SÃO PAULO, Brasil — Não é sempre que um inquérito do Congresso pode levantar o ânimo. Mas a investigação do Senado brasileiro sobre a gestão da pandemia do governo, que começou em 27 de abril e tem rebitado minha atenção por semanas, faz exatamente isso.
Ilustração de Nicholas Konrad/The New York Times; fotografia
de Andressa Anholete / Getty Images
Como a pandemia continua a ira através do país,
alegando cerca
de 2.000 vidas por dia, o inquérito oferece a chance de responsabilizar o
governo do presidente Jair Bolsonaro. (Tipo de.) Também é uma grande distração
da realidade sombria. Transmitido ao vivo online e transmitido pela TV Senado,
o inquérito é uma exibição estranhamente fascinante de evasão, inaptidão e
mentiras.
Aqui está um exemplo do tipo de intriga oferecida. Em março
do ano passado, como a pandemia foi desenrolando, um campanha de mídia social chamado "Brasil Não Pode Parar" foi lançado pela unidade de
comunicação do presidente. Instando as pessoas a não mudarem suas rotinas, a
campanha alegou que "as mortes por coronavírus entre adultos e jovens são
raras". A campanha fortemente criticada foi eventualmente banido por um juiz federal e em grande parte
esquecido.
Então o enredo engrossou. O ex-diretor de comunicações do
governo, Fabio Wajngarten, disse ao inquérito que não sabia "Com certeza" que tinha sido responsável pela campanha.
Mais tarde, tropeçando em suas palavras, ele parecia se lembrar que seu departamento havia
desenvolvido a campanha - no espírito de experimentação, é claro - que foi
então lançada sem autorização. Um senador chamado para a prisão do Sr. Wajngarten, que jogou um contemplativa, quase poética olhar para o horizonte. A
câmera até tentou ampliar. Foi selvagem.
Isso é apenas um episódio; não é à toa que o inquérito chama
a atenção de muitos brasileiros. Até agora, fomos tratados
com depoimentos de três ex-ministros da saúde — um deles
teve grandes problemas com sua máscara, inspirando inúmeros memes — assim como o chefe do regulador
federal de saúde do Brasil, o ex-ministro das Relações Exteriores, o ex-diretor
de comunicação e gerente regional da empresa farmacêutica Pfizer.
O resultado de suas contas é óbvio, mas ainda totalmente
ultrajante: o presidente Jair Bolsonaro aparentemente pretendia levar o país à
imunidade de rebanho por infecção natural, quaisquer que sejam as
consequências. Isso significa - assumindo uma taxa de letalidade de cerca de 1%
e tomando 70% de infecção como um limiar provisório para a
imunidade do rebanho - que o Sr. Bolsonaro efetivamente planejou pelo menos 1,4 milhão de mortes no Brasil. Na perspectiva dele,
os 450 mil brasileiros já mortos pelo Covid-19 devem parecer um trabalho que
nem sequer é meio feito.
Escrito desta forma, o esforço parece chocante. Mas para os
brasileiros que vivem sob o governo do Sr. Bolsonaro não é surpresa. Afinal, o
presidente parecia fazer tudo o que podia para facilitar a propagação do vírus.
Ele passou o último ano falando e agindo contra todas as medidas
cientificamente comprovadas para conter a propagação do vírus. O distanciamento
social, disse ele, era para "idiotas Eduardo Pazuello". Máscaras eram "ficção". E vacinas podem transformá-lo em
um crocodilo.
Em seguida, houve a hidroxicloroquina antimalária, que o sr.
Bolsonaro promoveu como tratamento precoce e cura milagrosa para o Covid-19 —
apesar de todas as evidências científicas em contrário e do conselho expresso
de dois ex-ministros da saúde. Durante o inquérito, duas testemunhas diferentesconfirmaram sombriamente que tinham visto o rascunho
de um decreto presidencial estipulando que o folheto da droga deveria ser
alterado para incluir seu uso contra Covid-19.
Está piorando. De acordo com o Sr. Wajngarten e Carlos Murillo, gerente regional da Pfizer, a empresa farmacêutica se
ofereceu repetidamente para vender sua vacina Covid-19 ao governo brasileiro
entre agosto e novembro do ano passado — mas não obteve resposta nenhuma.
(Talvez o Ministério da Saúde tivesse coisas mais importantes para fazer, como
aprender a usar máscaras corretamente.) Considerando que o Brasil foi um dos primeiros países a ser abordado pela empresa,
uma resposta rápida teria garantido aos brasileiros até 1,5 milhão de doses no final de 2020, com mais 17
milhões no primeiro semestre de 2021.
Em vez disso, depois de recusar outras três ofertas, o
governo finalmente assinou um contrato em março, um impressionante sete meses após a primeira
oferta. As primeiras doses chegaram no final de abril. A implantação, como
resultado da negligência do governo na garantia de vacinas, vem parando, com
escassez regular de vacinas e falta de suprimentos levando a atrasos na produção.
Será que faz parte do plano? Quando o general Eduardo
Pazuello, ministro da Saúde do Brasil, entre maio de 2020 e março de 2021, foi
questionado por que o Ministério da Saúde solicitou a menor quantidade de doses
de vacina do Covax, iniciativa de compartilhamento de vacinas da Organização
Mundial da Saúde — eles poderiam ter pedido doses suficientes para
imunizar até 50% da população, mas preferiu ir para 10% — ele nem sequer pestanejou. O processo, explicou ele,era muito arriscado e as vacinas eram muito
caras. Então é isso.
Parece cada vez mais claro que a imunidade do rebanho,
através de obstrução, desinformação e negligência, sempre foi o objetivo. A
amarga ironia é que pode ser impossível alcançar. Em Manaus, onde 76% da população havia sido infectada até outubro, o
resultado não foi imunidade de rebanho: era uma nova variante.
O inquérito, de forma lenta e constante, está revelando um
enredo clássico de supervilões, ao mesmo tempo nefasto e absurdo, mortal e
terrível. Se o vilão encontra sua complacência é outra história.
