BRASÍLIA – O comandante-geral do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, abriu nesta segunda-feira, 24, uma apuração disciplinar sobre a participação do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, em ato político ao lado do presidente Jair Bolsonaro. A manifestação foi realizada neste domingo, no Rio de Janeiro, e provocou aglomeração em um momento de pandemia de covid-19. Tanto Bolsonaro como Pazuello estavam sem máscara.
A apuração disciplinar é uma forma de o Exército garantir a
Pazuello o direito de defesa, embora a infração por participar de manifestação
política esteja documentada.
O Estadão apurou com quatro fontes que a
decisão já foi comunicada a Pazuello. O general ainda teria nesta segunda-feira
uma reunião no Comando-Geral do Exército, o Forte-Apache, em Brasília, a poucos
metros de sua residência na capital, o Hotel de Trânsito de Oficiais.
A punição varia de acordo com o grau do ato, se for julgada
como transgressão leve, média ou grave. Ao fim do processo, o comandante do
Exército pode aplicar a pena que vai de advertência verbal até prisão por no
máximo 30 dias.
O procedimento disciplinar é uma espécie de julgamento
adotado para casos considerados menos graves do que os que vão ao Conselho de
Justificação. Esse conselho pode ser instaurado em casos de reincidência de
transgressão disciplinar, crimes, atos que afetem a honra e o decoro, entre
outros, e pode acarretar o afastamento imediato de oficiais e na sua reforma e
perda de patentes.
Pazuello é um general de Divisão intendente, e, para sua
formação, está no topo da carreira, com três estrelas. Pelas regras atuais, os
generais de Intendência não podem chegar a quatro estrelas, cargo máximo de
general de Exército. O ex-ministro da Saúde poderia pedir passagem à reserva,
mas até hoje sempre resistiu a essa ideia, mesmo enquanto esteve no exercício
do cargo de ministro e era pressionado por generais a se afastar da ativa.
A participação de Pazuello em ato político irritou ainda
mais o generalato. O regulamento disciplinar do Exército prevê cinco
transgressões de natureza política, entre as quais “autorizar, promover ou
tomar parte em qualquer manifestação coletiva, seja de caráter reivindicatório
ou político, seja de crítica ou de apoio a ato de superior hierárquico”.
Oficialmente, o Exército ainda não se pronunciou sobre o
caso. O comando da Força Terrestre também não se manifestou sobre a reunião do
general da ativa com o ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral)
no hotel militar, dois dias depois de dizer à Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Covid que não poderia comparecer a depoimento presencial por ter tido
contato direto com assessores infectados pelo novo coronavírus.
O procedimento disciplinar vai enquadrar a conduta de
Pazuello em gradações da transgressão. Ela pode ser atenuada pelo “bom
comportamento” e "relevância de serviços prestados" pelo oficial
(Pazuello não tem outros casos em sua ficha), mas agravada por ter sido uma
manifestação “em público” – o ex-ministro subiu em carro de som e passeou de
moto entre militantes bolsonaristas.
A transgressão pode ser considerada "justificada",
o que, na prática, não resultaria em punição, se restar comprovado que Pazuello
obedeceu a “ordem superior”. Na ativa, ele ocupa um cargo administrativo na
Secretaria-Geral do Exército, e não mais um cargo civil de natureza política no
governo, mas estava acompanhado de Bolsonaro.
Na última sexta-feira (7), o Maranhão pediu para que, em até sete dias, a diretoria colegiada da agência se reúna novamente e dê um parecer sobre a vacina russa
O ministro Ricardo
Lewandowski, do STF (Supremo
Tribunal Federal), determinou nesta segunda-feira (10) que a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) informe, em 48 horas, e de maneira
pormenorizada, quais os documentos faltantes para uma análise definitiva do
pedido de autorização excepcional e temporária de importação e distribuição da
vacina Sputnik
V.
A ação apresentada alega o descumprimento, pela União, do
Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, o que teria
levado o estado a adquirir lotes da vacina Sputnik V, produzida pelo Instituto
Gamaleya, da Rússia.
No dia 26 de abril, o ministro Ricardo Lewandowski negou o
pedido formulado pela Anvisa para suspender o prazo de 30 dias - fixado pelo
próprio magistrado - para que o órgão analise e decida se estados e municípios
estão autorizados a importar doses da vacina Sputnik V.
Ao STF, a Anvisa argumentou que os dados sobre qualidade,
eficácia e segurança precisam ser juntados ao processo de pedido de compra para
decidir sobre "importação excepcional e temporária" de doses da
vacina desenvolvida pela Rússia.
O Instituto de Saúde Pública da Noruega recomendou contra o
uso da vacina Johnson & Johnson, adicionando a recomendação de evitar
permanentemente o uso da vacina AstraZeneca Covid-19 sobre o medo de efeitos
colaterais.
Em um comunicado à imprensa na segunda-feira, o Instituto
Norueguês de Saúde Pública (NIPH) aconselhou o governo contra o uso do jab
Johnson & Johnson Covid-19, seguindo a orientação de uma comissão nomeada
pelo governo. O comitê também apoiou uma recomendação anterior do NIPH de
não usar a injeção AstraZeneca.
“Não recomendamos que as vacinas sejam usadas no programa
nacional de vacinação devido aos graves efeitos colaterais que foram
observados”, disse Lars Vorland, presidente do comitê de
especialistas, em uma entrevista coletiva na segunda-feira.
Em sua declaração, o NIPH publicou formalmente a
recomendação de não usar o jab Johnson & Johnson Covid-19. “Nosso
objetivo é proteger o maior número de pessoas possível, o mais rápido possível,
para reabrir a sociedade e recuperar o dia a dia. Portanto, é uma decisão
difícil recomendar que uma das vacinas da Covid não seja usada ativamente no
programa. ”
O NIPH recomenda que a injeção da Johnson & Johnson seja
mantida em armazenamento de emergência para o caso de o fornecimento da vacina
do jab de mRNA falhar. Eles acrescentam que é particularmente adequada
para ser uma vacina de emergência, pois requer apenas uma dose e pode ser
armazenada por muito tempo.
A organização citou dados dos EUA que sugerem que a vacina
da Johnson & Johnson é menos provável de causar coágulos sanguíneos do que
a injeção da AstraZeneca, mas disse que ainda não havia uma imagem clara.
O NIPH disse que houve um progresso considerável no programa
de vacinação, com muitos idosos já totalmente inoculados, e que existe um
fornecimento confiável de vacinas de mRNA, ou seja, Moderna e Pfizer, ambas
autorizadas por Oslo.
