo de
colaboração de Joesley Batista mediado pelo procurador. E Miller saiu da
empresa poucos meses depois de ser contratado, recebendo a bagatela de R$ 1,6
milhão, segundo reportagem do O Globo.
Outro que pulou para a iniciativa privada foi o procurador
Carlos Fernando dos Santos Lima. Hoje no seu linkedin ele se descreve como
“advogado na área de compliance, investigações internas, monitoria, e acordos
de leniência e colaboração premiada”. Virou consultor, segundo coluna de FaustoMacedo, sem dar o nome aos clientes que o têm contratado, autor de livro sobre
compliance para bancos e palestrante. Sem cargo no governo, sem
magistratura, a nova empreitada de Moro pode ser lida apenas como uma demonstração
do apreço ao dinheiro – lembremos que ele chegou a receber mais de R$ 100 mil
no Tribunal Federal da 4ª Região por causa dos “penduricalhos” – e de falta de
imaginação, engordando ainda mais fila da “porta giratória” da Lava-Jato
Moro é anunciado como sócio-diretor de consultoria; empresa
é administradora judicial da Odebrecht
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro foi
anunciado como sócio-diretor da consultoria norte-americana de gestão de
empresas Alvarez & Marsal. Moro, que deixou o governo Bolsonaro em abril
após acusar o presidente de interferência política, atuará na sede da empresa
em São Paulo, na área de de "Disputas e Investigações".
O ministro venezuelano do Interior assegurou que o país
está em "alerta permanente" para evitar o tráfico de drogas a partir
da Colômbia.
O ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, Néstor
Reverol, informou que uma aeronave usada por traficantes com matrícula
norte-americana foi "inutilizada" após entrar ilegalmente no espaço aéreo
venezuelano, na fronteira com a Colômbia.
Inutilizada aeronave do narcotráfico com matrícula
norte-americana, que ingressou ilegalmente ao espaço aéreo venezuelano pelo
estado de Zulia.
"Os agentes do Exército bolivariano, após detectar a
unidade aérea ilegal por meio dos radares do Comando de Defesa Aeroespacial
Integral, ativaram todos os protocolos estabelecidos na Lei de Controle para a defesa Integral do Espaço Aéreo",
explicou o ministro.
O ministro especificou ainda que "a inutilização
ocorreu próximo de uma pista clandestina, no município de Machiques de
Perijá".
Logrando la inutilización cerca de una pista clandestina, en el municipio Machiques de Perijá. pic.twitter.com/TUFUm1RpG6
A inutilização ocorreu próximo de uma pista clandestina, no
município de Machiques de Perijá.
"Estamos em alerta permanente, vigiando nosso espaço
aéreo para evitar que seja utilizado para o tráfico de drogas a partir da
Colômbia", ressaltou.
Nos mantenemos en alerta permanente, vigilando nuestro espacio aéreo para evitar que sea utilizado para el tráfico ilícito de drogas desde Colombia como mayor productor de cocaína del mundo. #LaVerdadDeVenezuelapic.twitter.com/oyHkMZf1c9
Mantemo-nos em alerta permanente, vigiando nosso espaço
aéreo para evitar que seja utilizado pelo tráfico ilícito de drogas a parte da
Colômbia, como maior produtor de cocaína do mundo.
Desde julho de 2019, a Venezuela apreendeu 44 toneladas de drogas. O país compartilha mais de 2.000
quilômetros de fronteira com a Colômbia, país que produz 70% da cocaína
consumida no mundo, segundo a ONU.
Em palestra, no ano de 1988, o agente da CIA e fuzileiro
naval dos EUA relata a guerra contra o terceiro mundo praticada pela CIA
";nós estávamos atacando pessoas no 3º mundo e eu irei
rapidamente, para poupar tempo, dar a vocês um pequeno sentido do que significa
essa guerra contra o 3º mundo".
Na década de 1930, durante a grande depressão econômica, a
Skid Row, rua localizada em Los Angeles, nos Estados Unidos, já era um reduto
de pessoas sem emprego, desabrigadas e alcoólatras. Nos anos 70, a situação
piorou e a região passou a aglomerar milhares de sem-teto. Hoje em dia, o local
deixa de atrair turistas por sua situação de violência e degradação. Cerca de 4
mil dependentes químicos vivem no local, muito frequentado por traficantes. #RedeTVNews
ONG internacional teve acesso à minuta do contrato que
tratava da fundação que administraria a verba da Petrobras antes dele ser
assinado; diretor sugeriu que MPF estivesse fora do conselho, mas Dallagnol o
ignorou
A pedido de Dallagnol, ONG internacional combinava defesa
pública da força-tarefa
Mensagens de Telegram trocadas entre o procurador Deltan
Dallagnol e o diretor-executivo do capítulo brasileiro da Transparência
Internacional, Bruno Brandão, entregues ao Intercept Brasil e analisadas pela
Agência Pública sugerem uma proximidade pouco transparente da organização com a
Operação Lava Jato.