O Times está empenhado em publicar uma
diversidade de cartasao editor.
Gostaríamos de ouvir o que você pensa sobre isso ou qualquer um de nossos artigos.
Aqui estão algumas dicas. E
aqui está nosso e-mail: letters@nytimes.com.
Vanessa Bárbara é editora do site literário A Hortaliça,
autora de dois romances e dois livros de não ficção em português, e escritora
de opinião contribuinte.
Boneco inflável usado para criticar Bolsonaro foi produzido
pelo Movimento Acredito, que teve que realizar o ato em outro local após
negativa da PM, mesmo com autorização de órgãos competentes
Fotos:
Divulgação/Movimento Acredito
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que quase
semanalmente permite manifestações em apoio a Jair Bolsonaro em Brasília,
tentou impedir nesta terça-feira (25) um ato contra o presidente na Esplanada
dos Ministérios.
O
ato, organizado pelo Movimento Acredito, contava com um boneco inflável
representando Bolsonaro, batizado de “Capitão Cloroquino”. A PM, no entanto,
não deixou os manifestantes encherem o boneco sob a alegação de que eles não
teriam autorização para fazê-lo.
O Movimento Acredito, no entanto, ressalta que obteve, nos
dias anteriores, autorizações do governo do Distrito Federal e da Secretaria de
Segurança Pública para realizar a manifestação. “Apesar disso, quando o grupo
chegou à região da Esplanada dos Ministérios na frente do Congresso Nacional, a
Polícia Militar do Distrito Federal barrou a manifestação, argumentando que o
boneco inflável, Capitão Cloroquino, seria um balão e que balões não poderiam
ser soltos naquele local por conta da segurança nacional. O grupo então
realizou o ato em outro ponto da cidade”, dizem os organizadores do ato.
Grupo de manifestantes é impedido de erguer boneco inflável
em protesto contra Bolsonaro
Membros do Movimento Acredito foram a Esplanada dos
Ministérios, em Brasília, hoje, para protestar contra o presidente Bolsonaro,
mas acabaram impedidos pela Polícia Militar do Distrito Federal. Eles traziam
consigo um boneco inflável do presidente de cerca de 10 metros que seria
enchido de ar no local.
De acordo com a reportagem, uma peça tem em média 350 gramas
e custa cerca de R$ 600. O almoço de Bolsonaro teve pelo menos duas dessas
peças, totalizando R$ 1.200 em 700 gramas de carne.
O churrasqueiro contratado, que aparece nas fotos com o
presidente, veio de Belém do Pará para fazer o churrasco no Alvorada, segundo o
colunista Marcos Nogueira. Ele atende pelo apelido Tchê – o “Churrasqueiro dos
Artistas”.
Em seu perfil no Instagram, Tchê justifica a alcunha com
imagens ao lado de personagens como o pintor Romero Britto, o ator Eri Johnson
e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Tchê apareceu em um post no domingo posando com Bolsonaro e
dois pacotes de carne. Na embalagem, uma charge do presidente, o slogan de
campanha de Bolsonaro e o nome do frigorífico. A mesma foto está no perfil do
Frigorífico Goiás, e a legenda anuncia: picanha Mito.
Nogueira ligou para o frigorífico, em Goiânia. A picanha
Mito estava em falta, mas era possível comprar a mesma carne com outra embalagem.
Picanha de gado da raça wagyu, de origem japonesa, por R$ 1.799,99 o quilo.
A reunião, que contou com cerca de 10 pessoas, ocorreu após
Bolsonaro realizar, na manhã de domingo, um passeio de moto por mais de uma hora. Centenas de
motociclistas participaram.
Ao retornar para o Alvorada, o presidente ainda causou
aglomeração e, sem máscara, cumprimentou apoiadores que estavam em frente à
residência oficial.
Em uma publicação nas redes sociais, um churrasqueiro, amigo
do presidente, contratado para a comemoração, compartilhou uma foto, ao lado de
Bolsonaro. Na imagem, os dois seguram embalagens de carne personalizadas com o
slogan usado pelo chefe do Executivo na campanha: “Brasil, acima de tudo, Deus
acima de todos”.
Nas imagens compartilhadas nas redes sociais de familiares e
amigos, é possível ver que não houve distanciamento social. Além disso, nenhum
convidado usou máscara de proteção. As medidas são recomendadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo próprio Ministério da Saúde como
ações de enfrentamento à pandemia do coronavírus.
BRASÍLIA - Pressionados pela opinião pública a explicarem a
utilização de um orçamento secreto para obtenção de apoio no Congresso,
governistas disseminam nas redes sociais, incluindo o ministro do
Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, uma versão falsa sobre o esquema revelado pelo Estadão. Segundo essa tese, o
dinheiro viria das emendas impositivas, a que todos os parlamentares têm
acesso, e teria sido distribuído de maneira igualitária aos congressistas. Não
é verdade.
Trata-se, na verdade, de um dinheiro paralelo ao reservado
para as emendas individuais a que todos os congressistas têm direito - aliados
e opositores - e que o Executivo tem a obrigação de pagar. Ao longo do ano,
cada parlamentar pode indicar R$ 8 milhões por meio de emendas individuais. E
outros R$ 8 milhões devem ir obrigatoriamente para a saúde. No caso do
orçamento secreto, as verbas são de outra natureza. Pelas regras, elas deveriam
ser gastas pelo governo por meio da seleção de projetos com critérios técnicos
e levando em consideração as condições socioeconômicas das localidades
beneficiadas.
Em síntese, o Executivo, por meio dos ministérios, deveria
ter critérios técnicos para investir em uma cidade e não em outra. Na prática,
os R$ 3 bilhões, do Ministério do Desenvolvimento Regional, acabaram servindo
para indicações pessoais de deputados e senadores aliados, com cotas
individuais muito superiores aos R$ 8 milhões das emendas individuais.