O ministro da Saúde, Bent Hoeie, disse em entrevista
coletiva que “o governo usará isso como base para sua decisão,
juntamente com as recomendações do Instituto de Saúde Pública, sobre o uso
dessas vacinas”.
Em abril, o NIPH recomendou que o governo parasse de usar a
vacina Oxford / AstraZeneca Covid-19 após uma longa revisão da
vacina. Oslo suspendeu o uso da vacina em 11 de março após relatos de
coágulos sanguíneos raros e potencialmente fatais. As preocupações com a
coagulação do sangue já levaram a limitações na distribuição da vacina em
vários países.
Cinco profissionais de saúde, todos com idades entre 32 e 54
anos, foram hospitalizados após receberem a vacina AstraZeneca na
Noruega. Três deles morreram.
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AstraZeneca: vários países suspendem administração da vacina - 15 de mar. de 2021
Vários países europeus suspenderam o uso da vacina anticovid
da AstraZeneca. A decisão das autoridades ocorre em meio à denúncias por
prováveis efeitos colaterais. Alguns casos são relacionados a coágulos
sanguíneos
Segundo projeção da Universidade de Washington, já são 6,9
milhões de óbitos pela doença em todo o planeta, mais do que o dobro dos dados
oficiais
Vista aérea de um coveiro caminhando entre os túmulos de
vítimas da Covid-19 no cemitério de Nossa Senhora Aparecida em Manaus, estado
do Amazonas, Brasil, em 29 de abril de 2021 Foto: MICHAEL DANTAS / AFP
RIO — Estudo da Universidade de Washington indica que o
número de mortes causadas diretamente pela Covid-19 é mais do que o dobro do
oficialmente registrado no mundo. Pelos cálculos dos cientistas do Instituto de
Avaliação de Métricas de Saúde da universidade, que tem se destacado por suas
projeções certeiras desde o início da pandemia, já são 595.903 mortos no
Brasil, 6,9 milhões no mundo.
Pelas contas do instituto, no Brasil o número da tragédia
supera em 187.223 óbitos os dados oficiais. Já os EUA teriam de fato 905.289
mortos e não 574.043. A Índia 654.395 e não 221.181.
— Por pior que a pandemia de Covid-19 pareça, nossa análise
mostra que ela é significativamente ainda mais trágica. Conhecer o verdadeiro
número de mortos não somente ajuda a entender a magnitude dessa crise global
como fornece informação valiosa para que autoridades possam planejar ações e
planos de recuperação — afirmou, em comunicado, o diretor do instituto,
Christopher Murray.
Em sua análise, os pesquisadores enfatizam que a maioria dos
países subnotifica os números de mortos e muitos casos não foram registrados
como Covid-19. Muitas vezes a subnotificação é consequência de sistemas de
saúde sobrecarregados e da falta de testagem em massa para a detecção do
coronavírus, caso do Brasil.
Mas os cientistas salientam que não se trata apenas disso.
Dizem que “algo mais” pode estar por trás da gritante diferença de escala entre
as mortes registradas oficialmente como Covid-19 e o excesso de mortalidade
ocorrido durante a pandemia. A Rússia é o exemplo mais gritante, com um total
de óbitos estimados em 170 mil, ou seja, assustadores 13 vezes maior que o
número oficial do governo russo, de 13.529.
Noo estudo da Universidade de Washington o Brasil é citado
como exemplo de país onde há “anomalia de informação” nas causas reportadas de
todos os tipos de mortes.
Segundo os cientistas americanos, há um “claro e
significativo” registro tardio de mortes a partir de junho de 2020 no sistema
de saúde do país. E, por isso, eles coletaram dados do registro civil. “Nós
sistematicamente revisamos a entrada dos dados”, informaram os pesquisadores.
Christopher Murray disse que o número de mortos em todo o
paneta pela pandemia deverá alcançar 9,4 milhões em setembro. A Índia, onde há
uma explosão de casos desde março, deve passar os EUA como o país que mais perdeu
vidas devido ao coronavírus, com 1,4 milhão de vítimas. Os EUA devem chegar a
949 mil. Ele não fez projeções para o Brasil.
Os pesquisadores estimaram o excesso de mortalidade causado
diretamente pela Covid-19, semana a semana no mundo, comparando os números de
óbitos com aqueles que seriam esperados.
Método para se alcancar os números
Murray explica que o excesso de mortalidade é influenciado
por seis fatores. O primeiro são todas as mortes diretamente causadas pela
infecção Covid-19. O segundo, o aumento de mortalidade por outras doenças
devido à dificuldade de acesso a serviços de saúde causado pela pandemia.
O terceiro fator é o aumento de mortalidade associado a
complicações causadas por distúrbios mentais, como depressão e alcoolismo. O
quarto item é a redução da mortalidade, devido ao menor número de acidentes de
trânsito e outras formas de morte violenta propiciadas pela diminuição da
mobilidade.
O quinto indicador analisado foi a redução da mortalidade
devido à menor transmissão de outros vírus respiratórios. E, por fim, o sexto,
a diminuição de mortes por doenças crônicas como as cardiovasculares que
poderiam ter acometido idosos que acabaram por morrer antes, de Covid-19.
De posse de todas essas variáveis, os cientistas fizeram uma
análise em quatro etapas. A primeira foi estimar em cada país, semana a semana
desde o início da pandemia, o aumento da mortalidade comparado à taxa
projetada, baseada nos anos anteriores.
A segunda etapa foi estimar a fração de excesso de
mortalidade direta por Covid-19 em oposição aos cinco outros fatores
considerados.
Numa terceira etapa, os pesquisadores desenvolveram um
modelo estatístico para predizer a taxa total de mortes por Covid-19 em lugares
sem informações completas. Por fim, numa quarta etapa, projetaram uma
estimativa global.
— Não temos ainda a mortalidade nem a letalidade da Gripe
Espanhola, que superou os 50 milhões de óbitos. Mas, dado o que acontece na
Índia, a Covid-19 poderá matar muito mais gente do que já vimos até agora —
afirmou Murray.
Damares Alves pediu que Jair Bolsonaro rejeitasse
oferecer leitos de UTI e produtos de limpeza a indígenas porque os
povos não haviam sido “diretamente consultados pelo Congresso Nacional”.
Foto: Pedro Ladeira
Uma nota técnica enviada pela ministra ao
Planalto, assinada em 6 de julho por Esequiel Roque, secretário adjunto da
Igualdade Racial, pedia que Bolsonaro retirasse da lei de proteção aos
indígenas a obrigação de União, estados e municípios fornecerem itens como água
potável; materiais de limpeza, higiene e desinfecção; leitos de UTI;
ventiladores pulmonares; e materiais informativos sobre a Covid-19.