Com credibilidade mundial no combate à corrupção, a
Transparência Internacional, também conhecida pela sigla TI, atuou nos últimos
anos para defender publicamente a Lava Jato e seus protagonistas dentro e fora
do Brasil, por meio de entrevistas, contatos com a imprensa e publicação de
notas de apoio. As mensagens revelam que a ONG agiu diversas vezes a pedido do
procurador Deltan Dallagnol, que deixou no começo de setembro a
força-tarefa.
Os chats mostram que o então chefe da força-tarefa da Lava
Jato tinha uma relação próxima com Bruno Brandão, diretor da Transparência
Internacional. Dallagnol recorria a ele quando a imagem da operação estava em
perigo ou quando queria promovê-la.
Revelam também que a ONG teve acesso e palpitou na minuta do
contrato assinado entre a força-tarefa e a Petrobras para a criação de uma
fundação. A Transparência Internacional recomendou ao procurador da República
Deltan Dallagnol que o Ministério Público Federal (MPF) não tivesse assento no
conselho da bilionária Fundação Lava Jato, a ser formada com dinheiro das
multas recolhidas pela Petrobras. Mas Dallagnol deu de ombros para a sugestão e
viu sua fundação desmoronar ao ser questionada pela comandante do MPF, a então
procuradora-geral da República Raquel Dodge, e por decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Procurada pela reportagem, a organização afirmou, por meio
de nota (leia a íntegra aqui), que essa parceria, assim como a colaboração com
a força-tarefa da Lava Jato, faz parte da natureza do seu trabalho e missão. A
organização afirmou também que para cumprir sua missão “dialoga e coopera
sistematicamente com agentes públicos, sociedade civil, jornalistas
investigativos, entre outros” e que “é natural que, na consecução de sua missão
institucional, tenha estabelecido parceria institucional com o MPF e
colaboração com as Forças-Tarefa da Lava Jato, Greenfield, Amazônia e
outras”.
O MPF reforçou que os contatos entre o procurador e Bruno
Brandão “sempre se deram de modo republicano” e foram “focados em defender a
causa anticorrupção, o estado de direito e a democracia”. Leia a íntegra daresposta aqui.
Bruno Brandão é diretor-executivo da Transparência
Internacional no Brasil
“Colocando isso na boca do investidor estrangeiro, daria
muita credibilidade”
Após os primeiros anos, a Lava Jato passou a receber
crescentes críticas sobre o seu impacto na economia brasileira. Em junho de
2017, o então procurador-chefe da Lava Jato pediu a Brandão que o ajudasse a
pensar em estratégias para a operação conseguir apoio internacional. “Fiquei
pensando se não poderia haver uma declaração internacional de apoio”, escreveu
em chat privado no Telegram, no dia 2 de junho de 2017, às 14h17. “Falando que
é importante que para o desenvolvimento econômico do país é preciso que a
investigação prossiga, dentro da lei”, acrescentou.
Como solução, o diretor-executivo da TI chegou a propor a
Dallagnol que a ONG, por meio de um estudo, desse o crédito da recuperação da
economia do país à Lava Jato: “Acho que temos várias opções e que devemos
começar a agir rapidamente. Podemos começar a ver isso na quinta-feira mesmo.
Estamos pensando em começar uma pesquisa sobre a percepção dos maiores
investidores institucionais estrangeiros no Brasil sobre o que eles pensam da
Lava-Jato, se é bom pra economia ou não – e duvidaria que um investidor olhando
o médio e longo prazo diria que não. Se o Brasil está começando a se recuperar
podemos começar a creditar isso na conta do trabalho de vcs tb, colocando isso
na boca do investidor estrangeiro daria muita credibilidade – e desmontaria um
dos argumentos que os críticos mais repetem”, sugeriu Brandão a Dallagnol em 2
de junho de 2017.
Questionada, a Transparência Internacional se posicionou
afirmando que refuta veementemente o argumento de que a luta contra a corrupção
é danosa à economia, mas informou que o estudo não foi feito e “se viesse a ser
realizado, seguiria o mesmo processo transparente e independente de formulação
e validação metodológica que seguem todos os estudos da TI”.
Em 14 de fevereiro de 2018, no entanto, Bruno Brandão
publicou uma coluna no Valor Econômico com o título: “Legado de combate à
corrupção será positivo para a economia”. “Publiquei hoje um artigo no Valor
usando os resultados do TRAC pra rebater o discurso oportunista de que Lava
Jato e o combate à corrupção estão prejudicando a economia”, escreveu o diretor
da TI a Dallagnol.