Enquanto as emendas individuais e de bancadas são de
pagamento obrigatório e com valores e regras fixas, o mesmo não se aplica às
emendas de relator-geral, origem do esquema revelado pelo Estadão.
As emendas individuais são registradas no Orçamento sob o código identificador
de resultado primário (RP) 6, enquanto as emendas de relator recebem o RP 9. O
RP 9 é uma categoria nova no Orçamento, criado já no governo Bolsonaro.
O presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), definiu a aplicação de R$ 277 milhões de
verbas públicas do Ministério do Desenvolvimento Regional. O presidente da
Câmara, Arthur Lira (Progressistas-PI), direcionou
outros R$ 114 milhões.
Líder do Centrão, Lira venceu a eleição para a presidência
da Câmara. Alcolumbre costurou acordos para eleger o seu sucessor, o
senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
O poder de congressistas sobre a vultosa quantia aparece em
uma centena de ofícios obtidos pelo Estadão nos quais
deputados e senadores determinavam como os recursos deveriam ser usados pelo
Ministério do Desenvolvimento Regional e por órgãos vinculados à pasta.
Esses ofícios, com o direcionamento de obras e compras de
tratores, por exemplo, são recebidos diretamente pelo governo, sem serem
submetidos à ampla publicidade. Daí, a expressão "orçamento secreto".
Curiosamente, o presidente Bolsonaro havia vetado a
tentativa do Congresso de impor o destino de um novo tipo de emenda (chamada
RP9), criado no seu governo. O veto segue em vigor.
Ao explicar o veto em mensagem ao Congresso, Bolsonaro
afirmou que "o dispositivo investe contra o princípio da impessoalidade
que orienta a administração pública ao fomentar cunho personalístico nas
indicações e priorizações das programações decorrentes de emendas, ampliando as
dificuldades operacionais para a garantia da execução da despesa pública".
Outro argumento usado por governistas é o de que senadores
petistas foram contemplados, o que esvaziaria o fato de que a verba serviu a
parlamentares aliados. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho,
usou as redes sociais para citar o senador Humberto
Costa (PT-PE) como um dos contemplados.
Contudo, a inclusão de petistas se deu em razão de um
movimento de Davi Alcolumbre. Após ver frustrada sua tentativa de ter a
reeleição como presidente do Senado pelo Supremo Tribunal Federal,
ele buscou o apoio do PT para Rodrigo Pacheco.
Foi nessa circunstância que o demista arranjou dinheiro do
orçamento secreto para Humberto Costa e também para os oposicionistas Rogério
Carvalho (PT-SE), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Weverton
Rocha (PDT-MA). Na época, houve estranhamento sobre o motivo de a
oposição ter defendido o candidato de Bolsonaro.
ORÇAMENTO SECRETO OU CORRUPÇÃO? BOLSONARO GASTOU R$ 3
BILHÕES EM TROCA DE APOIO DO CENTRÃO
Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo" (Estadão),
Bolsonaro criou "orçamento secreto" de R$ 3 bilhões em troca de apoio
do Congresso.
Desse valor, pelo menos R$ 271 milhões foram para tratores,
retroescavadeiras e equipamentos agrícolas a cima do preço de mercado.
Usuários das redes sociais começaram a denunciar que não se
trata de um "orçamento secreto", mas sim de um "Bolsolão"
ou "Tratoraço", um bolo de recursos que Bolsonaro utilizou para
comprar o apoio de parlamentares.
Um dos destinos favoritos é a compra de TRATORES e máquinas pesadas. É bom para tirar foto na cerimônia de entrega, é bom para comprar com SOBREPREÇO também
A cloroquina foi peça fundamental na propaganda negacionista
de Bolsonaro e um dos motivos de ele trocar médicos por um general no comando
do Ministério da Saúde
A CPI da Covid, no Senado, começa nesta semana a colher os
primeiros depoimentos, ouvindo os ex-ministros da Saúde de Bolsonaro — Luiz
Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello —, além do atual ocupante da
pasta, Marcelo Queiroga, e do presidente da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
As audiências serão uma oportunidade de, entre outras
coisas, explicar ao país por que Jair Bolsonaro defendeu tanto o uso da
hidroxicloroquina e outras drogas sem eficácia, o famigerado Kit Covid. Hoje,
já ficou claro que o atual presidente nunca se importou com o fato de os
remédios funcionarem ou não contra o novo coronavírus. A principal função
desses medicamentos sempre foi dar aos brasileiros uma falsa sensação de
segurança.
Como já mostrado aqui na série Réu Confesso,
Bolsonaro implementou a assassina estratégia de “imunização de rebanho”. Por
isso precisava que a população acreditasse no engodo da cloroquina e não se
protegesse em casa, ajudando-o a alcançar logo a meta de infectar “60% ou 70%
das pessoas”, como não se cansou de repetir. Em outras palavras, a cloroquina
era uma peça chave da propaganda
negacionista posta em prática pelo atual presidente.
Dessa maneira, Bolsonaro passou a pressionar o Ministério da
Saúde para recomendar oficialmente o uso da cloroquina. O problema é que nem
mesmo Luiz Henrique Mandetta nem Nelson Teich, médicos que aceitaram participar
de um governo cuja política de saúde passava pelo desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) e pela extinção de programas como o Mais Médicos, quiseram sujar
suas reputações recomendando um remédio sem eficácia e que, ainda por cima,
representa riscos à saúde.
Assim, tanto Mandetta quanto Teich deixaram o cargo quando a
pressão pela recomendação oficial da cloroquina ficou muito grande. E a
exposição desse motivo preocupa o governo, tanto que a Casa Civil da
Presidência da República, ao elaborar a lista de crimes pelos quais Bolsonaro poderia ser acusado na
CPI da Covid, anotou, no item 21: “O Presidente Bolsonaro pressionou
Mandetta e Teich para obrigá-los a defender o uso da Hidroxicloroquina”.