Bolsonaro concordou.
Segundo o documento endossado por Damares, “mesmo cientes da
situação de excepcionalidade vivida pelo país e da celeridade em aprovar
projetos de lei que beneficiem e protejam os povos tradicionais, os povos
indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais não foram diretamente
consultados pelo Congresso Nacional”.
Os dados foram enviados nesta semana ao deputado Ivan
Valente, do PSOL de São Paulo, após um requerimento de informações.
No mesmo dia da publicação dos vetos presidenciais, em 8 de
julho, Luís Roberto Barroso mandou o governo adotar medidas para evitar mortes
de indígenas pela doença.
Um mês depois, a decisão do ministro foi referendada pelo
plenário do STF, e o Congresso Nacional derrubou os vetos de Bolsonaro.
BRASÍLIA – Primeiro a ser interrogado pela CPI da
Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta disse nesta terça-feira, 4, ter sido chamado no
Palácio do Planalto para tratar sobre incluir na bula da cloroquina a
recomendação para tratar covid-19. O medicamento, propagandeado pelo
presidente Jair Bolsonaro como solução para a doença, é
usado para contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação
científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.
O ex-ministro, demitido em 16 de abril de 2020, narrou ter
sido chamado às pressas para uma reunião no terceiro andar do Palácio do
Planalto, onde fica o gabinete presidencial, na qual outros integrantes da
equipe e médicos convidados discutiam mudar a bula por meio de decreto. Na
versão de Mandetta, o presidente da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, teria
barrado a ideia.
“Era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma
reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina
que eu nunca havia conhecido. Ele (Bolsonaro) tinha um assessoramento
paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de
decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a
bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da para
coronavírus”, afirmou. “O presidente da Anvisa disse que não. Jorge Ramos (na
verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência)
disse que era uma sugestão. Uma sugestão de alguém que se deu trabalho de
colocar aquilo em formato de decreto.”
Em outro momento, Mandetta afirmou não ter dado qualquer
orientação sobre aumentar a produção de cloroquina nos laboratórios do
Exército. A medida foi tomada pelo governo no ano passado, quando alguns
médicos passaram a recomendar o medicamento para tratar a doença com base em
alguns casos, mas sem embasamento em estudos científicos.
“A única orientação sobre cloroquina que partiu do
Ministério foi sobre o uso compassivo, ou seja, quando não há outro recurso,
para pacientes graves em ambiente hospitalar. A cloroquina tem margem de
segurança estreita. Ela tem uma série de reações adversas e cuidados que devem
ser feitos. Poderia ser perigoso para as pessoas”, afirmou.
No depoimento, o ex-ministro afirmou que filhos políticos de
Bolsonaro acompanhavam reuniões ministeriais que tratavam do enfrentamento ao
vírus e atrapalharam a relação com a China, principal fornecedora de insumos.
Segundo o ex-ministro, o vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ) participava de reuniões ministeriais
tomando notas. E os demais, o deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ), chegaram a barrar uma reunião
presencial com o embaixador da China no Planalto.
“O outro filho do presidente, Eduardo (Bolsonaro),
tinha rotas de colisão com a China. Um dia estavam os três filhos do presidente
(no Palácio do Planalto). E disse a eles que precisava conversar com o
embaixador da China. E ele disse que ‘aqui não’. Acabei fazendo por telefone.
Havia dificuldade de superar essas questões”, relatou.
Aos senadores, Mandetta afirmou que a postura de Bolsonaro
na pandemia contribuiu para o agravamento da crise e para o aumento do número
de mortes.“Se a postura teve um impacto? Sim. Em tempos de pandemia, tem que
ter unidade, fala única. O raciocínio não é individual, o vírus ataca a
sociedade como um todo. Ataca a economia, o esporte, o lazer”, disse, em
resposta ao senador Randolfe
Rodrigues (Rede-AP).
Ainda no começo de seu depoimento, Mandetta descreveu o
comportamento errático de Bolsonaro: durante algumas reuniões, o presidente
dizia concordar com as orientações do Ministério da Saúde e da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Mas, em seguida, fazia declarações públicas defendendo
tratamentos e estratégias que não foram corroboradas pela evidência científica,
como o uso da cloroquina e o chamado “isolamento vertical”. Este último é a
ideia de manter em isolamento apenas pessoas idosas ou com comorbidades,
liberando as demais para transitar normalmente.
“Eu imagino que ele (Bolsonaro) construiu,
fora do Ministério da Saúde, alguns aconselhamentos que o levaram para estas
tomadas de decisões que ele as teve. Mas não saberia lhe nominar cada uma
delas”, completou Mandetta.
Precisamos de explicações sobre as intenções do governo de mudar bula da Cloroquina para que remédio fosse indicado para coronavírus! #CPIdaPandemiapic.twitter.com/R2owLtSYQZ
Variante indiana do coronavírus preocupa por conter duas mutações que podem ajudar o vírus a se espalhar mais facilmente e escapar do sistema imunológico
O Ministério da Saúde de Israel informou que foram identificados 41 casos da variante indiana do coronavírus. Destes, 24 foram importados e 17 são resultados de transmissão comunitária.
Segundo o governo israelense, 4 pessoas infectadas com a cepa oriunda da Índia estavam vacinadas contra a covid-19, aumentando a preocupação com a resistência da variante aos imunizantes.
Em comunicado divulgado na última 5ª feira (29.abr), o Ministério da Saúde afirmou que “ainda não há informações claras sobre a variante indiana e suas implicações na eficácia da vacinação”.
O diretor-geral da instituição, Hezi Levy, disse em entrevista à rádio israelense Kan que as autoridades de saúde do país acreditam que a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada em Israel, possui eficácia reduzida contra a nova cepa.
O ministério pede que “toda a população, incluindo vacinados e que tenham se recuperado [da covid-19], evitem viagens desnecessárias ao exterior”.
O país também identificou 8 casos da cepa sul-africana, 7 da variante de Nova York, 2 da variante da Califórnia, 1 da variante de São Petersburgo e 1 caso de uma variante britânica diferente da que se espalhou pelo mundo.
Na última semana, o país proibiu a entrada de turistas provenientes da Índia. Ainda determinou que cidadãos nacionais que retornem do país devem ficar em isolamento.
Além da Índia, quem chega de outros 6 destinos também deve ficar em quarentena: Ucrânia, Etiópia, África do Sul, México, Turquia e Brasil.