No artigo, Brandão cita o estudo publicado no início daquele
mês, “Transparência em Relatórios Corporativos: as 100 Maiores Empresas e os 10
Maiores Bancos Brasileiros”, que seria, de acordo com ele, “o primeiro feito
pela organização voltado exclusivamente ao setor privado brasileiro”.
No texto, Brandão escreve que os resultados do estudo
“confirmam que a luta contra a corrupção já não tem como único vetor as
investigações e os processos judiciais”. “Ela também se reforça pela resposta
no mercado ao que já se consolida como uma nova realidade nacional”, destaca.
A troca de mensagens no Telegram sugere que a ONG teria sido
usada também para defender interesses pessoais de Deltan Dallagnol,
contrariando o código de ética e conduta da entidade, que diz que a organização
prima pela transparência na defesa do interesse público: “somos sempre
transparentes em nossas interações com tomadores de decisão e sobre a causa que
defendemos de acordo com nossa missão e valores”, diz o texto.
Dallagnol acionou Brandão quando o Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) instaurou, em 2018, um processo administrativo contra
o então procurador Carlos Fernando dos Santos Lima – hoje aposentado – por
quebra de decoro, em razão de críticas ao ex-presidente Michel Temer (MDB) e ao
STF na imprensa e nas redes sociais. Dallagnol demonstrou preocupação de que o
caso abrisse brecha para um processo contra manifestações públicas que ele
mesmo já tinha feito em redes sociais ou pela imprensa.
Enquanto criticava privadamente a postura de Carlos
Fernando, Brandão acolheu o pedido de Dallagnol.
Os diálogos são reproduzidos no formato original em que
foram entregues ao Intercept, incluindo erros de ortografia. “CF” é Carlos
Fernando.
Naquele dia, o procurador não recebeu nenhuma resposta. No
dia 10 de maio, voltou a cobrar um posicionamento da Transparência
Internacional. “Bruno, será que a TI conseguiria soltar algo (equilibrado, como
sempre) sobre liberdade de expressão até a próxima segunda?”, questionou. Dessa
vez, Brandão respondeu positivamente. “Conseguimos. Vou tentar escrever algo
amanhã.”
“Solta aí”
Depois de diversas outras mensagens do procurador
solicitando a nota, enfim, no dia 22 de maio de 2018, ela foi publicada na
página do Facebook da Transparência Internacional. Na nota, a TI “expressa sua
preocupação com a ameaça ao direito de liberdade de expressão de procuradores e
promotores de Justiça” e “exorta também o órgão a esclarecer – não no caso
individual, mas em interpretação geral – o que configura a quebra de decoro da
qual Lima é acusado”, precipitando-se a um cenário em que Dallagnol poderia ser
alvo de investigação.
No diálogo com Brandão, Dallagnol deixa claro que precisava
do posicionamento da entidade para fazer pressão política.
Uma semana depois, o chefe da força-tarefa da Lava Jato
enviou nova mensagem para Brandão, dessa vez para agradecer a contribuição.
“PAD” significa “processo administrativo”.
“Bruno, hoje foi julgado o caso do Carlos Fernando e, por 7
votos a 7, o Conselho não referendou a instauração do PAD contra Carlos
Fernando, com base na preliminar de falta de representação do suposto ofendido
(Temer). Em relação aos outros dois fatos, decidiram encaminhar para a
corregedoria de origem (o MPF), para que tenha o trâmite regular que acontece
com todas as representações (e que não havia sido adotado nesse caso). Sua voz
foi importantíssima para levantar a importante discussão sobre esse caso,
essencial para a liberdade de expressão, e consequente independência, dos
membros do MP em casos envolvendo poderosos. Mais uma vez, gostaria de
reconhecer sua importante e corajosa contribuição. Grande abraço, Deltan”,
escreveu no dia 29 de maio de 2018, às 21h37
De acordo com a Transparência Internacional, o
posicionamento da nota foi impessoal e está em convergência com a missão
institucional da organização e com o histórico de defesa da liberdade de
expressão de agentes de aplicação da lei. Já o MPF defendeu que o fato
“trata-se de interesse público e não questão de interesse particular”.
A TI afirmou ainda que “em todos os países em que houve
tentativa real de autoridades locais de levar investigações adiante, houve
poderosa reação através de campanhas de deslegitimação dos processos e
criminalização de seus agentes” e que “em todos os casos, a TI atuou e continua
atuando contra a impunidade e, principalmente, contra as intimidações e retaliações
sobre os agentes públicos”.
Na terça-feira, 8 de setembro, Dallagnol foi punido
justamente por conta de seus tweets. O CNMP acatou uma queixa de Renan
Calheiros (MDB-AL) a respeito de postagens nas quais o procurador afirmava que
a eleição de Calheiros à presidência do Senado travaria projetos anticorrupção
do Congresso. O CNMP avaliou que Dallagnol extrapolou os limites da liberdade
de expressão e agiu para interferir em outro poder. A pena imposta determina
que ele não pode ser promovido por um ano.