Quatro meses mais tarde, em setembro de 2020, Mandetta
lançou o livro Um paciente chamado Brasil, no qual expôs todo o
plano de Bolsonaro para usar a cloroquina como armas da imunização de rebanho:
“Nunca na cabeça dele houve a preocupação de propor a
cloroquina como um caminho de saúde. A preocupação dele era sempre ‘Vamos dar
esse remédio porque, com essa caixinha de cloroquina na mão, os trabalhadores
voltarão à ativa. (…) O projeto dele para combate à pandemia é dizer que o
governo tem o remédio e quem tomar o remédio vai ficar bem. Só vai morrer quem
ia morrer de qualquer maneira”.
Bolsonaro troca médico por general
Teich e Mandetta aceitaram conviver com os absurdos de
Bolsonaro até chegar ao ponto em que precisaram escolher entre manter-se em um
governo assassino e preservar a reputação como médicos. Percebendo isso, o
presidente decidiu colocar à frente do Ministério da Saúde Eduardo Pazuello,
que não é médico, mas um general que se mostrou disposto a ajudá-lo em sua
política de morte.
Bolsonaro questiona CPI da Covid: “Vai investigar o quê?”
O presidente Jair Bolsonaro criticou a CPI da covid: “Vai investigar o quê? Eu dei dinheiro para os caras”, disse o presidente, que ainda voltou a defender o uso da cloroquina contra a covid-19 pic.twitter.com/R65u5dx5dQ
O governo pagou R$ 1,6 milhão para divulgar campanha da
vacinação nos intervalos do JN
O país não apenas está muito longe de estar imunizado, como
nunca foi tão dividido - Carolina Antunes/PR
Não foi pouco o dinheiro “investido” pelo governo de Jair
Bolsonaro, em veículos de comunicação, para a campanha de vacinação contra
a covid-19 intitulada “Brasil imunizado, somos
uma só nação”, duplamente falaciosa.
O país não apenas está muito longe de estar imunizado, como
nunca foi tão dividido. A publicidade foi veiculada de 16 de março a 6 de abril
deste ano.
De acordo com dados da Lei de Acesso à Informação, nesse
período o governo gastou R$ 17,8 milhões para promover a campanha em jornais,
novelas, humorísticos, filmes exibidos na TV, em programas de jornalismo
policial de baixíssimo nível, Big Brother Brasil, programas
como Fantástico e Domingo Espetacular, entre
outros. A campanha foi criada pela agência Nova/SB.
A TV Globo ficou com a maior fatia do bolo: R$ 4 milhões. Em
seguida, a TV Record de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus
(R$ 3,9 milhões). Segue-se o SBT de Sílvio Santos (R$ 3,8 milhões).
Mais de meio milhão de reais foram desembolsados somente
para três programas “jornalísticos”. Cidade Alerta (Record),
com Luiz Bacci, levou quase R$ 395 mil. O programa Brasil Urgente (Band),
de José Luiz Datena, ficou com R$ 110 mil. Por fim, o de Sikêra Junior, Alerta
Nacional (RedeTV), recebeu R$ 65 mil, segundo matéria de Dioclécio Luz para o Brasil Popular.
Não por acaso, os três apresentadores apoiam, ou apoiaram, o
presidente. Datena – que defendeu a flexibilização do acesso a armas e a
reforma da Previdência – demonstrou indignação ao ver, na famosa reunião de 22
de abril de 2020, o presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, dizer que a
Band queria dinheiro do governo.
Bacci comemorou a eleição de Bolsonaro nas redes sociais e
tem defendido a abertura do comércio na pandemia. E Sikêra Junior é claramente
defensor do presidente e suas ideias. Não é, como se vê, por acaso que
acontecem as “entrevistas exclusivas” que Bolsonaro costuma lhes conceder, que
parecem mais conversa entre amigos do que pautas jornalísticas.
Globo é favorita
A maior parte dos recursos públicos para divulgar a falsa
ideia de vacinação dos brasileiros foi para os noticiários da TV Globo. O
governo pagou R$ 1.619.560,00 para divulgar a campanha de vacinação nos
intervalos do Jornal Nacional e R$ 1.253.620,00 nos do Fantástico.
O BBB faturou R$ 950 mil.
A TV Record recebeu R$ 850 mil para veicular a campanha
no Jornal da Record e mais R$ 505 mil para o Domingo
Espetacular. O Jornal da Band embolsou R$ 345 mil. O SBT
recebeu R$ 112 mil para veicular a campanha no humorístico A Praça é
Nossa e R$ 347 mil para o Programa Sílvio Santos.
Esse estado de coisas está em completo desacordo com a
Constituição Federal de 1988. Como se sabe, os meios de comunicação por rádio e
TV são concessão pública, conforme seu artigo 223.
“Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão,
permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e
imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado,
público e estatal”, diz o dispositivo.
Ligações sombrias
A campanha “Brasil imunizado, somos uma só nação” ter sido
veiculada pelo governo de um presidente que claramente incentivou a disseminação
do vírus – combatendo máscaras, a vacinação e a ciência – esconde um aspecto
mais sombrio.
Não só por proclamar a tal unidade que não existe. Desde a
campanha à presidência, Bolsonaro faz uso do bordão “Brasil acima de tudo, Deus
acima de todos”. A expressão faz lembrar a frase alemã Deutschland uber alles
(“Alemanha acima de tudo”).
É o primeiro verso da canção nacionalista Das Lied
der Deutschen (“A canção dos alemães”), de 1841. Hitler adorava a
música, explica matéria do Deutsche Welle, edição Brasil. Em
1936, ela foi entoada na abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim, quando Hitler
e seguidores entraram no Estádio Olímpico.
Desde o primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil, no
fim de fevereiro de 2020, a rotina dos profissionais de saúde mudou. Com o
aumento de infecções e mortes pela doença, médicos e enfermeiros na linha de
frente dos atendimentos passaram a viver o período mais difícil de suas
carreiras.
"Existe uma exaustão entre esses profissionais de saúde
há mais de um ano. É um estresse 24 horas, como a gente nunca viveu. É uma
exaustão física e emocional. Estamos trabalhando 24 horas salvando vidas",
diz o cardiologista Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do Instituto
do Coração em São Paulo.