VARIANTE INDIANA
A Índia confirmou a nova variante do coronavírus em março e afirmou que a cepa carrega duas mutações. O diretor do Centro de Biologia Celular e Molecular do país, Dr. Rakesh Mishra, disse na ocasião que essas mutações genéticas podem ser uma preocupação, pois ajudam o vírus a se espalhar mais facilmente e escapar do sistema imunológico.
Atualmente, a Índia luta contra um aumento de infecções pelo coronavírus, com suspeita que a causa mais provável é a presença de variantes mais infecciosas, incluindo a recém-detectada.
Na gravação, presidente recomenda medicamentos sem eficácia contra Covid-19 e critica governadores por decretos na pandemia
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que
investiga as ações e omissões do governo Bolsonaro durante a pandemia, recebeu
uma fita contendo cerca de oito horas de gravações do presidente. A informação
é do blog do Noblat, no Metrópoles.
Entre áudios e vídeos, o mandatário aparece recomendando
medicamentos sem eficácia contra o vírus e criticando governadores e prefeitos
por decretos adotados para conter a disseminação da doença.
Ainda segundo o blog, assessores da CPI temem que os
arquivos vazem público, o que impactaria as eleições de 2022. Com isso, O
material estaria guardado em um cofre, e a senha só é conhecida pelo presidente
da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL).
O compilado, compartilhado em reportagem da Folha de S.Paulo,
cita críticas de Bolsonaro ao isolamento social, defende o uso de medicamentos
sem eficácia contra a Covid-19, como a cloroquina, e minimiza o vírus, chamando
a doença de “gripezinha”.
Em resolução aprovada por maioria, eurodeputados pedem que
autoridades que promovem desinformação sejam processadas e levadas à Justiça
Deputada alemã Anna Cavazzani (Reprodução/Parlamento
Europeu)
Em debate promovido nesta quinta-feira (29) no Parlamento
Europeu sobre a pandemia da Covid-19 na América Latina e violação dos direitos
humanos, eurodeputados fizeram duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro,
acusado por eles de promover uma “gestão criminosa” da crise sanitária no
Brasil.
Segundo reportagem de Jamil Chade, no UOL, deputados aprovaram uma resolução por maioria absoluta
que recomenda que autoridades que fizeram campanhas de desinformação sejam
processadas e levadas à Justiça. Apesar de não citar diretamente o presidente
brasileiro, o documento foi visto como investida dos parlamentares contra a
gestão da pandemia no Brasil.
Durante o debate, no entanto, o nome de Bolsonaro não foi
poupado. A condenação foi geral ao negacionismo do presidente brasileiro.
“Com a gestão criminosa de Bolsonaro, ele em vez de fazer
guerra ao vírus faz guerra contra a ciência”, acusou o deputado espanhol Miguel
Urban Crespo, da esquerda europeia. Para ele, Bolsonaro faz “necropolítica e
lesa humanidade”, acrescentando que “Bolsonaro é não apenas um perigo para o
Brasil, mas para o mundo inteiro”.
A deputada alemã Anna Cavazzani afirmou que a tragédia
sanitária no Brasil poderia ter sido evitada. “São quase 400 mil mortos no
Brasil. É uma tragédia provocada por decisões políticas deliberadas. Para
nenhum governo foi fácil. Mas tentar uma coisa, recusar é outra”, disse.
O texto aprovado não gera uma obrigação legal, mas reforça o
isolamento do Brasil no exterior e a imagem desgastada de Bolsonaro na Europa.
Diante da delegação UE-Brasil presente hoje no Parlamento
Europeu, o eurodeputado Miguel Urbán denuncia a política genocida de Bolsonaro,
que levou a uma crise humanitária, sanitária e econômica sem precedentes no
Brasil. Para derrotar Bolsonaro e a extrema-direita, a luta é internacional!
Para ela, o Brasil vive "uma verdadeira tragédia" que "poderia ter sido evitada e que foi causada por decisões políticas deliberadas".#BolsonaroGenocidapic.twitter.com/pENz0fppp8
No dia em que o Brasil chega a 400 mil vidas perdidas por COVID-19, o eurodeputado @MiguelUrban reafirma que gestão de Bolsonaro na pandemia é criminosa e deve ser investigada! Esse genocida transformou o país em um perigo p/ o mundo! Tirar Bolsonaro para que o genocídio acabe! pic.twitter.com/1OeydQNUkw
Desde o primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil, no
fim de fevereiro de 2020, a rotina dos profissionais de saúde mudou. Com o
aumento de infecções e mortes pela doença, médicos e enfermeiros na linha de
frente dos atendimentos passaram a viver o período mais difícil de suas
carreiras.
"Existe uma exaustão entre esses profissionais de saúde
há mais de um ano. É um estresse 24 horas, como a gente nunca viveu. É uma
exaustão física e emocional. Estamos trabalhando 24 horas salvando vidas",
diz o cardiologista Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do Instituto
do Coração em São Paulo.
Nesta quinta-feira (29/04), o Brasil atingiu a marca de 400
mil mortes pela covid-19, em meio ao seu mês mais letal da pandemia — em abril
já foram registradas mais de 75 mil mortes pela doença, enquanto em março deste
ano, até então o período com mais óbitos, foram 66 mil.
Em meio às centenas de milhares de mortes, os profissionais
de saúde acompanham diversas cenas que ilustram a tragédia do novo coronavírus.
Despedidas, mortes por falta de recursos básicos e óbitos de
diferentes integrantes da mesma família são algumas das situações que marcam os
trabalhadores na linha de frente.
"É o pior período para a saúde mental dos profissionais
de saúde. Muitos médicos pararam de dar plantão ou diminuíram o ritmo de
trabalho porque estavam muito estressados. Tem sido um período muito grande de
estresse", relata o médico intensivista José Albani de Carvalho.
Os profissionais de saúde relatam que cenas difíceis de
serem esquecidas se tornaram cada vez mais comuns em meio à pandemia. Para
dimensionar a tragédia vivida no país de 400 mil mortes pela doença, a BBC News
Brasil pediu para médicos relatarem algumas das situações mais dramáticas que
presenciaram desde o ano passado.
'Vimos um paciente morrer atrás do outro'
Em janeiro, Manaus viveu tragédia da falta de oxigênio
medicinal. Caso se tornou alvo de investigação
O médico cirurgião Pierre Oliva Souza nunca esquecerá as
cenas que presenciou no plantão que começou da noite de 14 de janeiro até o dia
seguinte, em uma unidade de saúde em Manaus, no Amazonas.