Preocupação com a percepção pública sobre apoio à Lava Jato
Desde junho de 2017, Brandão e Dallagnol começaram a conversar sobre a criação de um fundo para distribuir aportes a projetos de combate à corrupção. A ideia partiu do diretor da TI. “Deltan, talvez uma boa ideia seria vcs criarem uma espécie de fundo para distribuir mini-grants para iniciativas de controle social e de prevenção da corrupção. A TI pode ajudar a operacionalizar isto. Seria uma mensagem muito positiva da FT-LJ também…”, escreveu Brandão à Dallagnol em 8 de junho daquele ano.
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Desde 2015, Lava Jato discutia repartir multa da Petrobras
com americanos
“Difícil gerenciar pra nós. Só se for algo com a TI, mas teria que ser montado a partir daí pq nem pelo MPF posso assinar rs. Nós poderíamos participar das decisões de destinação… se quiser propor o desenho disso, gostei mto da ideia”, respondeu Deltan.
A proposta surgiu depois de Dallagnol ter oferecido à ONG uma doação de US$ 75 mil que a força-tarefa poderia ganhar em um prêmio. “Ponto é: podemos doar pra TI?”, perguntou o procurador a Brandão.
“Sobre a doação, mais uma vez obrigado pelo grande apoio, vou conversar com os colegas em Berlim e avaliar os riscos. Seria sem dúvida uma grande ajuda, mas o risco que vemos é comprometer – pelo menos na percepção pública – nosso apoio à Força Tarefa (que com certeza teremos que apoiar cada vez mais)”, respondeu o diretor da organização, enviando em seguida uma mensagem com a seguinte correção: “*comprometer, na percepção pública, a isenção do nosso apoio a vocês”.
A doação não foi adiante, segundo a própria TI explicou – todas as doações são publicadas no site da organização. Mas o diálogo sobre a criação de um fundo seguiu adiante e tomou forma com a possibilidade da multa bilionária da Petrobras.
TI foi consultora informal da fundação da Lava Jato
A Transparência Internacional foi parceira de primeira hora
na criação da fundação prevista em um acordo firmado entre o MPF e a Petrobras,
depois considerado ilegal pelo STF, que entendeu que o MPF estava “exacerbando
suas funções”.
O protagonismo dos procuradores na criação e gestão de uma
organização de direito privado, que ficaria com uma parcela da multa da
Petrobras, gerou desconfiança da sociedade e duras críticas de juristas e
autoridades contra a força-tarefa da Lava Jato. O acordo previa, por exemplo,
que a fundação teria sede em Curitiba e que o MPF e o MP do Paraná teriam a
prerrogativa de ocupar um assento cada um no órgão de deliberação superior da
fundação. Ao mesmo tempo, conforme revelado pela Folha de S.Paulo e The
Intercept Brasil, Dallagnol estava negociando a criação de uma empresa para
vender palestras anticorrupção em parceria com outro procurador.
Em relatório de fim de ano denominado “Retrospectiva Brasil
2019”, em que a Transparência Internacional faz um resumo dos avanços e
retrocessos da agenda anticorrupção no período, a entidade chamou de “ato
hostil” o pedido de anulação do acordo feito pela então procuradora-geral da
República Raquel Dodge ao STF, que suspendeu a medida em março de 2019. A verba
acabou sendo destinada para o combate à Covid-19.
A ONG, no entanto, não informou à sociedade que havia
participado extraoficialmente da elaboração do texto da minuta desse mesmo
acordo. Ele previa a destinação de R$ 2,5 bilhões para uma fundação privada que
investiria em projetos, iniciativas e entidades com atuação na prevenção e
combate à corrupção – mesmo perfil da Transparência Internacional.
A destinação desse dinheiro estava sendo discutida entre os
procuradores brasileiros e as autoridades americanas desde 2015, conforme
revelado pela Pública em março, e é fruto de um acordo entre a Petrobras e o
governo americano. Já em outubro daquele ano, Deltan Dallagnol defendia usar a
verba para entidades que combatem a corrupção – e citava, inclusive, a
Transparência Internacional. “Precisamos de alguém que se disponha a estudar e
bolar um destino desses valores que agradaria a todos, como um fundo, entidades
contra a corrupção, o sistema de saúde público, fundo de direitos difusos,
fundo penitenciário, órgãos públicos que combatem corrupção, a transparência
internacional Brasil ou contas abertas etc”, afirmou no Telegram aos colegas
que participavam do Chat FT MPF Curitiba 2, em 8 de outubro.
Em dezembro de 2018, mais de um mês antes de o acordo que
criava a fundação se tornar público – o que aconteceu em 23 de janeiro de 2019
–, pelo Telegram Dallagnol encaminhou o arquivo com uma versão preliminar da
minuta para Bruno Brandão e para Michael Mohallem, professor da Fundação
Getulio Vargas Direito Rio, pedindo sugestões.