Nesta quinta-feira (29/04), o Brasil atingiu a marca de 400
mil mortes pela covid-19, em meio ao seu mês mais letal da pandemia — em abril
já foram registradas mais de 75 mil mortes pela doença, enquanto em março deste
ano, até então o período com mais óbitos, foram 66 mil.
Em meio às centenas de milhares de mortes, os profissionais
de saúde acompanham diversas cenas que ilustram a tragédia do novo coronavírus.
Despedidas, mortes por falta de recursos básicos e óbitos de
diferentes integrantes da mesma família são algumas das situações que marcam os
trabalhadores na linha de frente.
"É o pior período para a saúde mental dos profissionais
de saúde. Muitos médicos pararam de dar plantão ou diminuíram o ritmo de
trabalho porque estavam muito estressados. Tem sido um período muito grande de
estresse", relata o médico intensivista José Albani de Carvalho.
Os profissionais de saúde relatam que cenas difíceis de
serem esquecidas se tornaram cada vez mais comuns em meio à pandemia. Para
dimensionar a tragédia vivida no país de 400 mil mortes pela doença, a BBC News
Brasil pediu para médicos relatarem algumas das situações mais dramáticas que
presenciaram desde o ano passado.
'Vimos um paciente morrer atrás do outro'
Em janeiro, Manaus viveu tragédia da falta de oxigênio
medicinal. Caso se tornou alvo de investigação
O médico cirurgião Pierre Oliva Souza nunca esquecerá as
cenas que presenciou no plantão que começou da noite de 14 de janeiro até o dia
seguinte, em uma unidade de saúde em Manaus, no Amazonas.
Ele chegou para o plantão no Serviço de Pronto Atendimento
(SPA) Joventina Dias por volta das 19h. Na unidade, logo foi informado por um
colega que não havia estoque de oxigênio medicinal — item fundamental para
auxiliar pacientes com dificuldades respiratórias, como aqueles com quadro
grave de covid-19.
"Havia apenas dois cilindros de oxigênio, que durariam
por algumas horas somente, porque a unidade estava lotada. Normalmente, havia
20 pacientes com suspeita de covid-19 que precisavam desse oxigênio, mas
naquele período tinha mais de 40", relata o médico.
Ele conta que alguns gestores da região falaram que logo
chegaria um caminhão carregado com oxigênio. "Deram falsas esperanças,
porque isso não era verdade. Não havia oxigênio em lugar nenhum de Manaus,
porque também faltou no mesmo dia em outras dezenas de unidades do Amazonas",
comenta.
Na madrugada de 15 de janeiro, o oxigênio acabou
completamente no SPA Joventina Dias. "Ninguém tinha avisado, dias
antes, que o estoque de oxigênio estava acabando no Estado. Foi muito chocante
para todo mundo", diz Souza.
"A gente sabia o quanto essa falta de oxigênio seria
danosa e grave. O governador chegou a comentar, na semana anterior, que o
Estado estava à beira de uma crise de oxigênio, por causa do aumento de casos
de covid-19. Mas nós, profissionais de saúde, não tínhamos noção de como, de
fato, a situação estava", diz o médico.
"Por causa da falta de oxigênio, a equipe de saúde teve
que assumir a difícil decisão de quem vai sobreviver ou morrer por conta da
absoluta falta de estrutura. Vimos um paciente morrer atrás do outro naquela
madrugada. Eles definhavam, buscavam respirar, ficavam com a coloração azulada
e morriam asfixiados na nossa frente. Não tínhamos o que fazer", relata
Souza.
Segundo Souza, somente no SPA Joventina Dias foram
contabilizadas oito mortes naquela madrugada. O médico relata que, normalmente,
havia duas ou três mortes por plantão. "Sei de lugar que registrou mais de
20 mortes por causa da falta de oxigênio", comenta.
A situação no Amazonas se tornou notícia em todo o mundo.
Diversos pacientes foram transferidos para outros Estados. Posteriormente, a
cidade recebeu abastecimentos de oxigênio. "A situação foi normalizada
depois. Hoje as coisas estão bem, principalmente porque os números de
internações caíram nas últimas semanas", diz o médico.
Apurações apontam que a falta de oxigênio causou dezenas de
mortes no Amazonas em meados de janeiro.
Então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou, na época,
que foi avisado por volta de 8 de janeiro que o alto número de internações em
Manaus até quintuplicou o uso do oxigênio medicinal. Em razão disso, segundo
ele, o Ministério da Saúde logo passou a tomar providências junto com o governo
estadual e a prefeitura.
De acordo com a CNN Brasil, o secretário de Saúde do Amazonas,
Marcellus Campelo, alegou, em depoimento à Polícia Federal que a falta de
oxigênio ocorreu porque a principal fornecedora do insumo no Estado informou
somente dias antes que não teria capacidade de atender a demanda na região, em
razão do aumento de internações.
Segundo o secretário, o governo local logo comunicou o
Ministério da Saúde e foram adotadas todas as medidas necessárias para o
"enfrentamento de uma crise de saúde sem precedentes na história do
Amazonas".
Em meados de abril, o Ministério Público Federal (MPF) do
Amazonas apresentou uma ação de improbidade administrativa por omissão sobre a
crise no fornecimento de oxigênio medicinal no Amazonas. Entre os alvos do
procedimento estão três secretários do Ministério da Saúde e o então responsável
pela pasta, general Eduardo Pazuello, e dois integrantes do governo do
Amazonas, entre eles o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campelo.
O MPF apontou falhas como omissão no monitoramento da
demanda de oxigênio medicinal e adoção de medidas para evitar o
desabastecimento, além de demora nas transferências de pacientes para outros
Estados. O caso segue na Justiça Federal do Amazonas.
Mais de três meses depois, as cenas de meados de janeiro
agora fazem parte das piores lembranças da pandemia para os profissionais de
saúde do Amazonas.