Ele chegou para o plantão no Serviço de Pronto Atendimento
(SPA) Joventina Dias por volta das 19h. Na unidade, logo foi informado por um
colega que não havia estoque de oxigênio medicinal — item fundamental para
auxiliar pacientes com dificuldades respiratórias, como aqueles com quadro
grave de covid-19.
"Havia apenas dois cilindros de oxigênio, que durariam
por algumas horas somente, porque a unidade estava lotada. Normalmente, havia
20 pacientes com suspeita de covid-19 que precisavam desse oxigênio, mas
naquele período tinha mais de 40", relata o médico.
Ele conta que alguns gestores da região falaram que logo
chegaria um caminhão carregado com oxigênio. "Deram falsas esperanças,
porque isso não era verdade. Não havia oxigênio em lugar nenhum de Manaus,
porque também faltou no mesmo dia em outras dezenas de unidades do Amazonas",
comenta.
Na madrugada de 15 de janeiro, o oxigênio acabou
completamente no SPA Joventina Dias. "Ninguém tinha avisado, dias
antes, que o estoque de oxigênio estava acabando no Estado. Foi muito chocante
para todo mundo", diz Souza.
"A gente sabia o quanto essa falta de oxigênio seria
danosa e grave. O governador chegou a comentar, na semana anterior, que o
Estado estava à beira de uma crise de oxigênio, por causa do aumento de casos
de covid-19. Mas nós, profissionais de saúde, não tínhamos noção de como, de
fato, a situação estava", diz o médico.
"Por causa da falta de oxigênio, a equipe de saúde teve
que assumir a difícil decisão de quem vai sobreviver ou morrer por conta da
absoluta falta de estrutura. Vimos um paciente morrer atrás do outro naquela
madrugada. Eles definhavam, buscavam respirar, ficavam com a coloração azulada
e morriam asfixiados na nossa frente. Não tínhamos o que fazer", relata
Souza.
Segundo Souza, somente no SPA Joventina Dias foram
contabilizadas oito mortes naquela madrugada. O médico relata que, normalmente,
havia duas ou três mortes por plantão. "Sei de lugar que registrou mais de
20 mortes por causa da falta de oxigênio", comenta.
A situação no Amazonas se tornou notícia em todo o mundo.
Diversos pacientes foram transferidos para outros Estados. Posteriormente, a
cidade recebeu abastecimentos de oxigênio. "A situação foi normalizada
depois. Hoje as coisas estão bem, principalmente porque os números de
internações caíram nas últimas semanas", diz o médico.
Apurações apontam que a falta de oxigênio causou dezenas de
mortes no Amazonas em meados de janeiro.
Então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello afirmou, na época,
que foi avisado por volta de 8 de janeiro que o alto número de internações em
Manaus até quintuplicou o uso do oxigênio medicinal. Em razão disso, segundo
ele, o Ministério da Saúde logo passou a tomar providências junto com o governo
estadual e a prefeitura.
De acordo com a CNN Brasil, o secretário de Saúde do Amazonas,
Marcellus Campelo, alegou, em depoimento à Polícia Federal que a falta de
oxigênio ocorreu porque a principal fornecedora do insumo no Estado informou
somente dias antes que não teria capacidade de atender a demanda na região, em
razão do aumento de internações.
Segundo o secretário, o governo local logo comunicou o
Ministério da Saúde e foram adotadas todas as medidas necessárias para o
"enfrentamento de uma crise de saúde sem precedentes na história do
Amazonas".
Em meados de abril, o Ministério Público Federal (MPF) do
Amazonas apresentou uma ação de improbidade administrativa por omissão sobre a
crise no fornecimento de oxigênio medicinal no Amazonas. Entre os alvos do
procedimento estão três secretários do Ministério da Saúde e o então responsável
pela pasta, general Eduardo Pazuello, e dois integrantes do governo do
Amazonas, entre eles o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campelo.
O MPF apontou falhas como omissão no monitoramento da
demanda de oxigênio medicinal e adoção de medidas para evitar o
desabastecimento, além de demora nas transferências de pacientes para outros
Estados. O caso segue na Justiça Federal do Amazonas.
Mais de três meses depois, as cenas de meados de janeiro
agora fazem parte das piores lembranças da pandemia para os profissionais de
saúde do Amazonas.
"Eu vou superar, porque nosso trabalho pede, mas não
vou esquecer nunca. Apesar de todo ensinamento que tivemos na faculdade, nunca
pensei que fosse viver em tempos de paz aquilo que só acontece na guerra, que é
escolher quem vai viver ou morrer", desabafa Souza.
'Vi famílias dizimadas'
O médico intensivista José Albani de Carvalho, que atua em
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais da grande São Paulo, comenta
que algumas das situações mais tristes que presenciou envolvem as mortes de
membros de uma mesma família pela covid-19.
"Ver famílias inteiras morrendo foi uma das coisas que
mais me marcaram. Não foi uma, nem duas, nem três. Foram vários casos de
irmãos, pais e filhos ou outros parentes morrendo com diferenças de horas ou
dias. A grande verdade é que na minha vida inteira nunca tinha visto isso tão
frequentemente", desabafa o médico, que trabalha em UTIs há mais de 30
anos.
"Teve uma família em que morreram três irmãos em dois
dias. Dois deles estavam em leitos próximos. Isso impacta muito, porque você vê
uma família ser dizimada", diz o médico.
Ele detalha o caso de três mortes de pessoas na faixa dos 40
anos que eram da mesma família. "O rapaz foi intubado com covid-19. A
mulher dele foi internada, mas parecia que evoluiria bem e não precisaria ser
intubada. Mas é muito difícil saber, porque às vezes um paciente demora 10 dias
na UTI e você não sabe para onde ele vai, se vai melhorar ou piorar",
comenta Albani.
"O rapaz acabou morrendo. A mulher dele, que a gente
achava que daria alta em poucos dias, piorou também e foi intubada. Dias
depois, ela morreu. Depois, a irmã dela, que estava internada no hospital,
também faleceu", relata o médico.
O intensivista foi o responsável por contar sobre as mortes
à família. "Nunca é fácil comunicar isso, porque você acompanha essas
famílias e aquele sofrimento durante as internações, que muitas vezes duram
dias ou semanas", diz.
"Por incrível que pareça, esse comunicado para as
famílias acaba sendo algo que a gente se acostuma. Não é ser insensível, mas é
que há mais de 30 anos na UTI isso acaba se tornando algo do cotidiano. Mas
claro, quando você vai comunicar três mortes para uma mesma família, como tem
acontecido em alguns casos, é mais difícil", acrescenta Albani.