“Caros, temos uma versão preliminar do acordo com a
Petrobras. Vcs podem olhar e dar sugestões, com base na sua experiência? […]”,
escreveu o procurador no chat 10M+ a Vingança, no dia 7 de dezembro de 2018.
Esse grupo do Telegram, formado por Dallagnol, Brandão e Mohallem, foi criado
com objetivo principal de debater as novas medidas de combate à
corrupção.
Sete dias depois da mensagem do procurador, o diretor da TI
enviou um arquivo com suas sugestões para o acordo.
Deltan Dallagnol e Bruno Brandão chegaram a discutir os
pontos propostos pelo diretor-executivo da Transparência Internacional ao texto
da minuta. “Bruno, suas sugestões foram ótimas e nos abreviaram um grande
trabalho”, agradeceu o procurador, às 13h36 do dia 17 de dezembro de
2018.
Entre eles, Brandão alertou Dallagnol sobre possíveis
críticas, que se concretizaram após a publicação do acordo, de que “o MP está
criando sua própria fundação pra ficar com o dinheiro da multa”. Deltan ignorou
as sugestões do diretor da TI.
Mesmo assim, depois de a minuta ter vindo a público e
causado diversas críticas, Brandão foi à imprensa defender o texto final. “A
crítica [de exacerbação do papel do Judiciário] seria razoável se o Ministério
Público determinasse, de maneira discricionária, o destino dos recursos. Mas
não é isso que está acontecendo. Eles não estão se apropriando dos recursos;
estão devolvendo para a sociedade”, defendeu Brandão, em entrevista à Folha deS.Paulo, em 3 de março de 2019.
Em 29 de novembro de 2018, o procurador Paulo Roberto Galvão
se reuniu com Brandão e o professor Michael Mohallem “para ver o modelo de
destinação” dos recursos da Petrobras.
No resumo do encontro que fez aos colegas no Chat Acordo
Petro x DOJ x SEC, ele escreveu, sobre a proposta: “Por enquanto pedem para não
ser compartilhada com Petrobras. TI tem receio de ficar fora da possibilidade
de receber recursos Possibilidade de questionamento do modelo – na J&F há
gente querendo dizer que o dinheiro deveria ser usado integralmente para
ressarcimento ao erário – mas não afeta o nosso caso”.
A Transparência Internacional participou da elaboração de um
plano de trabalho para gerir recursos da multa de R$ 2,3 bilhões imposta à
J&F pela força-tarefa da Greenfield, do MPF. O acordo de leniência previa a
destinação do dinheiro para projetos sociais. A colaboração formalizou-se com a
assinatura de um memorando de entendimento, em 12 de dezembro de 2017, entre a
TI, J&F e o MPF.
De acordo com a TI, foi com base nessa experiência que a
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba solicitou à organização, em dezembro de
2018, recomendações técnicas para diretrizes de governança e destinação de
investimento social, para inserção em acordo com a Petrobras.
“A TI Brasil apresentou as sugestões, baseadas nas
referências do trabalho realizado no âmbito do Memorando de Entendimento,
conforme solicitado pelos procuradores da Força Tarefa Lava Jato em Curitiba.
Entre as recomendações apresentadas pela TI Brasil, estava o alerta para que o
Ministério Público não fosse instituidor ou participasse da governança da
entidade a ser criada”, destacou a entidade.
O professor Michael Mohallem afirmou que, devido à sua
participação em projetos de pesquisa relacionados ao combate à corrupção,
recebe “ocasionalmente consultas acadêmicas sobre iniciativas no campo do
conhecimento”.
Questionada sobre a possibilidade de receber recursos, a
Transparência Internacional respondeu que “nunca recebeu qualquer tipo de
remuneração ou pleiteou qualquer função de gestão e jamais teve qualquer acordo
para receber recursos” e que “a TI Brasil não contribuiu com recomendações para
o caso dos recursos da Petrobras visando beneficiar-se”.
Segundo o MPF, o processo de reflexão e formatação do acordo
foi de responsabilidade exclusiva dos 14 procuradores da força-tarefa.
“Houve grande preocupação dos procuradores em garantir
mecanismos de governança para que a fundação de interesse público que seria
criada atuasse segundo as melhores práticas e com ampla transparência,
observando-se regras como objetividade, impessoalidade e accountability. Por
isso, nesse processo, foram buscados subsídios junto a vários atores de órgãos
públicos e da sociedade civil”, afirmou o MPF.
Diálogos obtidos pela reportagem mostram a proximidade do
então procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, com a ONG Transparência
Internacional
Conflito de interesses?