"Eu vou superar, porque nosso trabalho pede, mas não
vou esquecer nunca. Apesar de todo ensinamento que tivemos na faculdade, nunca
pensei que fosse viver em tempos de paz aquilo que só acontece na guerra, que é
escolher quem vai viver ou morrer", desabafa Souza.
'Vi famílias dizimadas'
O médico intensivista José Albani de Carvalho, que atua em
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais da grande São Paulo, comenta
que algumas das situações mais tristes que presenciou envolvem as mortes de
membros de uma mesma família pela covid-19.
"Ver famílias inteiras morrendo foi uma das coisas que
mais me marcaram. Não foi uma, nem duas, nem três. Foram vários casos de
irmãos, pais e filhos ou outros parentes morrendo com diferenças de horas ou
dias. A grande verdade é que na minha vida inteira nunca tinha visto isso tão
frequentemente", desabafa o médico, que trabalha em UTIs há mais de 30
anos.
"Teve uma família em que morreram três irmãos em dois
dias. Dois deles estavam em leitos próximos. Isso impacta muito, porque você vê
uma família ser dizimada", diz o médico.
Ele detalha o caso de três mortes de pessoas na faixa dos 40
anos que eram da mesma família. "O rapaz foi intubado com covid-19. A
mulher dele foi internada, mas parecia que evoluiria bem e não precisaria ser
intubada. Mas é muito difícil saber, porque às vezes um paciente demora 10 dias
na UTI e você não sabe para onde ele vai, se vai melhorar ou piorar",
comenta Albani.
"O rapaz acabou morrendo. A mulher dele, que a gente
achava que daria alta em poucos dias, piorou também e foi intubada. Dias
depois, ela morreu. Depois, a irmã dela, que estava internada no hospital,
também faleceu", relata o médico.
O intensivista foi o responsável por contar sobre as mortes
à família. "Nunca é fácil comunicar isso, porque você acompanha essas
famílias e aquele sofrimento durante as internações, que muitas vezes duram
dias ou semanas", diz.
"Por incrível que pareça, esse comunicado para as
famílias acaba sendo algo que a gente se acostuma. Não é ser insensível, mas é
que há mais de 30 anos na UTI isso acaba se tornando algo do cotidiano. Mas
claro, quando você vai comunicar três mortes para uma mesma família, como tem
acontecido em alguns casos, é mais difícil", acrescenta Albani.
O médico comenta que os familiares dos pacientes sempre
reconhecem o trabalho dos profissionais de saúde.
Enquanto precisam enfrentar números de internações e mortes
como nunca tinham presenciado em período recente, os profissionais de saúde
também enfrentam o estresse causado pela falta de cuidados de muitos em relação
ao coronavírus.
"Do ponto de vista da sociedade em geral os
profissionais de saúde não são reconhecidos. Enquanto vemos as dificuldades, as
mortes e trabalhamos sob muito estresse, há muitas pessoas nas ruas que falam
que máscara é bobagem e fazem aglomerações. Olhar essas situações causa ainda
mais estresse a esses profissionais", desabafa Albani.
'Ficamos com medo de dar a notícia da morte da esposa'
'Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas
da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes', diz médica
Para a médica Luisa Frota Chebabo, um dos momentos mais
tristes da pandemia envolveu uma família completamente afetada pela covid-19.
Ela conta que foram internados mãe, pai e filho no mesmo dia em um mesmo
hospital público da capital do Rio de Janeiro, em novembro passado.
"A mãe (de 60 anos) chegou muito grave e foi intubada
no momento da admissão (no hospital). O pai e o filho estavam um pouco mais
estáveis", diz Luisa.
Ela comenta que os leitos de covid-19 estavam
sobrecarregados na unidade de saúde, por isso os três integrantes da mesma
família tiveram de ficar na área de emergência.
"O filho foi mantido em observação, sem precisar de
oxigênio suplementar. O pai necessitou do oxigênio. Os dois ficaram ao lado da
mãe, intubada em estado grave", detalha a médica.
Luisa conta que o pai, que tinha 62 anos, dizia para todos
os médicos que o filho havia frequentado festas e transmitiu a covid-19 para a
família.
No dia seguinte à internação, o pai foi internado em um
leito que ficou vago na enfermaria de covid-19. O filho, por volta dos 30 anos,
se recuperou e logo teve alta hospitalar. A mãe continuava em estado grave na
emergência.
"O pai foi internado com piora progressiva. Todos os
dias, ele perguntava pela esposa, que também estava piorando cada vez
mais", detalha a médica.
Dois dias após chegar na unidade de saúde, a mãe da família
morreu. "O marido dela, cada vez mais precisando de suplementação de
oxigênio, continuava perguntando pela esposa", diz Luisa.
"A gente falava para ele que não tinha como ver muitos
detalhes sobre ela, já que estava internada em outro setor. Mas a gente falava
que ela continuava intubada, mesmo após a morte dela", relata a médica.
"Esse paciente era bem ansioso, então ficamos com medo
de dar a notícia do falecimento e precipitar uma descompensação da parte
respiratória. A própria família falou que era melhor não dar a notícia enquanto
ele não melhorasse, por causa desse componente de ansiedade importante",
diz Luisa.
A equipe médica optou por informar sobre a morte da
companheira somente quando o homem apresentasse melhora clínica. Cinco dias
após o falecimento da esposa, ele foi intubado. Três dias depois, morreu.
"Somente o filho ficou bem", diz Luisa.
A médica comenta que histórias como a da família que ela
acompanhou em novembro demonstram a gravidade da covid-19 em comparação a
outras enfermidades. "Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas
pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes", diz a
médica.
Jovens internados
'No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI.
Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente'
O cardiologista Roberto Kalil, que está há mais de três
décadas na Medicina, não tem dúvidas de que tem vivido o período mais dramático
de sua carreira.
"O que impacta é a agressividade do vírus, que até
então (antes do início da pandemia) era algo inesperado. É uma agressividade
tanto na fase hospitalar como até, em alguns casos, depois da alta",
relata o médico, que atua em hospitais de São Paulo.