O médico comenta que os familiares dos pacientes sempre
reconhecem o trabalho dos profissionais de saúde.
Enquanto precisam enfrentar números de internações e mortes
como nunca tinham presenciado em período recente, os profissionais de saúde
também enfrentam o estresse causado pela falta de cuidados de muitos em relação
ao coronavírus.
"Do ponto de vista da sociedade em geral os
profissionais de saúde não são reconhecidos. Enquanto vemos as dificuldades, as
mortes e trabalhamos sob muito estresse, há muitas pessoas nas ruas que falam
que máscara é bobagem e fazem aglomerações. Olhar essas situações causa ainda
mais estresse a esses profissionais", desabafa Albani.
'Ficamos com medo de dar a notícia da morte da esposa'
'Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas pessoas
da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes', diz médica
Para a médica Luisa Frota Chebabo, um dos momentos mais
tristes da pandemia envolveu uma família completamente afetada pela covid-19.
Ela conta que foram internados mãe, pai e filho no mesmo dia em um mesmo
hospital público da capital do Rio de Janeiro, em novembro passado.
"A mãe (de 60 anos) chegou muito grave e foi intubada
no momento da admissão (no hospital). O pai e o filho estavam um pouco mais
estáveis", diz Luisa.
Ela comenta que os leitos de covid-19 estavam
sobrecarregados na unidade de saúde, por isso os três integrantes da mesma
família tiveram de ficar na área de emergência.
"O filho foi mantido em observação, sem precisar de
oxigênio suplementar. O pai necessitou do oxigênio. Os dois ficaram ao lado da
mãe, intubada em estado grave", detalha a médica.
Luisa conta que o pai, que tinha 62 anos, dizia para todos
os médicos que o filho havia frequentado festas e transmitiu a covid-19 para a
família.
No dia seguinte à internação, o pai foi internado em um
leito que ficou vago na enfermaria de covid-19. O filho, por volta dos 30 anos,
se recuperou e logo teve alta hospitalar. A mãe continuava em estado grave na
emergência.
"O pai foi internado com piora progressiva. Todos os
dias, ele perguntava pela esposa, que também estava piorando cada vez
mais", detalha a médica.
Dois dias após chegar na unidade de saúde, a mãe da família
morreu. "O marido dela, cada vez mais precisando de suplementação de
oxigênio, continuava perguntando pela esposa", diz Luisa.
"A gente falava para ele que não tinha como ver muitos
detalhes sobre ela, já que estava internada em outro setor. Mas a gente falava
que ela continuava intubada, mesmo após a morte dela", relata a médica.
"Esse paciente era bem ansioso, então ficamos com medo
de dar a notícia do falecimento e precipitar uma descompensação da parte
respiratória. A própria família falou que era melhor não dar a notícia enquanto
ele não melhorasse, por causa desse componente de ansiedade importante",
diz Luisa.
A equipe médica optou por informar sobre a morte da
companheira somente quando o homem apresentasse melhora clínica. Cinco dias
após o falecimento da esposa, ele foi intubado. Três dias depois, morreu.
"Somente o filho ficou bem", diz Luisa.
A médica comenta que histórias como a da família que ela
acompanhou em novembro demonstram a gravidade da covid-19 em comparação a
outras enfermidades. "Nenhuma outra doença tinha esse agravante de muitas
pessoas da mesma família morrendo juntas. Os casos são impactantes", diz a
médica.
Jovens internados
'No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na UTI.
Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente'
O cardiologista Roberto Kalil, que está há mais de três
décadas na Medicina, não tem dúvidas de que tem vivido o período mais dramático
de sua carreira.
"O que impacta é a agressividade do vírus, que até
então (antes do início da pandemia) era algo inesperado. É uma agressividade
tanto na fase hospitalar como até, em alguns casos, depois da alta",
relata o médico, que atua em hospitais de São Paulo.
Uma das situações que mais impactaram Kalil foi quando
notou, neste ano, a explosão de casos de covid-19 e a gravidade que a doença
passou a ter também entre muitos pacientes mais jovens, que foram parar na UTI
ou até morreram.
"No ano passado, a gente via pessoas mais velhas na
UTI. Agora vemos muitos jovens. Muita gente fica grave rapidamente", diz à
BBC News Brasil.
Ele comenta que o agravamento do quadro entre os mais jovens
é em razão da variante P.1, descoberta em janeiro em Manaus. A maior incidência
entre os mais novos é uma das características associadas à nova variante.
A maioria dos casos registrados em 2021 em São Paulo, por
exemplo, se concentra entre pessoas de 20 a 54 anos. Na Grande São Paulo, dados
do início de março mostraram que 80% dos pacientes haviam sido infectados pela
P.1.
Dados do governo paulista apontam que na primeira onda da
pandemia mais de 80% dos leitos UTIs eram ocupados por idosos e portadores de
doenças crônicas. Agora, 60% das vagas são ocupadas por pessoas de 30 a 50
anos, a maioria sem doença prévia.
Essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros
motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas. Essa
característica pode estar ligada a duas hipóteses que estão próximas de serem
confirmadas por cientistas: agravamento mais rápido
do quadro de saúde e maior letalidade.
Conforme mostrado em reportagem da BBC News Brasil em 19 de
abril, uma das principais hipóteses para que a nova variante afete duramente os
mais jovens é a busca tardia por atendimento, quando a doença está bastante
agravada, muitas vezes de forma silenciosa.
Um dos principais benefícios da busca por atendimento
antecipado é o uso do oxigênio medicinal, que pode ajudar a evitar um maior
comprometimento dos pulmões. Além disso, o acompanhamento médico logo nos
primeiros sintomas pode evitar maiores complicações em outros órgãos.
Para o cardiologista Roberto Kalil, o cenário da pandemia no
Brasil pode melhorar, aos poucos, com a vacinação. Porém, diante da falta de
prazo para o avanço da imunização, que ainda está na fase dos grupos
prioritários, ele avalia que os trabalhadores na linha de frente ainda devem
enfrentar muito estresse em decorrência da sobrecarga no sistema de saúde.
"Espero que o cenário melhore a cada semana, mas ainda
estamos longe de sair da pandemia', diz Kalil.
A pediatra em estado grave
'Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo
bem', relata especialista
Entre as histórias que acompanhou desde o início da
pandemia, o médico Lucas Antony se recorda do caso de uma pediatra aposentada
que foi internada com a covid-19 em janeiro deste ano.