Semanas depois de o diretor da Transparência Internacional
ter opinado sobre o texto da minuta, a ONG foi convidada a opinar sobre a
formação da fundação. O acordo assinado pelo MPF e pela Petrobras previa que
entidades da sociedade civil indicariam nomes para compor um Comitê de
Curadoria Social. Seus membros seriam responsáveis por supervisionar a
constituição da entidade, a cargo do próprio MPF. Por escolha de Dallagnol, a
TI foi uma das primeiras organizações convidadas.
“Temos agora que começar os passos pra constituir a fundação.
Precisamos expedir ofícios. Acho que um próximo passo é obter indicação de
pessoas com reputação ilibada e tal… FAz um despahco para expedirmos ofícios:
-para convidar AGU e CGU para indicarem pessoa para participarem da
constituição da fundação… um ofício dizendo que dadas as importantes funções e
expertise etc, seria muito profícuo etc… e pede pra indicar alguém -para as
entidades … Olha o acordo e veja o que mais precisamos Quanto às entidades, tem
que selecionar tb. De cabeça, penso em TI e Observatório Social. Tem tb a
Contas Abertas, a Amarribo, o Instituto Ethos…. tem que ver quais mais. Vou
perguntar”, escreveu Dallagnol a um assessor da procuradoria em 30 de janeiro
de 2019.
Dallagnol chegou a ser questionado por colegas sobre a forma
como essas entidades foram escolhidas. O procurador Vladimir Aras apontou falta
de transparência. Ele também demonstrou incômodo com a participação do MPF e do
Ministério Público Estadual do Paraná na estrutura da fundação, vista por ele
como a principal fraqueza do acordo. “Pensem bem nisso. Ser fiscal e integrante
da entidade fiscalizada não é uma boa prática de conformidade e governança”,
observou a Dallagnol.
Questionado sobre possível conflito de interesses, o MPF
ressaltou que várias entidades foram consultadas para indicar nomes de pessoas
qualificadas para compor o Comitê de Curadoria Social. “O que não deve ser
confundido com um convite à entidade ou a seus membros”, pontuou.
Segundo a Procuradoria do Paraná, os critérios de destinação
de recursos seriam ainda definidos em estatuto, “inclusive para evitar
conflitos de interesses”. “É importante esclarecer mais uma vez que o acordo
previa que o Ministério Público Federal teria uma de várias cadeiras do
Conselho Curador, tendo participação reduzida, portanto, e jamais qualquer
controle, sobre a planejada fundação”, acrescentou.
À reportagem, a Transparência Internacional afirmou que “a
TI Brasil não contribuiu com recomendações para o caso dos recursos da
Petrobras visando beneficiar-se. Estivesse em busca de recursos, teria aceito
diretamente a oferta de financiamento feita pelo grupo J&F, ainda em 2017,
para cumprir obrigação de seu acordo de leniência. Em vez disso, a TI optou por
se engajar em empreitada muito mais demandante e desafiadora, mas com potencial
transformador da realidade da sociedade civil brasileira”.
Parceira fiel
A Transparência Internacional continuou apoiando a Lava Jato
e seus protagonistas mesmo após as revelações da série de reportagens da Vaza
Jato que explicitou o papel político da operação e mostrou comportamentos
antiéticos e fora dos padrões legais de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros
procuradores da força-tarefa. A entidade, inclusive, amenizou o
escândalo.
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“O conteúdo das mensagens revelava um grau problemático de
proximidade entre o juiz Moro e os membros da FT [força-tarefa], assim como
instâncias de conduta antiética ou questionável. Embora parte das críticas
feitas aos integrantes da força-tarefa seja justificada, as publicações da Vaza
Jato foram usadas para atacar a operação e os seus agentes”, posicionou-se a TI
no relatório de fim de ano “Retrospectiva Brasil 2019”.
“Ainda não houve relatos de ofensas mais graves ocorridas
durante as investigações ou nos julgamentos, como falsificação de provas ou
coerção de testemunhas. O escândalo afetou a imagem da Operação Lava-Jato e
aprofundou a divisão dentro do Ministério Público”, acrescentou. À Pública, a
organização afirmou que “os vazamentos foram instrumentalizados por quem queria
apenas colocar fim à maior operação de combate à corrupção no Brasil e
perpetuar a impunidade”.
No mesmo dia em que o então ministro Sergio Moro anunciou
sua demissão (motivada, segundo ele, pela interferência política do presidente
Jair Bolsonaro na Polícia Federal), a ONG publicou uma forte nota de apoio a
Moro. “As instituições e a sociedade brasileira devem agir para salvar a luta
contra a corrupção e o regime democrático: as gravíssimas revelações do
ex-ministro Sergio Moro precisam ser apuradas”, diz o título do texto.