Uma das situações que mais impactaram Kalil foi quando
notou, neste ano, a explosão de casos de covid-19 e a gravidade que a doença
passou a ter também entre muitos pacientes mais jovens, que foram parar na UTI
ou até morreram.
"No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na
UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente", diz à
BBC News Brasil.
Ele comenta que o agravamento do quadro entre os mais jovens
é em razão da variante P.1, descoberta em janeiro em Manaus. A maior incidência
entre os mais novos é uma das características associadas à nova variante.
A maioria dos casos registrados em 2021 em São Paulo, por
exemplo, se concentra entre pessoas de 20 a 54 anos. Na Grande São Paulo, dados
do início de março mostraram que 80% dos pacientes haviam sido infectados pela
P.1.
Dados do governo paulista apontam que na primeira onda da
pandemia mais de 80% dos leitos UTIs eram ocupados por idosos e portadores de
doenças crônicas. Agora, 60% das vagas são ocupadas por pessoas de 30 a 50
anos, a maioria sem doença prévia.
Essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros
motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas. Essa
característica pode estar ligada a duas hipóteses que estão próximas de serem
confirmadas por cientistas: agravamento mais rápido
do quadro de saúde e maior letalidade.
Conforme mostrado em reportagem da BBC News Brasil em 19 de
abril, uma das principais hipóteses para que a nova variante afete duramente os
mais jovens é a busca tardia por atendimento, quando a doença está bastante
agravada, muitas vezes de forma silenciosa.
Um dos principais benefícios da busca por atendimento
antecipado é o uso do oxigênio medicinal, que pode ajudar a evitar um maior
comprometimento dos pulmões. Além disso, o acompanhamento médico logo nos
primeiros sintomas pode evitar maiores complicações em outros órgãos.
Para o cardiologista Roberto Kalil, o cenário da pandemia no
Brasil pode melhorar, aos poucos, com a vacinação. Porém, diante da falta de
prazo para o avanço da imunização, que ainda está na fase dos grupos
prioritários, ele avalia que os trabalhadores na linha de frente ainda devem
enfrentar muito estresse em decorrência da sobrecarga no sistema de saúde.
"Espero que o cenário melhore a cada semana, mas ainda
estamos longe de sair da pandemia', diz Kalil.
A pediatra em estado grave
'Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo
bem', relata especialista
Entre as histórias que acompanhou desde o início da
pandemia, o médico Lucas Antony se recorda do caso de uma pediatra aposentada
que foi internada com a covid-19 em janeiro deste ano.
A idosa, de 85 anos, chegou ao hospital particular, na
capital Rio de Janeiro, com dificuldades respiratórias. "Ela foi internada
e usamos uma máscara de ventilação não-invasiva nela. Mas a paciente não estava
respondendo bem. Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo
bem", diz Antony.
O quadro da aposentada se agravou e ela precisou ser
intubada no dia seguinte à chegada ao hospital. Antony afirma que a situação se
tornou mais difícil por se tratar de uma paciente que era médica e sabia da
gravidade de seu próprio quadro.
"Ela estava falando com a gente com a máscara de
oxigênio e debatendo o caso dela quando informamos que ela precisaria ser
intubada. Em certo momento, ela parou de falar, ficou olhando para frente e
disse que só queria ir para casa", relembra o médico.
Enquanto era intubada, a pediatra reparou em uma enfermeira
que a auxiliou. "Ela perguntou se a enfermeira já havia sido, na infância,
atendida em um determinado serviço médico. A enfermeira disse que não que ela
soubesse, mas a pediatra falou que lembrava dela", relata Antony.
Horas após a pediatra ser intubada, a enfermeira entrou em
contato com a mãe. "A mãe da enfermeira disse que ela levava a filha para
ser atendida naquele serviço (citado pela médica aposentada) na infância.
Então, provavelmente essa pediatra atendeu a enfermeira em algum momento",
conta o médico.
Dois dias após ser intubada, a pediatra aposentada não
resistiu às complicações da covid-19. O médico relata que ficou comovido com o
caso da paciente por ser uma médica que sabia que não resistiria à doença e
pela lembrança que ela teve da enfermeira. "Foi uma história que me
marcou", diz.
Gasto do governo Bolsonaro com publicidade supera em mais de
R$ 3 milhões o valor repassado por Michelle Bolsonaro a entidades - a maioria
em cestas básicas. TCU investiga "prejuízo ao erário" em doação
destinada à compra de testes da Covid que foi parar na conta do programa
Michelle Bolsonaro no lançamento do Pátria Voluntária (Foto:
Marcos Corrêa/PR)
Reportagem de André Shalders, na edição deste domingo (25) do jornal O
Estado de S.Paulo, revela que à frente do programa Pátria Voluntária, Michelle
Bolsonaro gasta mais com dinheiro público fazendo publicidade do que repassa em
doações que recebe de empresas públicas para organizações da sociedade civil.
Até o mês de março, o governo Bolsonaro gastou R$ 9,3
milhões em recursos públicos para fazer publicidade do programa, além de pagar
R$ 359 mil para manter o site no ar.
O valor supera em mais de R$ 3 milhões o montante – de R$
5,89 milhões – repassado a entidades que atendem pessoas carentes, a maioria
com distribuição de cestas básicas.
Somente na semana passada, Michelle esteve em Presidente
Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, no interior paulista, para visitar
instituições de caridade e divulgar o programa, levando sete mil cestas de
alimentos.
A doação foi feita em 23 de março de 2020 ao Ministério da
Saúde “com fim específico de aquisição e aplicação de testes de Covid-19”.
Em julho, após a transferência do dinheiro, o governo
Bolsonaro pediu para a empresa para que o dinheiro não fosse utilizado na
compra de testes, mas em outras ações da pandemia. Os R$ 7,5 milhões então
foram transferidos para o projeto Arrecadação Solidária, que é comandado por
Michelle no Pátria Voluntária.