A idosa, de 85 anos, chegou ao hospital particular, na
capital Rio de Janeiro, com dificuldades respiratórias. "Ela foi internada
e usamos uma máscara de ventilação não-invasiva nela. Mas a paciente não estava
respondendo bem. Ela, como médica, também percebeu que não estava evoluindo
bem", diz Antony.
O quadro da aposentada se agravou e ela precisou ser
intubada no dia seguinte à chegada ao hospital. Antony afirma que a situação se
tornou mais difícil por se tratar de uma paciente que era médica e sabia da
gravidade de seu próprio quadro.
"Ela estava falando com a gente com a máscara de
oxigênio e debatendo o caso dela quando informamos que ela precisaria ser
intubada. Em certo momento, ela parou de falar, ficou olhando para frente e
disse que só queria ir para casa", relembra o médico.
Enquanto era intubada, a pediatra reparou em uma enfermeira
que a auxiliou. "Ela perguntou se a enfermeira já havia sido, na infância,
atendida em um determinado serviço médico. A enfermeira disse que não que ela
soubesse, mas a pediatra falou que lembrava dela", relata Antony.
Horas após a pediatra ser intubada, a enfermeira entrou em
contato com a mãe. "A mãe da enfermeira disse que ela levava a filha para
ser atendida naquele serviço (citado pela médica aposentada) na infância.
Então, provavelmente essa pediatra atendeu a enfermeira em algum momento",
conta o médico.
Dois dias após ser intubada, a pediatra aposentada não
resistiu às complicações da covid-19. O médico relata que ficou comovido com o
caso da paciente por ser uma médica que sabia que não resistiria à doença e
pela lembrança que ela teve da enfermeira. "Foi uma história que me
marcou", diz.
Essa desigualdade está embutida em cada etapa do processo de
fabricação da vacina.
Parentes, amigos e trabalhadores do cemitério se preparam
para abaixar o corpo de uma vítima do coronavírus Covid-19 durante o enterro em
um cemitério em Nova Delhi, 28 de abril de 2021. Sajjad Hussain / AFP via Getty
Images
Os países de alta renda compraram mais da metade do
suprimento da vacina Covid-19 até o momento, e os países de baixa renda, apenas
9 por cento, de acordo com o Global Health Innovation Center da Duke
University. É por isso que um país como os EUA está perto de
vacinar metade de sua população com uma dose, enquanto a taxa em
um lugar como a Guiné
é inferior a 1% e não muda.
Se essas desigualdades gritantes no acesso às vacinas
continuarem, levará pelo menos dois anos para que os países mais pobres do
mundo, que não podiam se dar ao luxo de competir pelas primeiras doses das
vacinas, imunizem a
maioria de suas populações . E estamos no caminho certo por
um longo período em que as pessoas nos países ricos desfrutam dos benefícios e
segurança de serem totalmente imunizadas, enquanto as pessoas nos países mais
pobres continuam a adoecer e morrer por causa do coronavírus.
“Isso não é apenas inescrupuloso, mas também vai contra os
interesses dos países de alta renda”, disse à Vox
o professor de direito da saúde global de Georgetown, Lawrence
Gostin, em
janeiro . Com o vírus continuando a circular e as variantes
acelerando ao redor do globo, surtos nos países mais pobres representarão uma
ameaça para o mundo.
Para saber mais sobre as causas do problema e como as
desigualdades são incorporadas ao sistema de fabricação de vacinas, confira
nosso novo vídeo Vox e continue lendo.
Os países mais ricos tinham uma vantagem de tribunal de
casa para desenvolver vacinas
Não é por acaso que muitas das primeiras vacinas Covid-19
aprovadas no mundo - de empresas como Pfizer, AstraZeneca e Moderna - foram
desenvolvidas e implementadas em países de alta renda. Quando a pandemia
se espalhou no ano passado, as nações mais ricas - incluindo os EUA, Reino
Unido e bloco da UE - começaram a fazer acordos com as empresas farmacêuticas
que estavam desenvolvendo vacinas Covid-19, que também estavam sediadas dentro
de suas fronteiras.
Esses acordos bilaterais envolveram os governos
essencialmente dando às empresas bilhões de dólares para acelerar a pesquisa e
o desenvolvimento em troca de acesso prioritário às vacinas, caso se mostrassem
eficazes. Mas os acordos também empurraram os países mais pobres, que não
tinham recursos para pré-comprar milhões de doses de vacinas que poderiam nem
mesmo ser aprovadas para o mercado, mais adiante na linha de acesso.
Em maio de 2020, por exemplo, o governo dos Estados Unidos
deu à AstraZeneca
US $ 1,2 bilhão por 300 milhões de doses - uma vacina Covid-19 que
ainda não foi aprovada nos Estados Unidos. Isso foi apenas um de
muitos. Em janeiro de 2021, os países ricos já haviam comprado
antecipadamente 96
por cento das doses que a BioNTech / Pfizer estava programada para
fazer para o ano, enquanto 100 por cento do fornecimento da Moderna era
negociado. E a UE agora parece pronta para finalizar um acordo de 1,8
bilhão de doses com a Pfizer.
Juntos, os primeiros acordos cobriram as populações dos
países ricos muitas vezes no caso de algumas das vacinas falharem. Em
março, o Canadá havia garantido vacina suficiente para cinco
vezes sua população , e os Estados Unidos compraram pelo
menos o dobro da quantidade de vacina necessária. Em termos
de doses administradas, embora os países de alta renda abriguem 16%
da população mundial, eles distribuíram 46% do bilhão
de doses da vacina Covid-19 já administradas. Os países mais
pobres, que abrigam 10% da população mundial, distribuíram apenas 0,4% das
doses, de acordo com Our World In Data ,
e os países de renda média baixa, com 40% da população mundial, 19% das doses.
“[Como] os fabricantes de vacinas estão sediados em países
de alta renda e [as vacinas são] desenvolvidas lá em sua maior parte, muitas
das que chegaram primeiro na linha de chegada eram de países de alta renda e,
por causa disso, eles tinham uma vantagem no tribunal de casa ”, disse Andrea Taylor ,
pesquisadora do Duke Global
Health Institute que tem analisado os negócios.
Países produtores de vacinas têm usado controles de
exportação para acumular suprimentos
Por meio dessa vantagem do tribunal interno, os países mais
ricos não apenas garantiram a prioridade - eles também usaram as restrições à
exportação para controlar o fornecimento de vacinas e as doses que saem de suas
fronteiras.