Dias depois, a organização criticou a tentativa do
procurador-geral da República, Augusto Aras, de retomar a negociação de um
acordo de delação premiada com o advogado Rodrigo Tacla Duran, apontado como
operador financeiro da Odebrecht no exterior, que atingiria um amigo do
ex-ministro e ex-juiz da Lava Jato. “Quando um PGR indicado politicamente
transita tão intensamente no meio político, instala-se permanente receio de que
suas ações não se blindem inteiramente da política”, escreveu a ONG no Twitter
no dia 3 de junho.
A Transparência Internacional, no entanto, não se manifestou
quando Moro abandonou a magistratura para entrar no governo Bolsonaro, mesmo
sendo o principal nome da Operação Lava Jato e o responsável pela prisão do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o tirou da disputa eleitoral e
abriu caminho para a vitória do capitão reformado.
Em 2016, a TI deu o seu prestigioso Prêmio contra aCorrupção para a força-tarefa, afirmando que “a Operação Lava Jato começou como
uma investigação local sobre lavagem de dinheiro e se transformou na maior
investigação que expôs casos de corrupção no Brasil até o momento”. A
organização reforçou que os promotores “lidaram com um dos maiores escândalos
de corrupção do mundo, o caso Petrobras, averiguaram, processaram e obtiveram
severas penas contra alguns dos membros mais poderosos da elite
político-econômica do Brasil”.
Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (4), em
edição especial do aniversário de 19 anos da Fórum, o ex-presidente Lula falou
sobre a interferência dos Estados Unidos na América Latina.
“Eu aprendi que todos esses golpes na América Latina têm o
dedo dos EUA. E a questão da Lava Jato espalhada por toda a América Latina tem
o dedo do Departamento de Justiça americano. Isso já está provado em vários
países”, disse Lula. “Eles dão golpe quando faz políticas públicas, quando não
faz pode ficar”, completou o ex-presidente.
Lula afirmou que a sua gestão elevou papel do Brasil no cenário internacional. Para o ex-presidente, o governo dos EUA reagiu a esse fortalecimento e também ao crescimento das relações da China com a região, atuando contra o seu governo e os de países vizinhos.
“O Brasil teve a petulância de virar protagonista internacional no meu mandato. Se tem uma coisa que eu me orgulho, é que o Brasil passou a ser levado a sério pela China, pela Rússia, pelos EUA (…) mas eles [EUA] acham que o Brasil não tem esse direito, de ser protagonista. O Brasil, para eles, é colônia”, disse Lula, citando realizações de sua política externa e algumas reações contrária dos EUA.
“O que aconteceu no Equador, na Bolívia, o que quase acontece na Argentina, se a Cristina [Kirchner] não reagi e não se elege, o que aconteceu com o companheiro [Fernando] Lungo no Paraguai, foi o que aconteceu no Brasil (…) Eles falaram: ‘esse Brasil tá demais, esse Lula, tá demais, esse PT e essa Dilma tá demais, vamos tirar eles daí’ E como é que vai me prender? Inventaram a Lava Jato”, avaliou o ex-presidente
“Eu lamento que a gente não tenha se libertado de ser colônia. A última tentativa foi no meu governo”, finalizou.
Assista a entrevista completa:
No Twitter
Lula lembrou o sucesso do Orçamento Participativo lançado pelo PT na década de 80. Ele ressaltou ainda a importância de ouvir a todos, inclusive a juventude https://t.co/EmvIsHKcA0
247 - A força-tarefa da Lava Jato de Curitiba
anunciou oficialmente no início da tarde desta terça-feira (1) a saída do procurador Deltan Dallagnol da coordenação do
grupo.
Por meio de nota, a Lava Jato comunicou que o cargo de
Dallagnol deverá ser ocupado pelo procurador da República no Paraná Alessandro
José Fernandes de Oliveira.
Leia a nota na íntegra:
Após 6 anos à frente da Lava Jato no Paraná, o procurador da
República Deltan Dallagnol está se desligando da força-tarefa para se dedicar a
questões de saúde em sua família. Por todo esse período, enquanto Coordenador
dos trabalhos, Deltan desempenhou com retidão, denodo, esmero e abnegação suas
funções, reunindo raras qualidades técnicas e pessoais. A liderança exercida
foi fundamental para todos os resultados que a operação Lava Jato alcançou, e
os valores que inspirou certamente continuarão a nortear a atuação dos demais
membros da força-tarefa, que prosseguem no caso.
Com a saída anunciada, o procurador da República no Paraná
Alessandro José Fernandes de Oliveira deve assumir as funções antes exercidas
por Deltan Dallagnol, passando a titularizar, por meio de permuta, o ofício a
que distribuídas investigações da Lava Jato no Paraná. Alessandro, com
reconhecida experiência no combate ao crime organizado, é membro com maior
antiguidade na Procuradoria da República do Paraná a manifestar interesse e
disponibilidade para coordenar os trabalhos no ofício a que vinculado o caso.