Ué? Não iam acabar com a mamata? TCU aponta prejuízo ao erário na doação de R$ 7,5 mi feito pelo frigorífico Marfrig ao governo para comprar testes da Covid e que foram parar na conta do programa Pátria Voluntária, que é comandado por Michelle Bolsonaro. https://t.co/6CdWjJ5Rp1
Até março deste ano, o governo federal gastou R$ 9,3 milhões para divulgar o Pátria Voluntária, mas doações que o programa repassou às entidades que atendem pessoas carentes só chegam à marca de R$ 5,89 milhões. https://t.co/ph7s7aadZS
Membros do PT de Muriaé pretendem acionar a Justiça contra Bernardo Oliveira por conta de supostas ameaças contra simpatizantes do partido feitas em grupo de WhatsApp; médico disse à Fórum que era "brincadeira" e que fala "foi retirada de contexto"
Petistas de Muriaé (MG) têm denunciado um médico da cidade
que, segundo relatos, estaria ameaçando simpatizantes do partido. Em um grupo
de WhatsApp, o profissional de saúde, que se chama Bernardo Pinto de Oliveira
Souza, afirmou que “petista em plantão eu mato”.
“Caça um jeito de arrumar um plano de saúde pq petista eu
mato em plantão, viu”, diz o médico em uma das mensagens enviadas no grupo.
“Quando c tiver morrendo lá, quero que vc grita luladrao e eu enfio o dedo no
seu cu pra ver a lágrima escorrendo nos zoi (sic). Petista trata-se assim”,
escreveu ainda Souza.
Fórum teve acesso ao print que mostra as
mensagens. Confira abaixo.
As supostas ameaças vêm sendo denunciadas por militantes do
PT de Muriaé. Em contato com aFórum, membros do diretório
municipal do partido informaram que vão denunciar o médico ao Ministério
Público e ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG). Segundo os
relatos recebidos pela reportagem, o profissional de saúde atenderia pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de Manhuaçu, que fica a duas horas de
Muriaé.
Pelas redes sociais, Bernardo mostra ser apoiador de Jair
Bolsonaro e antipetista. Ele ostenta fotos com frases como “o Lula tá preso,
babaca”, “PT não” e “Bolsonaro 17”.
Fórum entrou em contato com o médico, que
confirmou ser ele mesmo o autor das mensagens. Ele afirma, entretanto, que a
fala foi feita em um contexto de “brincadeira” em um grupo de amigos.
“Foi uma brincadeira entre amigos num grupo de WhatsApp. Com
quem eu brinquei, tenho muita intimidade para isso. Mas, como tudo é possível
na internet, tiraram a minha fala do contexto e fizeram isso comigo. Uma
irresponsabilidade”, afirmou.
“Moro numa cidade pequena de interior e isso está causando
uma exposição muito grande. Inclusive eu não trabalho fazendo plantão, o que
prova mais uma vez que não tem fundamento ser sério o que está escrito. Eu
friso que foi uma brincadeira entre amigos com muita intimidade, sem nenhuma
conotação política ou profissional”, disse ainda.
Por acordo, os deputados federais derrubaram, nesta
quarta-feira (17/3), em sessão do Congresso Nacional, o veto do presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) ao dispositivo que impedia o perdão de dívidas
tributárias contraídas por templos religiosos.
Este veto foi alvo de polêmica entre Bolsonaro e a bancada
evangélica. O presidente vetou em setembro de 2020 o perdão da dívida das
igrejas a pedido da equipe econômica, mas sugeriu a parlamentares da bancada
que derrubassem o veto.
Devido à pandemia da Covid-19, a sessão do Congresso ocorre
em duas fases: primeiro, somente com deputados; depois, com os senadores. A
decisão ainda precisa ser confirmada pelo Senado.
O artigo que havia sido vetado por Bolsonaro concede isenção
às igrejas em relação ao pagamento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) e às multas por não quitação do tributo. Na ocasião, o Ministério da
Economia estima que o perdão seria na ordem de R$ 1 bilhão.
Há vetos publicado com mais de 30 dias e, portanto, trancam
a pauta de votação do Congresso, o que prejudicaria a votação do Orçamento
prevista para 24 de março.
Papa Francisco, judeus e reformados, devem ter vergonha das Igrejas que, preocupados com doações e não orações, fizeram lobby junto ao Presicida @jairbolsonaro para manterem seus cultos abertos.
Cúmulo da canalhice... Essa corja não quer perder nunca... Me da muita pena dos fiéis iludidos por esses pastores bandidos... pic.twitter.com/KOcr6BJiHQ
— Marcelo Dias Haddad 2022 🚩🚩🚩 (@Marceloluladias) April 14, 2020
Integrantes da União dos Policiais do Brasil se dizem
traídos por Bolsonaro, que teria prometido poupá-los dos congelamentos
realizados pela PEC Emergencial, que foi aprovada no Senado, onde o senador
Flávio Bolsonaro votou contra a exclusão dos policiais
Integrantes da União dos Policiais do Brasil se dizem
traídos por Bolsonaro, que teria prometido poupá-los dos congelamentos
realizados pela PEC Emergencial, que foi aprovada no Senado, onde o senador
Flávio Bolsonaro votou contra a exclusão dos policiais.
O texto congela salários e proíbe progressão na carreira e
novas contratações sempre que houver decretação de estado de calamidade ou
quando a relação entre despesas correntes e receitas correntes alcançar 95%.
Na época da Reforma da Previdência, sem conseguir abrandar
regras da reforma para policiais, Bolsonaro foi chamado de “traidor” e alvo de
protestos em Brasília.
No Twitter
Policiais chamam Bolsonaro de traidor e ameaçam protestos pelo país para anunciar desembarque do governo. Servidores da segurança pública se irritaram com atuação do governo na PEC Emergencial https://t.co/Xw85AdhUps
— Emílio Moreno💉VACINA JÁ! (@emiliomoreno) March 10, 2021