Em 16 de abril, por exemplo, o chefe do Serum Institute of
India - o maior produtor mundial - acessou
o Twitter para pedir ao presidente Joe Biden que suspendesse os
embargos às exportações de matéria-prima que estavam atrapalhando a produção de
vacinas por lá:
Respected @POTUS, if we are to truly unite in beating this virus, on behalf of the vaccine industry outside the U.S., I humbly request you to lift the embargo of raw material exports out of the U.S. so that vaccine production can ramp up. Your administration has the details. 🙏🙏
Os países ricos minaram a Covax, grupo global criado para
fornecer vacinas aos pobres do mundo
O acúmulo de vacinas aconteceu em paralelo com um esforço
multilateral sem precedentes para apoiar o desenvolvimento e distribuição
equitativa de 2 bilhões de doses de vacinas Covid-19 para os países mais pobres
do mundo antes do final de 2021, chamado Covax.
A iniciativa tem duas partes: um pool de compras para os
países de renda mais alta e um esforço de arrecadação de fundos para os países
mais pobres. Com a promessa de comprar um certo número de doses de vacinas
dos fabricantes, os países que aderem obtêm acesso a quaisquer vacinas
aprovadas no portfólio da Covax, ao mesmo tempo que criam um
mercado global para as vacinas e reduzem os preços.
Mais de 190
países assinaram - incluindo os ricos. “A Covax estava
tentando criar uma realidade - eles atraíam os melhores anjos de todos os
países”, disse Saad Omer, diretor do Instituto de Saúde Global de Yale.
Mas os acordos bilaterais tiraram muito poder da Covax. Os
países ricos “querem ter as duas coisas”, disse Gostin. “Eles se juntam à
Covax para que possam se proclamar bons cidadãos globais e, ao mesmo tempo,
roubar da Covax sua força vital, que são as doses de vacina”.
Resultado: a Covax, de acordo com a Duke, entregou apenas
uma em cinco das doses esperadas até o final de maio.
Existem outros gargalos que nem mesmo a renúncia de
patentes pode consertar
Alguns
sugeriram que os fabricantes de vacinas da Covid-19 deveriam renunciar
às suas patentes , tornando possível que mais fabricantes se
tornassem online e produzissem vacinas. Mas isso é apenas parte da solução
para a desigualdade da vacina, disse Taylor. “Sabemos que há capacidade de
fabricação que não está sendo usada.”
Isso se deve a outro gargalo que surgiu nos últimos
meses. Os fabricantes de vacinas têm relatado que estão lutando para
acessar os suprimentos básicos necessários para fabricar vacinas com segurança. Por
exemplo, houve relatos de que os filtros
usados no processo de fabricação e grandes
sacos plásticos (para revestimento de biorreatores, onde
ingredientes farmacêuticos são misturados) ficaram escassos. Não está
claro o quão grande é esse problema - não temos dados sistemáticos sobre a
escassez global - mas muitos fornecedores e até mesmo países citaram essa
escassez como um motivo para atrasos.
As empresas não podem simplesmente recorrer a qualquer
pessoa para atender às suas necessidades - elas só podem usar fornecedores
qualificados que atendam aos padrões globais definidos por reguladores como a
US Food and Drug Administration. Esses fornecedores vendem produtos que
foram examinados por meio de estudos que comprovam que suas sacolas plásticas,
por exemplo, não vazam toxinas para as vacinas ou causam reações alérgicas.
“Esses testes levam tempo - são meses de estudos de
laboratório e estudos em animais”, disse Matthew Johnson, diretor associado do
Duke Human Vaccine Institute. Portanto, mesmo as empresas que poderiam se
empenhar na produção dos produtos de vacinas em falta precisariam de tempo para
estudá-los e garantir a segurança.
Há outro problema que as dispensas de IP não podem resolver:
a transferência de tecnologia, de um fabricante de vacinas para outro, envolve
o compartilhamento de segredos comerciais, know-how e até mesmo pessoal
treinado. As empresas que atualmente fabricam as vacinas Covid-19 “podem
não ter de 20 a 40 pessoas para enviar a esses outros locais” para ajudar os
novos produtores a se atualizarem, acrescentou Johnson. Portanto, embora a
isenção de patentes ajude, é apenas parte da solução.
Vacinar o mundo não precisa demorar tanto - os países
ricos podem agir agora
Ainda assim, não é certo que levará anos para vacinar o
mundo contra a Covid-19. Existem maneiras de acelerar o processo.
Os países ricos poderiam doar mais doses aos países mais
pobres - uma medida que grupos globais de saúde vêm pedindo há meses e que está
começando a acontecer
em resposta à crise na Índia .
Os países ricos também poderiam simplesmente começar a
investir mais para ajudar os países mais pobres a responder à crise. Eles
poderiam atender ao
apelo da Covax por mais fundos de doadores , por exemplo. Ou
Omer pediu algo semelhante ao PEPFAR ,
o programa de saúde global da América para combater a AIDS em todo o
mundo. Lançado sob George W. Bush em 2003, até o momento, forneceu US $ 90
bilhões para o combate à AIDS.
“Parece alto, mas o custo para todos, incluindo os países de
alta renda, é enorme a cada mês ou semana que passa em que haja transmissão em
todo o mundo”, acrescentou Omer. “O que está acontecendo na Índia pode
acontecer em outras grandes parcelas da população e isso deve preocupar a todos
nós.”
Ativistas de diferentes continentes protestam contra
brasileiro e criticam atuação no combate à pandemia
Solidariedade internacional: Brasileiros se manifestam em
Paris contra políticas do governo Bolsonaro - Foto: Reprodução/Internet
Com o objetivo de denunciar a política de morte promovida
pelo governo Bolsonaro durante a pandemia, dezenas de coletivos e militantes
protagonizam o 1º dia da Mobilização Internacional Bolsonaro Genocida neste
domingo (25).
Protestos contra o presidente ocorrem em cidades de 16
países e foram organizados pela Frente Internacional Brasileira (Fibra), iniciativa
que reúne brasileiros progressistas ao redor do mundo.
“É a militância internacional e nacional denunciando o
culpado pelo genocidio do povo brasileiro: Bolsonaro. Bolsonaro é genocida sim!
E o mundo precisa saber disto!”, diz o texto de convocação oficial para a
mobilização nas redes sociais da Fibra.
Os organizadores dizem, ainda, que esta é a primeira
manifestação de uma série de atos que estão por vir. Foram registradas
mobilizações em 36 cidades.
Após organizarem um tuitaço às 11h com a #BolsonaroGenocida,
os ativisitas marcaram uma live neste domingo, às 13h, para falar sobre o
contexto brasileiro. A transmissão ao vivo será no programa
“Vozes de Fibra” e pode ser acompanhada pelo canal do Youtube e outras redes sociais da
frente.