Com a troca, Deltan, que solicitou um período de 15 dias para auxiliar na
transição, deve assumir o ofício de Alessandro.
Os integrantes da força-tarefa da Lava Jato no Paraná
agradecem Deltan Dallagnol pela imensa contribuição prestada ao combate à
corrupção e se solidarizam com o seu momento pessoal, ao tempo em que expressam
apoio e confiança a Alessandro Oliveira. Os trabalhos na força-tarefa
prosseguirão da mesma forma como nos últimos anos.
Conversamos com Silvio Caccia Bava, sociólogo e diretor do
jornal Le Monde Diplomatique Brasil, sobre a redução do valor do auxílio
emergencial e a saída do procurador Deltan Dallagnol da coordenação da força
tarefa da Lava Jato em Curitiba,
No Twitter
"Seguirei lutando contra a corrupção como procurador e cidadão. E isso é o que Brasil precisa que você faça", prometeu @deltanmd. Parece discurso de candidato – e talvez seja. Mostramos que ele cogitou (e ainda cogita) uma candidatura ao Senado https://t.co/febigluuUn [9/10]
Dia histórico para o Brasil. 0 procurador @deltanmd , que ajudou a acabar com a indústria da construção civil pesada, a enfraquecer a Petrobras e a fraudar as eleições de 2018 deixará finalmente a Lava Jato, depois de colecionar inúmeras derrotas.
Ótimo dia p/ entrevista chapa branca de @deltanmd p/ @fausto_macedo . Pena que não esclareceu esse assunto 👇👇👇- ‘NÃO VAMOS DEIXAR TRANSPARECER Q TIVEMOS ACESSO’ - MPF de Brasília vazou inquérito sigiloso contra Lula à Lava Jato https://t.co/Th9Czenuy0
247 - A economista Rosa Maria Marques,
professora de economia da PUC-SP, analisou o impacto negativo que a operação
Lava Jato trouxe à economia do país. Rosa Marques destaca que houve uma grande
movimentação nos setores empresariais para instaurar a agenda regressiva de
reformas neoliberais e que a Lava Jato foi parte dessa engrenagem.
Em seu artigo, Marques mobiliza os estudos sobre a operação,
que já começam a ganhar a atenção de pesquisadores e estudantes de economia.
Ela diz: “segundo Nozaki (2018), do Instituto de Estudos Estratégicos de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a operação provocou o desmantelamento
de “importantes setores da economia nacional, principalmente da indústria
petrolífera e da sua cadeia de fornecedores, como a construção civil, a
metal-mecânica, a indústria naval, a engenharia pesada, além do programa
nuclear brasileiro. Apenas em seu primeiro ano, estima-se que a Lava Jato retirou
cerca de R$ 142,6 bilhões da economia brasileira. Ou seja: a operação produziu
pelo menos três vezes mais prejuízos econômicos do que aquilo que ela avalia
ter sido desviado com corrupção.”
Marques prossegue: “Walde Junior (2019), por sua vez, estima
que, nos três primeiros anos, ocorreram mais de 2,5 milhões de demissões
ligadas às empresas investigadas pela Operação Lava Jato ou a suas
fornecedoras. Dois exemplos trazidos por este pesquisador são bastante
ilustrativos: que a Petrobras teria reduzido o número de seus funcionários de
446 mil, em dezembro de 2013, para pouco mais de 186 mil em dezembro de 2016; e
que a construtora Engevix teria, no mesmo período, demitido 82% dos
trabalhadores de seu quadro (de 17.000 para 3 mil). Mas é difícil se separar o
efeito da operação dos demais fatores anteriormente mencionados.”
E conclui: “por isso, talvez seja mais importante enfatizar
que, para além dos números das empresas diretamente afetadas, tais como
retração do investimento, do total de trabalhadores e do faturamento, fruto da
não preservação das empresas ao ter sido feito o combate à corrupção realizada
por indivíduos, é importante se atentar para seu resultado: o desmantelamento
do setor da construção civil e do petróleo e do gás no país. Este último já está
vivendo um franco processo de entrega para o grande capital estrangeiro via os
leilões do pré-sal.”
Baixe o livro Relações Obscenas na íntegra gratuitamente o
link abaixo:
Nunca é demais lembrar que Dallagnol e Moro são dois criminosos. Vamos mostrar ao Brasil todas as ilegalidades da Lava Jato, como a operação feriu a soberania nacional e provar a participação ilegal dos EUA no golpe contra @dilmabr e na prisão política de @LulaOficial.
Promotores dos EUA não negam "cooperação informal" e fora dos "canais oficiais" com a Lava Jato após cobrança de 13 parlamentares daquele país. O Decreto nº 3.810/01 não permite essa forma de relação entre promotores brasileiros e norte-americanos.https://t.co/fxbIDTH3V2
— Cristiano Zanin Martins (@czmartins) July 19, 2020